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Não é tão ruim entregar ao seu filho o iPad de vez em quando... Nem é tão condenável usar o celular para jogar juntos ou fazer uma chamada via Skype para a vovó... Tudo isso está ok para ajudar a acalmar o bebê ou tentar manter a paz em casa? Não muito...
por Marcia Wirth
30/10/2016
Novas diretrizes anunciadas pela Academia Americana de Pediatria (AAP), no dia 21 de outubro, dizem que os pais não só precisam prestar atenção na quantidade de tempo que as crianças usam os suportes digitais, mas também como, quando e onde fazem uso desses meios.
“Para crianças de 2 a 5 anos, as mídias digitais devem ser limitadas a uma hora por dia, diz a declaração, e isso deve envolver programação de alta qualidade ou algo que os pais e as crianças possam ver ou fazer em conjunto. Com a exceção de videoconferências, os meios digitais também devem ser evitados por crianças com menos de 18 meses de idade”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
As novas diretrizes da entidade americana destacam que as mídias digitais tornaram-se parte inevitável da infância para muitos bebês, crianças e pré-escolares, mas as pesquisas sobre como isso afeta o desenvolvimento infantil ainda são limitadas. A AAP também publicou uma declaração separada no mesmo dia para as crianças mais velhas: de 6 anos até a adolescência.
Segunda a entidade americana, para crianças com mais de três anos, a pesquisa é sólida. Programas de alta qualidade, como o americano Sesame Street, podem ensinar às crianças novas ideias. “No entanto, com menos de três anos, os cérebros ainda imaturos das crianças têm dificuldade para transferir o que vêm em uma tela para o conhecimento da vida real. Nós ainda não sabemos se a interatividade ajuda ou atrapalha nesse processo”, observa o médico.
“O que sabemos é que a primeira infância (especialmente entre 2 e 3 anos) é um período de rápido desenvolvimento cerebral, quando as crianças precisam de tempo para brincar, dormir, aprender a lidar com as emoções e construir relacionamentos. As pesquisas sugerem que o uso excessivo de mídia digitais pode ser um empecilho no caminho destas importantes atividades. As diretrizes da entidade americana destacam formas como as famílias e os pediatras podem ajudar a gerenciar essa relação de maneira equilibrada e saudável”, relata o pediatra, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
O uso dos meios digitais, por muito tempo, já foi relacionado à má qualidade do sono e ao desenvolvimento infantil e saúde física deficientes. O seu uso de forma intensa na pré-escola está associado a pequenos, mas significativos, aumentos no índice de massa corporal.
As diretrizes recomendam a proibição das mídias digitais uma hora antes de dormir, quando os aparelhos devem ser desligados e mantidos fora dos quartos das crianças. As refeições devem ser feitas em ambientes livres de telas.
“Embora existam situações específicas onde o uso da mídia digital seja uma ferramenta calmante e útil, como em aviões ou durante procedimentos médicos, os pais devem evitar esses meios de comunicação como a única maneira de acalmar as crianças, segundo observam os autores das diretrizes. O uso de dispositivos como estratégia calmante comum pode limitar a capacidade das crianças de regularem suas próprias emoções”, alerta Chencinski.
Temos que ser realistas sobre a onipresença do uso da mídia digital. Por esta razão, é ainda mais importante que os pais ajudem os filhos a compreender as formas saudáveis de usá-las, desde as primeiras idades.
“Usar o skype para falar com os avós, assistir vídeos de ciência juntos, colocar uma música e dançar juntos, buscar novas receitas ou ideias de brincadeiras, tirar fotos e fazer vídeos para mostrar uns aos outros... Estas são apenas algumas maneiras de as mídias serem usadas como uma ferramenta para apoiar a conexão da família. É crucial que os adultos interajam com as crianças durante o uso, para ajudá-las a aplicar o que estão vendo na tela no mundo real. A pesquisa mostra que para os mais jovens - com idades entre 18-36 meses - isso é essencial, destacam os pediatras americanos”, conta o pediatra.
Os autores das novas diretrizes reconhecem que os aplicativos bem bolados, como Sesame Street, podem ajudar a melhorar a alfabetização e os resultados sociais para crianças de 3 a 5 anos. Mas muitos aplicativos que os pais encontram facilmente rotulados na categoria \"educacional\" não são baseados em evidências educacionais e não contribuem em nada para o desenvolvimento infantil.
Os pediatras americanos também recomendam que os pais devem limitar o próprio tempo de tela também. O uso intenso e pesado dos dispositivos móveis pelos pais está associado a menos interação verbal e não-verbal entre pais e filhos e pode ser causa de mais conflitos entre pais e filhos.
Os pediatras também são incentivados a ajudar os pais a serem "mentores de mídia", ou seja, modelos e guias sobre como escolher um bom conteúdo digital. Os médicos têm a oportunidade de educar as famílias sobre o desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos e a importância da interação familiar para o desenvolvimento da linguagem e das habilidades emocionais e sociais.
“Os pediatras têm a oportunidade de iniciar conversas com os pais sobre o uso das mídias sociais pela da família. Nós podemos ajudar os pais a desenvolver planos de uso de mídia para suas casas, estabelecer limites e incentivá-los a usar os dispositivos com os seus filhos de uma maneira que promova a aprendizagem e a interação”, defende Moises Chencinski.
Aqui está uma listagem das novas orientações da AAP para os pais de crianças de 0-5 anos:
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545