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Check-up desde cedo

Da Revista Crescer - Por uma Infância Mais Saudável - edição - nº 248 - julho/2014 - pgs. 66 a 72

Esqueça aquela historia de que médico só é necessário ao sinal de tosse ou dor. Manter uma rotina de consultas, da maternidade à adolescência, é importante para deixar a saúde em ordem, antecipar diagnóstico e esclarecer as maiores dúvidas sobre o desenvolvimento dos filhos.

Por por Andressa Basilio

Matteo estava prestes a completar 3 anos quando teve que encarar uma difícil missão: ser examinado pelo pediatra, algo que ele não gostava nada. “E fazia pouco tempo desde a ultima consulta, mas eu queria saber tudo que iria mudar nessa nova fase. Sigo as orientações à risca e sempre que tenho duvidas, ligo”, conta a atriz Juliana Neves, 34, também mãe de Luca, 6. O problema é que nem todos pensam assim, uma queixa comum entre os especialistas é que os pais abandonam as consultas de rotina e passam a tratar os filhos apenas ao sinal de sintomas. Aí por melhor que seja o atendimento, o pediatra não conhece a criança e o histórico familiar, o contato fica impessoal e revolve só o que é imediato.

“Muitas vezes, a consulta coincide com o calendário de vacinação. Quando as vacinas começam a ficar mais espaçadas, os pais acham que já podem tomar conta da saúde de seus filhos sozinhos e se esquecem de fazer o acompanhamento periódico”, afirma o pediatra Adauto Dutra Morais Barbosa, do Departamento Cientifico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Mas essa falta das visitas de rotina pode trazer riscos à saúde dos pacientes.

Uma pesquisa encomendada pela Academia Americana de Pediatria e feita com 20 mil crianças mostrou que, quando os pais substituem as consultas rotineiras ao pediatra por atendimentos pontuais, as crianças correm duas vezes mais risco de serem hospitalizadas. As chances aumentam em caso de doenças crônicas, como asma e problema de coração. Isso porque as famílias que deixam de lado as consultas também estão perdendo a oportunidade de intervenção preventiva e detecção precoce de problemas, como aconteceu com Mathias, 11 anos. Não fossem as visitas semestrais ao medico, dificilmente o hipotireoidismo seria descoberto a tempo de evitar déficit de crescimento. “É uma doença genética,  minha avó tinha e minha irmã tem, mas a gente nem lembrou que nosso filho(na época com 7 anos) corria risco. Foi o pediatra que pediu um exame de sangue e descobriu o problema hormonal”, conta a mãe, a psicóloga Claudia Serathiuk,42.

Segundo a pediatra Anete Colucci, da Unifesp, ter informações dos familiares próximos, ou seja, pais, avós, tios, primos de primeiro grau, além de todo o histórico gestacional e do nascimento, é fundamental para que o médico avalie os riscos de a criança desenvolver problemas futuros, ainda que não consiga evitar manifestações de doença. “Há problemas, como síndromes ou transtornos psiquiátricos de origem genética, que só são detectados quando o quadro se manifesta. Já outros, como obesidade, podem ter seu diagnostico e o tratamento antecipados.”

É por isso que os especialistas precisam se manter atualizados sobre a saúde e o desenvolvimento do seu filho até o início da adolescência (isso mesmo!). E essas consultas são boas para você também, que deve aproveitar para esclarecer todas as dúvidas, além de trocar informações. Descubra mais sobre qual deve ser essa frequência e o que costuma ser avaliado em cada check-up.

ATÉ 2 DIAS - O BASICO DO BEBÊ

O check-up, na verdade, deve começar antes mesmo de o bebê nascer. O pediatra e homeopata Moises Chencinski, do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), esclarece que a mãe precisa fazer um pré-natal adequado, com os exames corretos e um preparo para o parto normal, com vacinas atualizadas. Logo depois do nascimento, ele passa por um exame chamado Apgar. Realizado duas vezes nos primeiros cinco minutos de vida, o objetivo é avaliar a vitalidade do bebê através da medição da frequência cardíaca, respiração, tônus muscular e dos reflexos. As primeiras imunizações, as vacinas BCG e hepatite B, são dadas já nos primeiros momentos de vida. Ainda no período de 48 horas depois do nascimento, ele deve passar pelos seguintes exames, todos obrigatórios e oferecidos pelo SUS, com exceção do teste da linguinha, só oferecido na rede particular e que geralmente entra no valor pago pelo pacote do parto e não tem um preço individual.

*Teste do pezinho: Uma picadinha no calcanhar pode detectar precocemente um leque de doenças congênitas, como anemia falciforme, fibrose cística e hipotireoidismo. O exame é tão importante que tem até data comemorativa, 6 de junho, instituída pelo Ministério da Saúde. A diretriz é para que ele seja realizado entre o terceiro e o sétimo dia de vida. Antes disso, as disfunções podem passar despercebidas e, depois há o risco de agravamento das doenças. Se o teste não for feito na maternidade, leve seu filho à unidade básica de saúde mais próxima para efetuar a coleta do sangue.

*Teste da orelhinha: Com um aparelho especifico, o fonoaudiólogo pode diagnosticar deficiências auditivas que, quando descobertas cedo, permitem a melhor conduta médica.

*Teste do olhinho: Esse exame indolor é feito com um oftalmoscópio. O aparelho emite uma luz que produz uma cor avermelhada e continua nos olhos saudáveis e, com isso, descarta a presença de tumores e cataratas.

*Teste do coraçãozinho: Uma pulseira é colocada no pulso e no calcanhar da criança para medir a oxigenação no sangue, o que confirma se o coração está trabalhando normalmente.

*Teste da linguinha: No inicio de junho, o Senado aprovou o projeto de lei que garante a realização do exame nas maternidades e nos hospitais – ele identifica se o bebê tem dificuldade de sucção durante a mamada. Até o fechamento desta edição, o projeto não havia sido sancionado. O procedimento, porém, já é praxe em muitos estabelecimentos privados. Ao observar a mamada, o especialista consegue perceber se há alteração no frênulo (ou freio da boca) do bebê que, além de dificultar a amamentação e provocar dor e fissura nos seios da mãe, pode causar, posteriormente, alterações na fala. Quando detectado o problema, a criança passa por uma pequena cirurgia de correção.

É importante ressaltar que, dependendo do histórico da gestação, das condições no nascimento, do resultado das observações e dos primeiros testes, outros exames podem ser solicitados pelos médicos para garantir a saúde do seu filho.

NO 1º MÊS - COMEÇO DE ROTINA

Após sair da maternidade, é aconselhável que a mãe não espere mais que sete dias de vida da criança para levá-la ao pediatra, como explica Anete: “Nesse contato, o especialista avalia o ganho de peso, se há icterícia (pele amarelada), o aleitamento materno e a relação dos pais e bebê”. Escutar o coração, checar a cicatrização do cordão umbilical e medir a circunferência da cabeça são outras avaliações feitas pelo pediatra.

Com 15 e com 30 dias deias de vida pode ser necessário um retorno para que o especialista refaça algumas medicações e acompanhe mais de perto a evolução do recém-nascido. Depois desse período, a recomendação da SBP é para que a consulta de puericultura seja feita mês a mês ao longo do primeiro semestre.

ATÉ O 1º ANO - MEDIÇÕES NECESSÁRIAS

Dos 6 aos 12 meses, salvo condições especiais, os pais já podem espaçar as consultas a cada dois meses. Nesse período, o pediatra avalia o peso – que no fim do primeiro ano deve ser o triplo do nascimento – e o crescimento da criança, de acordou com os padrões específicos estipulados pela Organização Mundial da Saúde. Além disso, é hora de observar importantes marcos do desenvolvimento, como sentar-se sem apoio, arrastar-se, ficar em pé sem precisar se segurar e, finalmente, os primeiros passos. Vale lembrar que é nessa fase que o seu bebê vai começar a comer papinhas e outros líquidos. Por isso, é muito importante tirar todas as dúvidas sobre o tema com o pediatra e, se possível, procurar um nutricionista infantil.

        Outro profissional a procurar, mais especificamente entre o sexto e o oitavo mês, é o odontopediatra. “Assim que nasce que nasce o primeiro dente, a gente recomenda que a mãe procure o especialista, que vai orientar sobre a melhor maneira de escovação e higiene”, diz Chencinski.

 

RITMO DE CONSULTAS RECOMENDADAS PELA SBP

1º ao 6º mês CONSULTAS MENSAIS 
6º ao 12º mês CONSULTAS BIMESTRAIS
1º ao 2º ano CONSULTAS TRIMESTRAIS
Dos 2 aos 5 anos CONSULTAS SEMESTRAIS
A partir do 5º ano CONSULTAS ANUAIS

 

 

 

 

 

 

 

DE 1 ANO EM DIANTE - VISITAS MAIS ESPAÇADAS

Após o primeiro ano, o ideal é que a visita ao pediatra aconteça de três em três meses. Além de acompanhar as novas conquistas da criança, como andar e falar, pode ser que o médico solicite alguns exames específicos para descartar doenças. A anemia é a principal delas. , No Brasil, a prevalência do problema é de ordem de 20% em crianças e adolescentes, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher. Por isso, pode ser que o pediatra peça um exame de sangue simples para medir a concentração de ferro no sangue.

A partir dos 2 anos , quando as consultas devem ser semestrais, o check-up engloba uma visita ao oftalmologista pediátrico, que deve ser repetida por volta dos 4 anos, quando o seu filho já está na fase da pré-alfabetização. Também aos 4 anos, crianças cujos pais são obesos ou têm altos níveis de colesterol ruim (LDL) já precisam fazer um hemograma para avaliar possíveis desequilíbrios. As outras crianças só fazem esses exames se o pediatra julgar necessário. É nessa fase ainda que os exames de urina e fezes, além dos de sangue, ficam mais frequentes para afastar os riscos infecções, perda de proteínas, diabetes e possíveis alterações hormonais e, de novo, quem determina quando fazer ou com que frequência repetir é o seu pediatra, com base no histórico de saúde do seu filho e da sua família. Por isso a importância da consulta individualizada, detalhada e com muito diálogo entre cuidadores e profissionais da saúde.

Vale lembrar que, após a entrada do seu filho na escola, é interessante marcar uma visita ao especialista, já que ele passará a conviver com muitas crianças e o risco de desenvolver problemas de saúde aumenta. E tenha em mente que todas essas recomendações são válidas para o acompanhamento de uma criança saudável, ou seja, sem qualquer problema físico, psíquico, alimentar ou neurológico. Caso contrário, a frequência de consultas deve acontecer conforme a necessidade.

NO CONSULTÓRIO, PODE ACONTECER DE O SEU FILHO...

*Começar a chorar descontroladamente. Não precisa ter vergonha! Esse comportamento é normal e o pediatra está acostumado a lidar com essas situações. Muitas vezes ele faz graça ou tem brinquedos à disposição para amenizar o choro. Em casa, você também pode fazer a sua parte e, de acordo com o entendimento de cada criança, comprar livros para o seu filho e explicar que o médico é uma pessoa boa, que ajuda a cuidar da nossa saúde.

*Ficar impaciente na sala de espera. Você também não gosta de esperar o seu médico, não é mesmo? Invista nas distrações: um livro que ele goste, um jogo que o entretenha e, se você estiver desprevenida, uma brincadeira de adivinhar pode ser um ótimo passatempo.

*Não se dar bem com o pediatra. Existe médico bonzinho, sério, bem-humorado, mais ríspido. O ideal é que os pais procurem um que tenha o perfil parecido com o da família. Se durante as consultas você notar uma falta de tato do especialista, pode ser a hora de procurar outro. Afinal, você e seu filho vão conviver com ele por muito tempo.