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Estudos, pesquisas, revisões – Ok. E a atitude? E as ações?

Do site da Crescer

"Há necessidade de promover o aleitamento materno na escola, educar as meninas, aumentar o engajamento para o início precoce da amamentação, uso da língua local para divulgação, criação de salas de amamentação nos locais de trabalho e aplicação da licença-maternidade de seis meses em todo o país", reforça o pediatra

por Dr. Moises Chencinski - colunista

09/09/2022

Acreditem em mim. Selecionei 6 estudos recentes que quero compartilhar. Os temas até que não são tão novos, mas são relevantes. E, ao final, depois dos resumos, na conclusão, explico o meu ponto de vista

1.    Aleitamento materno e redução de riscos de câncer de mama 
Estudo (metanálise – você já sabe o que é isso) realizado avaliando mulheres entre 2000 e 2015, mostrou que mulheres que fizeram aleitamento materno exclusivo (AME) tiveram um risco relativo 28% menor de câncer de mama quando comparadas às mulheres que nunca amamentaram. Não sendo AME, qualquer tipo de amamentação (mista, predominante etc.) mostrou risco relativo menor de 12% e 14% na pré-menopausa e pós-menopausa, de mulheres que tiveram filhos, respectivamente. Esse risco é ainda menor se a amamentação for continuada por pelo menos um ano.

2.    Fatores associados ao início precoce da amamentação
Início precoce da amamentação (1ª hora de vida) é, reconhecidamente, um sinal de boa saúde e melhor chance de amamentação, tanto para a mãe quanto para o recém-nascido. Esse estudo usou os dados mais recentes da Pesquisa Demográfica e de Saúde de 2017–2018 (4.776 incluídos na análise final) e mostrou que 61,19% das mães amamentaram precocemente seus bebês. Situação de não pobreza, parto institucional e cesariana levaram a menores chances de amamentação precoce. Ensino médio, pelo menos quatro consultas de pré-natal, peso normal ao nascer e, principalmente, contato pele-a-pele após o parto foram associados a maiores chances de início precoce da amamentação.

3.    Aleitamento materno exclusivo e suas determinantes
O AME nos primeiros seis meses de vida é uma meta global de saúde pública firmemente ligada à diminuição de doenças e de mortalidade em lactentes e crianças menores de 5 anos de idade, especialmente em países de baixa renda. O objetivo deste estudo foi avaliar o que pode influenciar a duração do aleitamento materno exclusivo. Os dados coletados entre novembro de 2019 e maio de 2020, com 503 indivíduos selecionados, constatou que mais de 90% das mães sabiam da importância do AME, mas apenas 38% conseguiam praticar. Nesse estudo, ser casada foi fator de proteção enquanto a escolaridade superior da mãe foi fator de risco para não adesão ao AME, quando comparadas àquelas com escolaridade básica ou sem escolaridade. A sensibilização contínua é recomendada para promover o AME.

4.    Por que aleitamento materno precoce e exclusivo são importantes?
De acordo com a Pesquisa por Agrupamento de Indicadores Múltiplos de 2021 / Relatório da Pesquisa Nacional de Cobertura de Imunizações, duas em cada 10 crianças recém-nascidas (23%) são amamentadas dentro de uma hora após o nascimento e a taxa de AME em crianças menores de 6 meses é de 34%.O início precoce do aleitamento materno é maior entre as crianças cujas mães têm ensino superior/superior (27%) do que entre aquelas cujas mães não têm escolaridade (19%). Há necessidade de promover o aleitamento materno na escola, educar as meninas, aumentar o engajamento para o início precoce da amamentação, uso da língua local para divulgação, criação de salas de amamentação nos locais de trabalho e aplicação da licença maternidade de seis meses em todo o país, entre outros.

5.    Revisão sobre fatores que afetam amamentação em espaços públicos
A amamentação em público ainda é um desafio para as mães em todo o mundo. Esta revisão sistemática (lembra disso?), com estudos de 2013 a 2018, buscou resumir os fatores que afetam a amamentação em espaços públicos globalmente. Os estudos incluídos foram revisados ​​e abordados em quatro temas: falta de apoio, sexualização das mamas, mídia e cultura. Os achados indicaram que as mães não têm apoio para amamentar em espaços públicos, o que constitui uma barreira ao AME. Assim, o foco principal deve ser a educação dos membros da comunidade sobre as vantagens do aleitamento materno para apoiar, incentivar e promover o aleitamento materno sempre e onde quer que seja, inclusive em espaços públicos.

6.    Um estudo transversal sobre a prática da amamentação cruzada
Esse estudo, feito com 100 mulheres, mostrou que 43% já haviam amamentado pelo menos um filho de outra mãe e 3% amamentavam de 7 a 10 crianças, perfazendo um total de 237 crianças amamentadas por esse grupo de mães. A maioria dessas mães registrou esses dados, o que demonstra o conhecimento da população sobre a importância de sua documentação e, indiretamente, comprova que as autoridades devem agir sobre essa situação atual.

Cada uma das seis publicações poderia ter sido escrita sobre situações dos Estados Unidos, Europa, Austrália, Japão, Brasil ou qualquer lugar do mundo. Mas, foram feitos com metodologia nos seguintes países:

1- Líbia / 2- Bangladesh / 3- Camarões / 4- Nigeria / 5- África do Sul / 6- Malásia

Então, avaliando e comparando nossos dados do ENANI-2019:

-Amamentação na 1ª hora de vida: 62,4%.
-AME
em crianças abaixo de 6 meses: 45,7%.
-AME em crianças aos 6 meses: 1,3%.
-Legislação sobre amamentação em público: aguarda parecer desde 02/09/2021.
-Estimados 66.280 casos novos de câncer de mama), o mais incidente e mulheres de todas as regiões, no Brasil (43,74 casos por 100.000 mulheres – INCA – 23/08/2022), o mais incidente e mulheres de todas as regiões do país.
-Amamentação cruzada: 21% no Brasil (uma em cada 5 mães), com 34% na Região Norte.

Se você olhar mais atentamente, temos, aqui no Brasil, nossas Libias, Bangladeshes, Camarões, Nigérias, Áfricas do Sul e Malásias. Ou será que somos tão diferentes?

⁠A informação gera a ação e a desinformação gera a conformação.
Frase atribuída a Georg Wilhelm Friedrich Hegel (filósofo alemão - 1770-1831).

A informação está aí. Vamos agir?

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545