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É grave, Dr. Google?

Buscar informações sobre saúde na internet é um hábito que parece irreversível. Conheça os riscos e as dicas para que a sua pesquisa não vire uma dor de cabeça

por Juliana Mariz ilustrações Pedro Hamdan

07/07/2011

O pediatra e homeopata Moises Chencinski costuma dizer que o dr. Google é o maior concorrente dos médicos. "Mas ele não tem consultório, não atende telefone nem responde email", observa. O alerta é oportuno diante do crescente uso da rede por leigos em busca de informações médicas. Os brasileiros estão em quarto lugar entre os países que mais buscam dados pela internet, segundo pesquisa realizada pela London School of Economics, que entrevistou 12 mil pessoas em 12 países. O estudo divulgado no início deste ano revelou que 81% das pessoas que acessam a internet buscam dados sobre médicos, remédios, diagnósticos e doenças.

Os profissionais são unânimes em dizer que a democratização da informação é positiva e irrevogável, mas fazem ponderações importantes para o bom uso desses dados. "Os sites não mostram a relevância científica de um artigo, por exemplo. Qualquer um pode publicar um texto na rede", afirma Fábio Cabar, ginecologista e obstetra, especializado em reprodução humana. Cabar está acostumado a receber pacientes bastante informados sobre sua especialidade. "É uma área que tem peculiaridades, diversos fóruns e comunidades. Não acho ruim, mas cabe ao profissional orientar."

O primordial, segundo os médicos, é buscar endereços confiáveis. "O mais importante é pesquisar em sites de instituições idôneas, como, por exemplo, as páginas eletrônicas de universidades e hospitais", afirma o ortopedista Rogério Lima. E tomar cuidado com endereços que oferecem tratamentos, dão conselhos ou vendem remédios. "Isso é ilegal e antiético", completa.

Uma preocupação pessoal do pediatra Moises Chencinski é em relação às comunidades nas quais o internauta posta uma pergunta para outros responderem. "Já vi absurdos escritos ali porque são leigos que respondem. Resolvi que vou voltar a participar dessas comunidades para esclarecer as dúvidas", afirma o pediatra, que é usuário de redes sociais e tem um completo site sobre sua carreira. O acesso ao conteúdo online sobre medicina mudou para sempre a relação entre médicos e pacientes. Muitos chegam ao consultório com páginas impressas na mão para discutir com o profissional. Segundo José Carlos Evangelista, especialista em cirurgia geral e cirurgia do aparelho digestivo, o importante é saber lidar com o fenômeno. "Mas observo que as pessoas se fixam aos aspectos negativos de um tratamento, aos efeitos colaterais, e acabam se desesperando."

A comunicadora social Wilma Madeira da Silva, da Faculdade de Saúde Pública da USP, que se debruçou sobre o tema internet e medicina em duas pesquisas realizadas em 2006 e 2010, faz uma comparação com o aprendizado infantil. "Quando uma criança começa a andar, ela corre riscos. Até firmar os pés fica cambaleando, pode cair. O mesmo acontece com pessoas que têm, hoje, mais acesso às informações sobre seu estado de saúde. Ela pode correr riscos, mas terá mais condições de dialogar."

Dicas para navegar sem traumas

• Uma pesquisa na internet não substitui a ida ao médico
• Veja quantos acessos o site tem. Um número grande de usuários significa que o endereço é relevante
• Lembre-se que medicina não é uma ciência exata e que a eficiência de cada tratamento depende de fatores individuais
• É ilegal a venda de tratamentos e remédios pela internet
• Faça pesquisas em sites de instituições, sociedades de classe, universidades e hospitais
• Checou se seu médico tem um site? De repente ali você consegue encontrar todas as informações que precisa

Sites confiáveis

Hospital das Clínicas - www.hcnet.usp.br
Associação Médica Brasileira - www.amb.org.br/teste/index.php
Conselho Federal de Medicina - portal.cfm.org.br
Escola Paulista de Medicina - www.unifesp.br/index.php
Unicamp - www.fcm.unicamp.br/fcm
Sociedade Brasileira de Pediatria - www.sbp.com.br
Unifesp – reprodução humana - www.unifesp.br/grupos/rhumana/index.html
Ministério da Saúde - www.saude.gov.br

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545