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Amamentando em tempos de COVID. Como foi para você?

Do site da Crescer

Pediatra explica as consequências da pandemia para o aleitamento materno, destacando que as mulheres têm experiências diferentes com a prática. Confira

por Dr. Moises Chencinski - colunista

18/10/2022

Pesquisadores, quando fazem algum estudo, abordam, na maior parte das vezes, a maioria. A análise das conclusões determina resultados com posteriores propostas e encaminhamentos.

Mas e cada um? Cada um não importa?
Sim. Lógico que sim. É cada um que forma o todo.
Mas, cada um nem sempre é levado em conta, a não ser que esse cada um seja eu ou alguém muito próximo de mim (familiares, amigos).

Quando falamos de políticas públicas, é mais o todo do que cada um.

Essa é uma das razões pelas quais existe tanta controvérsia nas questões de saúde: o foco. A avaliação é de riscos, de possibilidades, não sobre certezas.

- Não se recomenda oferecer sucos para crianças abaixo de 1 ano de idade.
Eu dei para meus filhos e ninguém morreu”.

- Não se recomenda o uso telas para crianças abaixo de 2 anos de idade.
Meus filhos viram e são superespertos, inteligentes, dormem bem e são calmos”.

- Não se recomenda consumo de alimentos ultraprocessados, especialmente para crianças.
Meus filhos comem o que querem, até em fast food, e são saudáveis”.

- A recomendação é aleitamento materno desde a sala de parto até 2 anos ou mais, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês.
Meus filhos não mamaram peito e são amados, saudáveis, inteligentes”.

Então. Não é sobre isso. Não é competição. Não é sobre julgar. Não é 100%.
É RECOMENDAÇÃO em saúde. Não é norma, diretriz, lei ou regulamentação.

A RECOMENDAÇÃO é uma declaração de prática que potencialmente provê um benefício à saúde da população atingida.
Geralmente é iniciada por uma organização ou um grupo de indivíduos com expertise ou ampla experiência no tema em questão.”

Se essa percepção fosse mais clara, seria mais fácil não julgar, não se sentir julgado e, assim, cada um, informado, decidiria e todos poderiam ser beneficiados. Era só não encarar como “crítica negativa” e sim como uma conclusão de um estudo ou de uma pesquisa, que traz evidências da “maioria”.

Quem concorda e segue – tuuuudooo bem.
Quem concorda e não segue – tuuuudooo bem.
Quem não concorda e não segue – tuuuudooo bem, também.
Cada um, cada um.


Pausa para o dicionário (tudo junto e misturado)

Crítica –
2 Avaliação baseada apenas na razão, com um propósito final.
3 Análise detalhada de qualquer fato.
5 Faculdade de julgar.
7 Ação ou efeito de depreciar ou censurar – só essa é “negativa”.

Recomendação –
2 Indicação positiva a respeito de alguém ou de algo.
3 Aviso ou advertência a respeito de algo; conselho.
4 Qualidade do que é recomendável.


O que a pandemia fez com o aleitamento materno?

Ainda não há estudos conclusivos sobre os efeitos gerais da pandemia em relação ao aleitamento materno. Dá para imaginar uma série de resultados individuais, consequências, especialmente, de amamentar enquanto se trabalhava em casa.

- Ouvi de algumas mães que, por estarem em casa o dia todo, tiveram mais tempo e se dedicaram mais à amamentação.
- Outras me contaram que, apesar de trabalharem em casa (home office), era extremamente difícil conciliar o “exercício profissional” com o “exercício da maternidade e do aleitamento materno”, especialmente em livre-demanda (no meio das reuniões ou de uma atividade que não poderia / deveria ser interrompida).
- Muitas mães se sentiram solitárias, sem uma rede de apoio efetiva e presente, especialmente no início da pandemia, quando o maior grupo de risco eram os idosos, que foram isolados. Em grande parte das vezes eram avós, que representam maioria da rede de apoio dessas mães em várias questões, ainda mais no aleitamento materno, transmitido de geração em geração.
- Outras vezes, mães que até contavam com rede de apoio familiar presente, tinham dificuldade de acesso a profissionais habilitados e capacitados para transpor desafios habituais durante o período de amamentação (fissuras, candidíase mamária, obstrução de ductos, bebês com freios de língua, entre outros).

De qualquer forma, começamos a ter estudos que já trazem análise de algumas situações especiais. Um deles foi divulgado recentemente no encontro anual da Academia Americana de Pediatria (AAP), em outubro de 2.022, sobre o impacto nas taxas de amamentação entre recém-nascidos, em um hospital em Los Angeles, comparando 913 bebês nascidos de janeiro de 2.019 a abril de 2.020, com 763 deles nascidos de abril de 2.020 a abril de 2.021.

O estudo (“O efeito do SARS-CoV-2 nas taxas de amamentação no berçário recém-nascido”) demonstrou uma queda de 11% na taxa de amamentação exclusiva e de 4% de qualquer amamentação durante esse período da pandemia de COVID-19. Uma das hipóteses levantadas foi que “a equipe hospitalar e o acesso a treinamento em amamentação e outros cuidados de saúde devido às restrições da pandemia foram causas potenciais da diminuição do aleitamento materno.”

Está programado para 2.023, aqui no Brasil, mais um ENANI, que poderá trazer os reflexos da pandemia no Brasil, de uma forma mais ampla, mais “maioria”, mais “todo”.

Mas conta aí. Como foi sua experiência na amamentação de 2.019 até hoje? Vai que aparece uma ideia, uma proposta inovadora. Compartilha?

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545