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Menos sal. Menos sódio. Menos hipertensão.

Da Revista Materlife - nº 99

Entre as doenças de adultos que estamos enfrentando na infância, uma delas é muito problemática por ser silenciosa e não diagnosticada a contento mesmo pelos próprios pediatras: a hipertensão arterial.

Vários são os fatores de risco atualmente que favorecem a escalada da hipertensão:

• A não medida rotineira da pressão arterial em crianças acima de 2 anos de idade (pelo menos);
• A alimentação inadequada a que estão submetidas as crianças, onde, além de altos teores de gordura e açúcar, ocorre uma sobrecarga importantíssima em todas as faixas etárias: o excesso de sódio*.
• O aumento da incidência de síndrome metabólica (obesidade, dislipidemia, diabetes tipo 2 e hipertensão) com fatores que favorecem a alta incidência da patologia.

O sal, o sódio e a alimentação

No Brasil, o sal é um dos temperos mais usados nos alimentos, mesmo que eles já contenham grandes quantidades de sódio. O que falta é o conhecimento da quantidade de sódio presente em cada alimento.Engana-se quem pensa que o sódio só é encontrado em alimentos salgados. Muitos alimentos doces também apresentam alto teor de sódio em sua composição.

Além de aumentar a taxa de sódio, o processamento dos alimentos diminui a taxa de potássio de sua composição. O potássio age como protetor da função cardíaca e deve ser consumido, segundo as diretrizes atuais da OMS, na taxa de 3.500mg ao dia. 

Entre os alimentos ricos em potássio, podemos citar feijão e ervilhas (1.300mg/100gr), nozes (600mg/100gr), vegetais como espinafre, repolho (550mg/100gr), frutas como banana, papaia (300mg/100gr). Assim, não adianta comer uma ou duas bananas para se proteger contra câimbras, durante uma atividade física. 

O que mostram os estudos sobre o sódio

Estudo publicado no Pediatrics, em 2012, relaciona a ingestão de sódio e o risco de hipertensão em 6.235 crianças e adolescentes norte-americanos, de 8 e 18 anos, entre 2003 e 2008. O consumo médio diário era de 3.387 mg e 37% da amostragem estava com sobrepeso / obesidade. Concluiu-se que a ingestão de sódio elevada está associada ao maior risco de pré-HAS /HAS dentro desse grupo e que esse quadro fica mais grave entre as crianças com sobrepeso / obesidade.

Outro artigo aceito em agosto de 2012, publicado em janeiro de 2013, no Pediatrics correlaciona o uso de sal, bebidas adoçadas com açúcar e risco de obesidade em 4280 crianças e adolescentes entre 2 e 16 anos, através de um recordatório alimentar de 24 horas, realizado na Austrália. Esse estudo demonstrou que quanto maior o consumo de sal, maior o consumo de bebidas adoçadas e, com isso, maior risco de obesidade.

Mas nem o sódio escapa dos "falsos mitos". Em 2012, levantamento realizado em 284 crianças e jovens, entre 10 e 17 anos de idade, da Casa do Adolescente de Pinheiros ligada à Secretaria de Estado da Saúde, mostrou que 25% deles já apresentava quadro de HAS associada ao alto consumo de sódio, através de macarrão instantâneo, lanches, alimentos industrializados e refrigerantes.

Mesmo sendo contra o uso de refrigerantes por inúmeras razões, aqui há um erro grave de avaliação. Um litro de refrigerante tem menos de 100 mg de sódio e se for diet (que tem mais sódio) aí tem 150 mg. Retirar o refrigerante da dieta é uma atitude saudável, mas sem nenhuma relação com hipertensão.

Organização Mundial de Saúde e suas recomendações

A OMS estabeleceu diretrizes (guidelines) normatizando o consumo máximo de 2.000 mg de sódio, ou 5 gramas de sal, ao dia, bem como um limite mínimo de 3.510 mg de potássio ao dia. 

Altos níveis de sódio e baixos níveis de potássio no sangue são fatores de risco que podem causar aumento de níveis de pressão levando a risco cardíaco aumentado e até infarto.

Em agosto de 2.012, o Ministério da Saúde (MS) e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA) assinaram um acordo para a redução dos teores de sódio na fabricação de temperos, caldos, cereais matinais e margarinas vegetais, com a expectativa da redução de quase 9 toneladas de sódio do mercado até 2.020.

Essa já é a terceira fase do acordo MS / ABIA com a intenção de diminuir o consumo de sal dos adultos. Anteriormente, já foi acordada a redução de sódio de macarrões instantâneos, bisnagas, pão de forma, pão francês, mistura para bolos, salgadinhos de milho, batata frita, biscoitos e maionese.

A hipertensão arterial é a principal causa global de óbito e incapacidade mundial, segundo o diretor do Departamento de Nutrição para Saúde e Desenvolvimento da OMS, Dr. Francesco Branca. Segundo ele, também, essas são recomendações para crianças acima de 2 anos de idade e esse é um fator crítico, pois crianças hipertensas geralmente se transformam em adultos hipertensos.

Orientações gerais para controle do sódio e da hipertensão arterial

Algumas dicas são sempre importantes para evitar o alto consumo de sal e incrementar o de potássio:

• Aleitamento materno exclusivo, em livre demanda, desde a primeira hora de vida até 6 meses de idade, estendido até pelo menos 2 anos;
• Introdução de alimentação complementar a partir do 6º mês, sem que se use sal de adição nos alimentos (não usar o sal como tempero). Assim, devemos chamar essas refeições de alimentação complementar (AC) ou de almoço e jantar. Evitar os termos papinha salgada (para se contrapor à papa doce – frutas – introduzida inicialmente);
• Seguir as recomendações da OMS quanto ao consumo máximo de 2.000 mg de sódio ao dia (menos se pensarmos em crianças) ou menos de 5 gramas de sal de cozinha ao dia;
• Evitar o uso de alimentos industrializados em crianças abaixo de 3 anos de idade. Lembrar que mesmo alimentos doces (industrializados) podem conter altos teores de sódio;
• Incentivar a atividade física assim que possível, evitando o sedentarismo, brincando com as crianças fora de casa o máximo possível, fortalecendo o vínculo familiar;

Sódio 

Para quem não se lembra das aulas de química, o sal de cozinha é o cloreto de sódio. O sal de cozinha e o sódio, apesar de serem usados como se fossem iguais, são elementos distintos. O sódio não aparece apenas como componente do sal e, independente de sua associação, tem o poder de afetar a função renal e aumentar nossa pressão arterial. Ciclamatos e sacarina (adoçantes), glutamatos (temperos tipo shoyu), nitratos e nitritos (conservante na fabricação de derivados do leite, enlatados, embutidos - linguiça, salsicha, presunto, mortadela, salame, rosbife – e outros produtos cárneos, em que age também como fixador de cor), bicarbonatos entre outros compõem o painel de compostos com sódio na nossa alimentação que devem ser avaliados na conta final. 

O sódio é encontrado como parte integrante de uma grande variedade de alimentos, de pequenas a imensas quantidades. Várias tabelas podem ser avaliadas. Confira:

Alimentos com quantidades de sódio < 35mg/100 gramas:
• Atum fresco (30mg/100gr), linhaça (9mg/100gr), macarrão cru com ovos (15mg/100gr), queijo minas (31mg/100gr).

Alimentos com quantidades de sódio entre 35 e 200mg/100 gramas:
• Badejo (79mg/100gr), biscoito waffer de chocolate (137mg/100gr), carnes cruas (entre 50- cupim cru sem gordura, 75mg/100gr – carne bovina crua de fígado, 100 mg/100gr - pernil cru), chocolate ao leite (77mg/100gr), farinha láctea (125mg/100gr), ovo de galinha (168mg/100gr), paçoca (167/100mg), ricota (283mg/100gr), leite de vaca integral (64mg/100gr).

Há alimentos, entretanto com taxas maiores de sódio, algumas de alto consumo com maior risco:
• O próprio atum, mas em conservas (362mg/100gr), biscoito maisena (352mg/100gr), batata chips (607mg/100gr), biscoito tipo cream cracker (854mg/100gr), leite de vaca desnatado em pó (432mg/100gr), margarina com sal (894mg/100gr).

Pior do que isso, outros tipos de alimentos processados, de grande consumo entre nós, podem ser responsáveis até por picos de exacerbação para quem já é reconhecidamente hipertenso:

• Shoyu (5.000mg ou 5gr/100gr), azeitona preta ou verde em conserva (1450mg ou 1,45gr/100gr), linguiça de frango ou de porco cruas (1.150mg ou 1,15gr/100gr), bacalhau salgado cru (13.585 mg ou seja 13,6gr/100gr de bacalhau), sal grosso (40.000mg ou 40gr/100gr), tablete de caldo de carne ou de galinha (22.000mg ou 22gr/100gr).