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Para “a mãe que deseja amamentar”

Do site da Crescer

O pediatra, Dr. Moises Chencinski, fala um pouco sobre os desafios, necessidades e deixa um recado especialmente para as "mães que desejam amamentar"

por Dr. Moises Chencinski - colunista

04/12/2022

Minha última matéria aqui foi publicada há mais de 10 dias. Não me lembro de ter demorado tanto assim para escrever um texto para a coluna desde o seu início, em 2.019. 

Preguiça? Falta de ideias? Não tem mais novidades sobre leite materno ou a amamentação? Nenhuma pesquisa ou descoberta sobre o tema? Nenhuma ação da indústria de substitutos de leite e de seios maternos ou de seu marketing para influenciar cada “mãe que deseja amamentar”, mas estão sensíveis e vulneráveis, em busca de lucro?

Temos, sempre tivemos tudo isso e, está mais constante desde o dia 1º de janeiro de 2.022 (se falarmos só desse ano). E chegamos em dezembro. Ufa. Que sufoco, né? E eu pensando em algo para dizer, para acolher, para acalentar a “mãe que deseja amamentar”.

A eleição, que polarizou e remexeu os ânimos do país, já teve seu resultado. Muita gente feliz, muita gente revoltada e triste, muita gente em dúvida sobre o futuro do Brasil. Aí, chega a Copa do Mundo. Política sai do foco (cuidado) e os olhos, ouvidos e corações se voltam para o Catar e para a seleção brasileira.

E assim, de evento em evento (Natal e Ano Novo estão logo aí), nossas atenções são carregadas de um lado para o outro, enquanto a vida...

A vida é o que acontece com a gente enquanto estamos ocupados fazendo outros planos”. Essa frase atribuída a Allen Saunders, em 1957, um escritor, jornalista e cartunista americano, originou o trecho da canção Beautiful Boy (Darling Boy), de John Lennon, uma música que ele compôs para seu filho Sean (com Yoko), e que está no álbum Double Fantasy, último lançado antes de sua morte (8 de dezembro de 1.980 – tanto tempo, né?). Vida.

E a vida da “mãe que deseja amamentar” não é fácil. E esse é um artigo dedicado a essa mãe, independentemente de ela ter conseguido o seu intento ou não, pelo tempo que é recomendado ou não, enquanto ela está ocupada e sobrecarregada fazendo outros planos.

Uma mulher planeja e idealiza (ou não):
- Engravidar (ou não);
- Ter pré-natal e uma gestação saudável (ou não);
- Ter um parto sonhado (natural, normal, cesariana, fórceps, hospitalar, domiciliar ou não).
- E amamentar (ou não).

Informações? Rede de apoio? Profissionais de saúde materno-infantil? Serviços de saúde? Maternidades? Acolhimento? Aconselhamento? Políticas públicas? Legislação?

E a (agora) mãe só deseja amamentar. Apesar de todos esses desafios, mesmo que com carências das mais diversas, mesmo sabendo que é uma contracultura, ela só deseja amamentar.

Não sei o que cada “mãe que deseja amamentar” está pensando, passando, precisando agora. Afinal, eu não amamento (escutei muito isso). Mas eu nunca me atreveria a falar de amamentação, dos sentimentos da mãe que amamenta, dos desafios de amamentar. A proposta é sempre falar sobre esses temas. E para isso: busca-se escuta ativa, empatia, sem julgamentos (aconselhamento). Provavelmente, e apesar da intenção, nem sempre se consegue.

Mario Sérgio Cortella tem um vídeo interessante em que ele aborda esse tema: a diferença (que pode parecer não tão significativa, mas vale pensar a respeito) entre “falar de” e “falar sobre”.

Segundo Cortella, filósofo, quando você “fala de”, você fala de dentro e quando “fala sobre”, você fala de fora. Assim, a mãe que amamenta fala de suas experiências, de seus desafios, de suas vivências. Por estar ao lado dessa mãe, por ter tentado sempre escutá-la e acolhê-la, por não julgá-la, a proposta deve ser falar sobre ela e suas experiências, para que sua voz possa ecoar em lugares que ela não consegue atingir, para que seus sentimentos façam sentido a quem não está habituado a ter a atenção voltada a ela, para que a sua experiência não seja sufocada por uma cultura opressora, machista e que não considera, nem sequer, sua existência.

Ser mãe, não é padecer no paraíso.

Numa dessas “viagens” pelas redes sociais, vi um vídeo que me tocou e que, talvez, seja a mensagem que eu gostaria de transmitir nesse texto, para cada “mãe que deseja amamentar”, e que, em algum momento de sua vida, teve questionada a sua força ou o seu empoderamento.

É uma conversa em que Cristopher Robin fala para o Ursinho Pooh, em cima do galho de uma árvore (não se deixe levar pela aparente inocência):

Se houver alguma vez um amanhã, em que nós não estejamos juntos, há algo que você deve se lembrar:

Você é mais corajoso do que você acredita
Você é mais forte do que parece
E mais inteligente do que você pensa."

Se puder, com a licença do autor, complementar esse pensamento, gostaria de expandir essa mensagem não só para a “mãe que deseja amamentar”, mas a todas as mães e mulheres, com carinho, admiração e respeito.

Você é mais corajosa do que o mundo quer te fazer acreditar
Você é mais forte do que o mundo quer te fazer parecer
E mais inteligente do que o mundo quer fazer você pensar.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545