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Criança também tem gastrite e úlcera. H. pylori: um dos vilões

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Uma bactéria denominada Helicobacter pylori, que pode ser encontrada na superfície do estômago, desempenha um papel crucial nas causas de gastrites e úlceras de adultos e crianças. Essa bactéria foi descoberta em 1983 por dois pesquisadores australianos, Barry Marshall e Robin Warren, e rendeu a eles o prêmio Nobel de Medicina em 2005. Essa importante descoberta mudou o conceito das gastrites e úlceras, que deixaram de ser uma doença crônica, causada exclusivamente pelo ácido clorídrico do estômago, e passaram a ser tratadas com antibióticos e inibidores de secreção ácida. 

Atualmente o Helicobacter pylori acomete aproximadamente metade da população mundial, mas é mais freqüente nos países emergentes. A maioria das infecções é contraída na infância. A forma de transmissão da doença é incerta ainda, mas pode ocorrer por via oral-oral ou oral-fecal. A infecção pode ser sintomática ou não. Os sintomas da gastrite por Helicobacter pylori na criança são incaracterísticos e comuns a várias outras doenças da infância. A criança pode se queixar de dor abdominal, às vezes náuseas e vômitos que podem ser confundidos com outros diagnósticos como gastrites causadas por medicamentos, infecções, estresse físico e mental. 

Os métodos diagnósticos desenvolvidos para se diagnosticar a infecção pelo Helicobacter pylori podem ser invasivos ou não. Os invasivos baseiam-se no exame direto dos fragmentos de mucosa gástrica, colhidos por biópsias, quando se realiza endoscopia digestiva alta. Os não invasivos se baseiam em respostas imunológicas e na detecção de antígenos fecais. 

Nem toda criança com Helicobacter pylori deve ser tratada. As principais indicações de tratamento são úlcera gástrica e/ou duodenal, anemia ferropriva que não responde ao tratamento convencional, crianças com a infecção e pais ou parentes de primeiro grau com história de câncer gástrico. O tratamento não é indicado nas crianças com dor abdominal recorrente.

Vários esquemas terapêuticos são utilizados para tratar a infecção pelo Helicobacter pylori. A terapia tripla que combina o inibidor de bomba de prótons associado a antibióticos é a mais utilizada. Porém, a eficácia dessa terapêutica vem nos mostrando uma redução progressiva de erradicação, devido à crescente incidência de resistência aos antibióticos. Portanto, o pediatra, juntamente com o gastroenterologista pediátrico, vão decidir qual é a melhor forma de se diagnosticar e tratar a doença. A infecção crônica, por vários anos, e não tratada é considerada um fator de risco para o desenvolvimento do câncer gástrico.