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Quanto mais AGOSTO DOURADO, menos OUTUBRO ROSA.

Do site da Crescer

O aleitamento materno e a diminuição nos casos de câncer de mama estão diretamente conectados; entenda

por Dr. Moises Chencinski - colunista

03/10/2022

Conhecer a história sempre me dá uma boa base para informação e compreensão dos fatos. Então... vem comigo! 

Em 1980, Nancy G. Brinker prometeu a sua irmã moribunda, Susan, que faria tudo ao seu alcance para acabar com o câncer de mama para sempre. Em 1982, essa promessa tornou-se a organização Susan G. Komen® e o início de um movimento global.

Em 1990, a Fundação Susan G. Komen for the Cure organizou a primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York, em 1990, quando o laço cor-de-rosa foi lançado e distribuído aos seus participantes. Desde então, essa corrida é promovida anualmente na cidade.

O “Outubro Rosa” foi criado em 1997, em ações nas cidades de Yuba e Lodi nos Estados Unidos, através de ações voltadas à conscientização, prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama.

A primeira iniciativa de apoio a esse movimento no Brasil foi a iluminação em rosa do Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, no dia 2 de outubro de 2002, como iniciativa de um grupo de mulheres simpatizantes com a causa do câncer de mama.

A partir de outubro de 2008, essas ações se difundiram pelo país e diversas entidades relacionadas ao câncer de mama iluminaram de rosa monumentos e prédios em suas respectivas cidades (São Paulo, Santos, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador, Teresina, Poços de Caldas entre muitas outras cidades).

Por uma ação da Fundação Laço Rosa, o Cristo Redentor, que em 2007 passou a ser considerado como uma das sete maravilhas do mundo moderno e em 2012, foi incluído na lista de Patrimônios da Humanidade pela UNESCO, recebeu a cor rosa pela primeira vez em 2.011, para sensibilização a respeito o câncer de mama.


Quanto mais AGOSTO DOURADO (amamentação), menos OUTUBRO ROSA (câncer de mama)

Essa é uma frase que eu repito há algum tempo e, sempre que procuro no Google, não acho a autoria (será que eu criei isso?). Mas já informei sobre essa influência em muitas atividades (aulas, textos, matérias, entrevistas), inclusive aqui na Crescer.

E o que identifiquei em três dados que vou apresentar agora (até já conhecidos, mas que juntos fazem mais sentido) pode dar pistas sobre parte do que está acontecendo.

- Aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo e em livre demanda até o 6º mês pode diminuir o risco relativo de câncer de mama em    4,3% para cada 12 meses de amamentação (mesmo não continuada), além de uma redução de 7% para cada parto.
- Dados do Relatório 4 do ENANI-2019 mostram que as nossas taxas de aleitamento materno exclusivo em crianças menores do que 6 meses teve um aumento de apenas 8% nos últimos 13 anos.
- Dados do INCA mostram que a estimativa de casos novos de câncer de mama no Brasil em 2.018 era de 59.670 e para 2.022 é de 66.280.

Um artigo publicado no The Lancet em 2.002, com grande base de dados, teve suas conclusões reafirmadas em estudo publicado recentemente (2.022) no Cancer Medicine quereforçam a importância da amamentação na redução do risco de câncer de mama em países de alta renda com baixas taxas de amamentação. Os dados são do Reino Unido, onde 15% das mulheres apresentam risco de câncer de mama durante sua vida.

Vale ressaltar que, ambos os estudos citados aqui (2002 e 2022) referem que as taxas de redução no risco relativo de câncer de mama que estão ligadas à amamentação não mostraram diferenças estatisticamente significativas para mulheres em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, por idade, estado da menopausa, origem étnica, número de partos, idade quando nasceu o primeiro filho nasceu, ou qualquer outra característica pessoal analisada.

Traduzindo: o que vale lá, vale aqui.

Dessa forma, voltando ao estudo mais recente (2.022), as conclusões, certamente, podem ser estendidas a outros países do mundo, inclusive o Brasil:

- A amamentação demonstrou reduzir principalmente o risco de câncer de mama triplo-negativo (20%), bem como em portadores de mutações BRCA1 (22-50%).
- Mulheres com história familiar de câncer de mama devem ser particularmente apoiadas a amamentar, como forma de reduzir o risco de câncer.
- Estima-se que 4,7% de casos de câncer de mama no Reino Unido são causados ​​pela não amamentação.

E termina com propostas de ação importantes, úteis, compatíveis e aplicáveis para nossa realidade.
- Ampliação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança, leis mais rígidas sobre a publicidade de leite em pó e legislação de apoio às mães que amamentam no local de trabalho têm o potencial para aumentar as taxas de amamentação no Reino Unido (poderia estar escrito Brasil).

Estímulo à amamentação representa diminuição nos riscos de câncer de mama. É uma das ações que podem fazer a diferença. Por que não?

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545