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Estudo encontra anticorpos no leite das mães que tomaram Coronavac: "Precisamos saber se a proteção é suficiente para os bebês", pondera especialista

Do site da Revista Crescer

A notícia é boa: mães que receberam a Coronavac continuam produzindo anticorpos contra a covid quatro meses após a segunda dose da vacina. No entanto, é preciso ter cautela. "Ainda não sabemos se essa dosagem encontrada no leite materno é suficiente para proteger os bebês. Portanto, não se deve abrir mãos de todos os cuidados básicos", alerta Moisés Chencinski, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP)

por Sabrina Ongaratto

10/06/2021

Um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Univesidade de São Paulo (USP) encontrou anticorpos contra a covid-19 no leite materno quatro meses após as mães serem imunizadas com a segunda dose da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a Sinovac, na China.

As amostras foram testadas para presença de anticorpos imunoglobulina A (IgA) em imunoensaio (ELISA), mesmos parâmetros usados pelo estudo de Israel que constatou a presença de anticorpos em lactantes que receberam a vacina da Pfizer. No total, vinte funcionárias com idades na faixa dos 35 anos, que trabalham no complexo hospitalar, participaram da pesquisa entre janeiro e fevereiro deste ano. O tempo médio de aleitamento entre elas foi de 11 meses. Ao todo, foram realizadas nove coletas. A primeira antes da vacinação e o restante no 7º, 14º, 21º e 28º dias após a 1ª dose, e no 7º, 14º e 21º dias depois da 2ª dose. A última foi 4 meses após a vacinação completa. Foram observados picos de anticorpos na segunda semana após a primeira dose e na quinta e sexta semanas depois da segunda. Após quatro meses da imunização, 50% das mães ainda mantinham presença elevada de anticorpos no leite materno.

“O estudo reforça não só a importância da vacina para a contenção da doença, mas os benefícios do aleitamento materno, que pode ocorrer, inclusive, durante o período de infecção, desde que tomada todas as precauções para evitar o contágio entre mãe e filho”, explicou Valdenise Tuma Calil, neonatologista, coordenadora médica do Banco de Leite Humano do ICr HCFMUSP e uma das coordenadoras do estudo. A Professora Titular de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e também coordenadora da pesquisa, Magda Carneiro-Sampaio, ressalta a segurança da vacina feita a partir de vírus inativado para uma imunização ainda durante a gestação, o que aumentaria a probabilidade de proteção ao recém-nascido. “Existem duas formas de uma mãe oferecer anticorpos contra a covid-19 ao filho após sua imunização. A primeira por meio da placenta, onde é possível a produção de anticorpos da classe IgG. A outra é pelo leite materno, onde o nosso estudo demonstrou a presença de anticorpos da classe IgA. Compreender essas duas possibilidades é oferecer um ciclo completo de proteção ao recém-nascido”, finaliza.

 

Cuidados devem ser mantidos

Apesar da excelente notícia, a orientação neste momento é de cautela. "Como esperado, o resultado mostrou que existe a presença de anticorpos no leite materno tanto após a infecção por covid-19 quanto após a vacinação da lactante. A questão é que esse e todos os estudos feitos até o momento, foram realizados no leite materno e não nas crianças. Não sabemos se, de fato, esses anticorpos do leite materno são suficientes para proteger o bebê e por quanto tempo", explica Moisés Chencinski, presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

O especialista lembrou de um estudo holandês, de agosto de 2020, que comprovou quantidades significativas anticorpos por até 10 meses no leite materno de mães que tiveram o PCR positivo para covid-19. "Essas mães receberam a vacina da Pfizer. Elas demostraram um pico elevado após a primeira dose e um pico ainda maior após a segunda dose", afirmou. "Já esse é o primeiro estudo feito em mães que receberam a Coronavac e, por isso, é importante. Possivelmente traz uma proteção para o bebê, mas precisamos levar em conta que ele e todos os outros estudos foram feitos in vitro, ou seja, não foram realizados especificamente nas crianças. Além disso, a pesquisa mostrou que, aos 4 meses, 50% das vinte mulheres ainda apresentavam anticorpos. Mais uma razão para o cuidado com os resultados", ponderou.

Outro fato importante, segundo o pediatra, é que, até o momento, as pesquisas têm demonstrado que os anticorpos são maiores nas mães que tomaram a vacina contra a covid do que aquelas que contraíram a covid e produziram os anticorpos naturalmente. E o especialista também faz outro alerta importante: "Mesmo assim, não podemos achar que porque as mães estão passando anticorpos para o bebê, não se precisa mais tomar cuidados. Todos os cuidados continuam sendo importantes, principalmente porque ainda estamos com alto indice de infecções no país", orientou. "Desde o inicio da pandemia, a única informação que é constante de lá até aqui é que não se passa covid-19 através do leite materno. Por isso, a amamentação continua sendo recomendada para as mães que desejarem e conseguirem amamentar, e mesmo as que tenham testado positivo para o vírus. Claro, desde que sejam tomados os cuidados adequados. Ela precisa higienizar bem as mãos antes da amamentação e usar máscara durante todo o tempo", disse. "Outra alternativa é tirar o leite e pedir para que outra pessoa a oferte ao bebê", completou.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545