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Folha de repolho melhora o ingurgitamento mamário? Especialista explica

Do site da Crescer

Recentemente, a atriz Maria Flor falou sobre sua rotina de amamentação e contou que vem usando folhas de repolho na mama para sugar o leite. Pediatra comenta sobre esse tipo de intervenção. Confira!

por Crescer Online

15/03/2022

Durante a amamentação, as lactantes precisam lidar com diversos desafios — um deles é o ingurgitamento mamário, popularmente conhecido como leite empedrado. Diante dessa situação, muitas mulheres compartilham dicas para aliviar o desconforto. Mãe de primeira viagem do pequeno Vicente, que veio ao mundo no dia 2 de fevereiro, a atriz Maria Flor, por exemplo, fez uma postagem nas redes sociais na última semana, dizendo que vem utilizando folha de repolho na mama para "sugar o leite".

Mas será que esse método é mesmo efetivo? Bom, a resposta não é tão simples! Segundo Moises Chencinski, pediatra e membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e colunista da CRESCER, existem alguns estudos que mostram que o vegetal pode, sim, ter uma ação fitoterápica, no entanto seriam necessários mais dados para avaliar esse tipo de intervenção.

O médico citou um estudo de 2015 que avaliou os impactos da folha de repolho como tratamento para o ingurgitamento mamário em 60 participantes. Durante as pesquisas, os especialistas concluíram que, de fato, o vegetal poderia reduzir significativamente a dor nas mamas em comparação com o grupo sem tratamento. "A dor mamária geralmente aumenta no terceiro dia pós-parto devido ao desenvolvimento da glândula mamária e edema mamário e é reduzida com a liberação do leite", esclarecem os especialistas na publicação.

"Os resultados deste estudo corresponderam aos de um estudo anterior, que mostrou uma diminuição da dor mamária pós-parto após a aplicação de compressas quentes/frias e compressa de repolho três vezes ao dia durante dois dias", explicaram os pesquisadores. Além disso, a ação com o vegetal também aliviou a rigidez das mamas. "Com base nos resultados deste estudo, os tratamentos experimentais amoleceram a mama e reduziram o nível de ingurgitamento", comentaram.

No entanto, apesar dos resultados promissores, os próprios cientistas alertaram que o estudo tem algumas limitações, como número limitado de participantes e falta de um grupo controle. Dessa forma, a compressa com repolho pode até ser recomendada, porém, mais estudos rigorosos são necessários. "Sempre é fundamental a avaliação do quadro por um profissional habilitado e capacitado da área. A avaliação pediátrica da situação sempre é muito importante", ressaltou Chencinski. "Para algumas mães, o resultado pode ser interessante, mas não é uma regra e pode, às vezes, agravar em situações que necessitariam uma avaliação. Ou seja, a qualquer sinal de dor, inflamação, febre ou infecção, um médico deve ser consultado", aconselhou o pediatra.

O médico também citou mais duas pesquisas. A primeira delas alerta sobre o uso generalizado de medidas para o tratamento do ingurgitamento mamário: "Embora algumas intervenções como compressas quentes/frias, Gua-Sha (terapia de raspagem), acupuntura, folhas de repolho e enzimas proteolíticas possam ser promissoras para o tratamento do ingurgitamento mamário durante a lactação, não há evidências suficientes de estudos publicados sobre qualquer intervenção para justificar a disseminação generalizada e implementação. Pesquisas mais robustas são urgentemente necessárias no tratamento do ingurgitamento mamário", concluíram os autores.

Já a outra pesquisa mencionada por Chencinski, publicada em 2020 na biblioteca Cochrane, também traz uma ressalva dos pesquisadores sobre a insuficiência de dados, assim como os trabalhos anteriores. "Embora algumas intervenções possam ser promissoras para o tratamento do ingurgitamento mamário, como folhas de repolho, compressas de gel frio, compressas de ervas e massagem, a certeza das evidências é baixa e não podemos tirar conclusões robustas sobre seus verdadeiros efeitos. Ensaios futuros devem ter como objetivo incluir amostras maiores, usando mulheres — não mamas individuais — como unidades de análise", avaliaram os cientistas.

Diante dos dados disponíveis, Chencinski volta a destacar a importância de cada caso ser avaliado de forma específica, para as necessidades das lactantes sejam levadas em consideração antes de se adotar qualquer medida ou intervenção para aliviar o ingurgitamento mamário.

O que é o ingurgitamento mamário?
O ingurgitamento mamário, que é o acúmulo de leite nas mamas, acontece, normalmente, na época da apojadura — que é a descida do leite, de 3 a 5 dias depois do parto — e se não for solucionado pode até evoluir para uma mastite, que é a obstrução e inflamação nos dutos das mamas.

A condição é caracterizada pelo inchaço que acontece nos seios da mãe e pode causar dor e desconforto. “Isso acontece porque a mama está se preparando para a chegada do leite. Algumas mães têm pouca dor e sentem apenas inchaço e os seios um pouco endurecidos. Mas outras têm um quadro muito intenso, com a mama mais dura e podem sentir bastante dor”, explica Mônica Carceles Fráguas, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Pro Matre.

Quais as causas do ingurgitamento?
O ingurgitamento acontece devido a um aumento na circulação de sangue na área das mamas, fazendo com que elas fiquem mais inchadas e comecem a produzir mais leite. “É uma mudança hormonal. A mama incha e aumenta a irrigação de sangue, para se preparar para produzir mais leite. É algo natural, o ingurgitamento só se torna ruim quando é muito intenso”, afirma a médica.

O problema pode acontecer tanto com mães de primeira viagem quanto com as que já amamentaram antes, mas as mulheres que já tiveram filhos podem apresentar ingurgitamento um pouco antes, com um quadro geralmente mais leve. Enquanto as mães de primeira viagem podem apresentar um quadro um pouco mais intenso.

É possível prevenir?
Mamar, mamar e mamar... Deixar o bebê mamar em livre demanda é a melhor forma esvaziar os seios e, portanto, de prevenir as dores fortes causadas pelo ingurgitamento, ou seja, pelo acúmulo de leite. “Se a mãe põe o bebê para mamar várias vezes, ela vai apresentar menos sintomas. O bebê que mama bastante nesse primeiro período após o nascimento vai sugar bastante leite, o que gera menos ingurgitamento para a mãe”, explica a pediatra.

A mama empedrou. O que fazer?
Em caso de dor intensa, o mais indicado é aplicar uma massagem no local antes de oferecer o seio ao bebê. “Precisa ser uma massagem suave, sem forçar muito a mama. E se possível, ordenham um pouco de leite para aliviar a mama, mas sem esvaziá-la”, disse a neonatologista. A massagem tende a fluidificar o leite acumulado, facilitando a mamada e, portanto, o esvaziamento do seio.

“Em alguns casos, o ingurgitamento não é pela chegada do leite, e sim pelo acúmulo. Quando, por algum motivo, o bebê para de mamar, se a mãe não tomar os devidos cuidados, com massagens e ordenhas frequentes, ela pode ficar com a mama ingurgitada”, alerta a médica.

Caso a mulher apresente um quadro grave e não trate, a condição pode evoluir para uma mastite, e neste caso é fundamental procurar ajuda médica e de um especialista o quanto antes, para que seja avaliada a necessidade inclusive de medicamentos. “É importante prevenir, e para isso o melhor caminho é deixar o bebê mamar bastante". Se o seu bebê não está conseguindo mamar, procure ajuda para ajustar a pega e conseguir mamadas eficientes e confortáveis. Enquanto isso, use uma bomba extratora ou faça ordenha manual para evitar o leite se acumule nas mamas.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545