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Que tal elaborar uma pesquisa com as mães, sobre as mães, envolvendo as mães, escutando as mães e debatendo com as mães?

Do site da Crescer

Pediatra aponta o caos da (des)informação que vivemos em tempos modernos e a importância de dar voz às mães quando se discute a amamentação. Afinal, elas são as protagonistas do aleitamento materno

por Dr. Moises Chencinski - colunista

19/09/2022

Sempre que eu escuto ou leio uma frase ou um pensamento marcante, e que me impressiona pela mensagem ou pelo humor, eu anoto. Aprendi que em algum momento eu vou aproveitar e usar em algum material que eu escrevo ou em alguma aula que eu prepare.

E, já há algum tempo, e anda continua assim, sou “acusado” de não poder parar em um sinal vermelho que já me surge uma ideia ou uma proposta nova.

E, para isso, tenho alguns aliados dos quais não abro mão, e um dos mais frequentes é o dicionário, para não correr riscos de problemas de interpretação.


Normal e comum são a mesma coisa?

Apesar de serem usados indistintamente, esses dois conceitos não são iguais, mesmo que, em algumas vezes, representem a mesma situação.

Normal: Conforme a norma; regular. Tudo que é permitido e aceito socialmente.
Comum: Que ocorre com frequência. Aquilo que é habitual ou corriqueiro.

Sutil, não é? Nem tudo o que acontece com frequência pode ser aceito socialmente ou segue uma norma. E, muitas vezes, costuma-se “normalizar” (transformar em normal) algo que é só comum (frequente).

Um exemplo grave e comum, mas que não deveria ser normal, é o efeito Dunning- Kruger. Você pode não conhecer de nome, mas com certeza já viu acontecer.

Em 1999, esses dois psicólogos descreveram uma situação que recebeu seus nomes. Esse fenômeno, que traz uma “superioridade ilusória”, tem se revelado de forma muito mais contundente nos últimos tempos, por exemplo, durante a pandemia. É assim:

Pessoas não qualificadas (leigos), que parecem perder a noção de seu real desconhecimento, por terem recebido determinadas (des)informações, sem checar sua origem e sua validade (até por não saberem fazer isso e, infelizmente, gerarem instabilidade através de fake news), se julgam capazes de discutir um tema específico com pessoas especialistas na área, contestando, muitas vezes de forma agressiva, por exemplo, a ciência.

A COVID trouxe essa questão de forma intensa quando cientistas, nacionais e internacionais, que estudaram sobre o tema (doença, evolução, tratamentos, vacinas, entre outros), diariamente, exaustivamente, em instituições éticas, sem conflitos de interesse, foram confrontados e questionados por pessoas sem nenhum preparo na área da saúde ou mesmo da infectologia, ou até por profissionais que, apenas por analisarem e terem experiência em alguns (ou até muitos) casos, julgam ter mais conhecimento do que esses incansáveis pesquisadores.

E, se hoje estamos mais seguros e mais protegidos em relação à COVID, certamente devemos os créditos a quem se dedicou ao estudo de forma séria e soube “separar o joio do trigo”, através da ciência, sem “achismos”.


Não vai me dizer que...

Lógico que sim. A coluna não se chama “Eu Apoio Leite Materno” à toa, né?

Seja como for, os seios, por muito tempo, despertarão um interesse político. Mas é preciso lembrar que eles pertencem às mulheres e que elas não são chamadas a opinar e a decidir na política do aleitamento materno desde o século XVIII. No século XX, os homens continuam cometendo os mesmos erros”.

Escrita em 1985 por Orlando V. Orlandi (pediatra e primeiro presidente do Comitê de Acidentes na Infância da SBP - 1969-1976), infelizmente, ela continua atual, com “os mesmos erros”, mesmo no século XXI (21).

A protagonista do aleitamento materno foi, é e sempre será a mãe, mesmo que ela não seja pesquisadora, cientista, legisladora ou profissional da área.

É sobre seu corpo. É sobre sua voz. É sobre seu lugar. É sobre seus desafios.
É sobre ela.

Tivemos uma grande pesquisa nacional que envolveu o aleitamento materno no Brasil (ENANI-2019) e que trouxe dados relevantes e reveladores da nossa realidade, de nossos desafios. São muitas as ações necessárias e possíveis para adequar as nossas taxas dentro das propostas da OMS / UNICEF para a agenda 2.030. Mas todos os caminhos passam pela mãe.

Que tal elaborar uma pesquisa com as mães, sobre as mães, envolvendo as mães, escutando as mães e debatendo com as mães? Que tal chamarmos as mães para “opinar e decidir na política do aleitamento materno”?

E para fechar, mais uma frase de autor desconhecido.
Não estaríamos aqui como espécie se nossos peitos falhassem tanto como nossa cultura nos faz acreditar”. Ou, com minha adaptação: “quer nos fazer acreditar”.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545