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2.023 o ano do... de... da...

Do BLOG da Editora Timo

por Dr. Moises Chencinski - colunista

04/01/2023

Conta pra mim. Todo começo de ano não é a mesma coisa?

Reflexões sobre o que aconteceu, o que não aconteceu, o que aconteceu, mas ou não se completou ou não era bem assim que se queria, o que poderia ou deveria ter acontecido.

A isso, se seguem, geralmente, propostas reais, irreais, surreais, possíveis, plausíveis, inacreditáveis, impossíveis, novas, velhas, repetidas, repaginadas ou revisitadas.

Déjà-vu? Não, não é só impressão. É um já visto, já ouvido, já dito, já sentido, mas, sempre, todo ano, se repete.

É como se, no dia 31 de dezembro, o inexplicável, imaterial, impessoal, sobrenatural, criasse um poder de fazer do dia 1º de janeiro um recomeço modificado, corrigido, definitivo, um “daqui pra frente, tudo vai ser diferente”.

E, de repente, não mais que de repente, tudo fará sentido, tudo acontecerá de acordo com o planejado, com o combinado com o universo, mesmo que seja o mesmo tudo que sempre se planejou, só que agora com aperfeiçoamento e, algumas vezes, requintes de detalhes.

Como está no dicionário, como dizia Paulo Freire com tanta propriedade e como eu já transcrevi em outros textos, e que mereceria uma análise profunda de parte por parte e do seu todo:

É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…

Então, que 2.023 seja um ano de esperançar.
E já que é pra esperançar, vamos escancarar.

Um esperançar brasileiro que abrangesse o social, o político, o cultural, o econômico, o alimentar, o nutricional, a ética, a moral, a saúde, o biológico, a natureza, o artístico, a poesia, a igualdade, a equidade, a cidadania, o respeito e muito mais.

Nélida Piñon (03/05/1937 – RJ – 17/12/2022 – Lisboa – 85 anos), a primeira mulher a se tornar presidente da Academia Brasileira de Letras, entre 1996 e 1997, disse:

O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil.”

Sem a pretensão de me considerar um escritor, nosso caminho é longo, nossa trajetória é difícil, nossos obstáculos são desafiadores. Tanto tempo estagnamos em tantas áreas e, em outras tantas regredimos muito nesses últimos... quantos anos? 

Pra começar, alguns dos conceitos que não deveriam mais estar em debate, mas que, parece que não sei, viu!

- Aleitamento materno desde a sala de parto até dois anos ou mais, exclusivo até o sexto mês.
- Aconselhamento: Empatia. Escuta Ativa. Sem julgamento.
- Amamentar é um direito de mãe e bebê.
- A protagonista da amamentação deveria sempre ser a mãe, sempre acolhida pela sua rede de apoio.

É necessário e fundamental que questões básicas se repitam até a exaustão, para que possamos seguir adiante. E, apenas para fins de coerência com o espaço (Editora Timo) e com a temática (aleitamento materno), sigo com a minha proposta de sempre: simplificar a informação. Nesse caso em especial, traduzir a informação. Alguns termos conhecidos (ou nem tanto), mas que estão no inglês e podem não ter sentido para a maioria dos brasileiros e brasileiras. E para transformar, é preciso entender.

Nessa semana, em uma conversa em um delicioso grupo de WhatsApp de profissionais da área de saúde materno-infantil que participaram do Congresso Mame Bem, em Belo Horizonte, após uma postagem de uma delas (Mariele Rios - @umamaepediatra) ter sido comentada por “um seguidor”, surgiram alguns termos que eu acho importante trazer para conhecimento e esclarecimento.

Essas práticas têm “nomes importados”, com raízes em bases preconceituosas, machistas, muito mais comuns do que se poderia imaginar e desejar. E, acreditem, elas acontecem, não só, mas também, na amamentação e poderiam ser controladas se o aconselhamento (lembra dele?) fosse conhecido e praticado.

É preciso conscientizar para mudar.
Spoiler (alerta) de violência (sem aspas mesmo).

Mansterrupting - Homens que interrompem.
“Do nada”, enquanto uma mulher está falando, um homem a interrompe, de forma desnecessária, interferindo na conclusão do raciocínio ou da exposição, em reuniões, palestras, como se aquilo que ela estivesse falando não fosse digno de atenção ou ele tivesse algo muito mais importante e mais relevante a dizer.
Falta de escuta ativa.

Mansplaining - Homens que explicam.
Por alguma razão cultural, histórica (ou pré-histórica), um homem quer, depois de interromper (mansterrutpting) a fala de uma mulher, explicar a ela algo, já concluindo que ele sabe mais do assunto do que ela. Essa atitude representa uma forma de subestimar o conhecimento feminino, negar sua inteligência ou capacidade de raciocínio.
Também conhecido como “macho palestrinha”.

Bropriating - Homens que se apropriam
O termo foi criado pela junção de "bro", abreviatura da palavra em inglês "brother" (irmão) e "appropriating" (apropriação). Outra situação comum, quando um homem se apropria da ideia de uma mulher, levando o crédito no lugar dela. Pesquisas acadêmicas, ambiente de trabalho, situações do dia a dia são muito contaminadas por essa forma de agir. Será que aí do teu lado...
Temos tanto a aprender com a sororidade.

Gaslighting - Homens que geram dúvidas
É bullying, uma tentativa de manipulação e violência psicológica e emocional, que pode acontecer em relações afetivas, familiares, de amizades e até no trabalho, para que a mulher perca sua confiança, deixe de acreditar em si mesma, aumentando sua vulnerabilidade na relação com o homem. Mentiras, ameaças, chantagens, exaustão mental... e pensem em uma mulher que está em casa, amamentando, sobrecarregada... que “presa mais apropriada”.
Constrangimento, chantagem emocional, humilhação a troco de... poder?

Então vamos esperançar que 2.023 seja diferente, com respeito, sem preconceito, com equidade e dignidade, sem falsidade ou inverdade.

Vai ser, no mínimo, trabalhoso e desafiador, mas vai valer cada pedra do caminho, principalmente se formos juntos e ninguém soltar as mãos.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545