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A relação entre a dor na hora de amamentar e a língua do bebê

Do site da Crescer

O pediatra fala sobre o papel do freio da língua para que a pega do bebê aconteça de forma adequada - e não cause tantas dores à mãe durante o aleitamento materno

por Dr. Moises Chencinski - Colunista

24/01/2022

Amamentar não deve doer. Mas então por que dói?

Posição – Ok.
Pega – Ok.
Peso – Ok.

Então, se está tudo Ok, por que dói tanto?????

Essa é uma realidade de grande parte da mães que amamentam. E elas passam por olhares desde a maternidade e, depois, por vários profissionais de saúde materno-infantil. 

Mas, apesar das queixas, as respostas continuam:

Posição – Ok.
Pega – Ok.
Peso – Ok.

E os depoimentos são inacreditáveis, mas dolorosamente reais.

- “Cada vez que ele chora, eu choro. Choro porque sei que ele está com fome e vem mamar. E sei que vai doer. E vai machucar e sangrar. Aí coloco ele pra mamar, com aquela boquinha pequena... E quando ele pega... Que dor. Aperto uma almofada. Mordo um pano. E aos poucos... bem aos poucos... isso passa. Durou 15 dias até que o seio calejou...

Calejou????? Como assim? Isso precisa acabar. Isso precisa ter um freio. E muitas vezes tem.

A língua tem freio?

Então. Vou te apresentar a tua língua de uma forma que você nunca pensou. Ela é um órgão que tem muitos músculos, que são responsáveis por uma movimentação intensa (língua para fora, para dentro, para cima e para baixo) e por seu formato (estreitar, achatar, encurtar).

Quando, por qualquer razão, isso não acontece, um bebê pode apresentar imensas dificuldades para mamar, engolir, mais tarde mastigar, falar, respirar, com questões de desenvolvimento da boca e da face, que precisarão de correções, como uso de aparelhos ortodônticos por longo tempo, e até cirúrgicas e gerar problemas para os seios de sua mãe.

Mas tudo isso por causa da língua? Qual a relação do freio com tudo isso.

Todos nós nascemos com freio embaixo da língua (agora vocês estão na frente do espelho, levantando a língua pra ver se é verdade). Ela é “uma pequena prega de membrana mucosa que liga a parte debaixo da língua com o assoalho da boca”. E ela pode ter tamanhos, espessuras e movimentações diferentes, boas e “ruins”.

A dinâmica da mamada no seio é diferente da forma de sugar mamadeira ou chupeta.

Com o bebê próximo à mãe, “barriga com barriga” e a boquinha bem aberta:
- Boca de peixinho (lábio superior para cima e lábio inferior para baixo);
- Pega na aréola (não no mamilo);
- Bochecha redondinha (sem covinhas);

Já na mamadeira ou na chupeta, o bebê, com a boca mais fechada, pega o bico, a bochecha apresenta covinhas (como acontece quando a gente chupa um sorvete ou um canudinho... tá, eu espero você voltar do espelho...) e faz barulho.

Quando a pega está correta, o mamilo não dói, não faz feridas e sai redondinho e não amassado, como se tivesse sido mastigado. Mas quando está ruim... Affffeeee.

Agora imagina a confusão que faz esse bebê quando mama no seio e depois pega uma chupeta ou uma mamadeira e volta para o seio (boquinha fechada, pega no bico, com covinha). Isso machuca a mãe. Isso dói. Isso leva a infecções no seio (mastites, candidíase – fungos) e desmame. Sabia que 33% dos desmames antes dos 3 meses de idade são provocados pelo uso da chupeta?

E tem como evitar?

Na maternidade (teste da linguinha obrigatório) e desde a primeira consulta com o pediatra deve ser feita uma avaliação sobre a anatomia (forma) do freio de língua. Mas essa análise só está completa se, e isso deveria acontecer sempre, ela for acompanhada de uma observação da mamada (função), do começo ao final, nos dois seios.

Uma vez identificadas alterações da forma com problemas na função, é necessário seguir um fluxo de especialistas (fonoaudiólogas) para determinar se somente com manobras de manejo (técnicas e exercícios) será corrigida a mamada ou se será necessária uma intervenção cirúrgica (frenotomia - odontopediatras ou cirurgiões pediátricos) para liberar o freio e posterior retomada dos exercícios (fonoaudiólogas novamente).

Estudo recente concluiu que “em bebês com língua presa grave, descobriram que a frenotomia diminuiu significativamente os sintomas maternos em mães que amamentam. Duas semanas após a frenotomia, a maioria da amostra aumentou o aleitamento materno.

Proteger o bebê, a mãe e a amamentação é função de uma equipe multiprofissional atualizada, capacitada e com empatia, escuta ativa, sem julgamentos.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545