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Moises Chencinski: primeira reflexão sobre o meu Agosto Dourado

Do site da Crescer

O pediatra Moises Chencinski faz uma análise sobre a presença masculina durante a amamentação e traz alusões de como essa participação é fundamental para a saúde e bem-estar da dupla mãe-bebê

por Dr. Moises Chencinski - colunista

31/08/2023

Passado o AGOSTO DOURADO com muitas atividades. Um mês muito produtivo na divulgação sobre o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2.023 (“Apoie a amamentação: Faça a diferença para mães e pais que trabalham”), sobre conflitos de interesses, sobre amamentação.

Participei de lives com “amigas do peito” (Brasília e grupo Aleitamento Materno Solidário), com residentes e membros de ligas de pediatria e de aleitamento (Unisul – Santa Catarina), com profissionais de saúde materno-infantil (Araras, Camboriú e Zona Leste de São Paulo).

No estado de São Paulo, pude compartilhar informações em atividades em Diadema, Osasco, Campinas, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes, Caraguatatuba, Santos, na Faculdade de Saúde Pública em São Paulo e no 1º Congresso Brasileiro de Aleitamento Materno (aqui na cidade, fazendo a palestra de abertura e colaborando, também na organização do evento que foi memorável e emocionante – já aguardando o próximo).

Também viajei para atividades animadíssimas em Brasília, Passos (MG) e Fortaleza (em uma Cooperativa de Pediatras).

Isso sem contar uma ação com apoio do Shopping Cidade de São Paulo, e a exibição de uma imagem no painel de LED com o laço dourado (um dos símbolos da amamentação) e o logo do movimento que coordeno desde 2015 (Eu Apoio Leite Materno – que é o nome dessa coluna), exibidos nos dias 7, 8 e 9 de agosto, iluminando a esquina da Avenida Paulista com a Rua Pamplona com as cores douradas.

Foram 21 ações espalhadas durante 15 dias, com muitas lições aprendidas, muitas experiências diferentes, muito, muito, muito tempo nos trajetos pela estrada ou voando, falei muitoooooo, ouvi muitoooo, e muitos encontros, muita gente do bem, que é o que essa trajetória do aleitamento materno mais me proporcionou. Gente.

Mas, e sempre tem um (ou mais) mas... algumas questões me fizeram refletir. Hoje quero falar a respeito do quanto se pede e se cobra a participação do pai durante esse processo, do quanto se reforça a sua importância como rede de apoio e sua participação no processo (pai não ajuda, pai é, pai faz parte), do quanto se critica seu afastamento.

Na campanha desse ano, muito se falou sobre a licença-maternidade, mas se abordou também a ridícula e inexpressiva licença paternidade de 5 dias corridos ou 20 dias em Empresas Cidadãs. Também foram citadas a necessidade da licença parental e familiar, que não existem no Brasil.


Mea culpa... parte-1

Amamentação é uma atividade multifatorial e requer a ação de uma equipe multiprofissional. É fundamental a participação do Pediatra nesse processo. Ele é parte importante dessa equipe porque tem a chance de acompanhar os pais desde a consulta na 32ª semana de gravidez (para esclarecimentos durante o pré-natal).

Além disso, o pediatra acompanha a mãe e o pai (que pode estar presente na sala de parto – Lei do Acompanhante desde 2.005) na maternidade e nas consultas de puericultura, importantes, especialmente, nos dois primeiros anos de vida ou mais, período em que a amamentação merece uma atenção mais do que especial.

E nós, pediatras, reforçamos a importância da participação do pai em todos esses momentos. Nos meus atendimentos pediátricos nesse período (do pré-natal até os 2 anos), eu tenho observado a presença do pai em mais de 75% deles (achei tão estranho que eu pesquisei). E isso costuma fazer muita diferença.


Corte para a Pediatria

A última pesquisa divulgada sobre Demografia Médica (distribuição dos médicos por especialidade, gênero, idade, entre outros dados publicada em 2.023), conduzida pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, trouxe dados interessantes. Vou ressaltar alguns para me ajudar no raciocínio.

- Total de Médicos registrados no Brasil: 495.716
- Total de Pediatras registrados no Brasil: 48.654 (9,8% - 2ª maior especialidade).
- Distribuição por gênero: Feminino – 75,6% / Masculino – 24,4%.

Só por curiosidade: a especialidade com maior número de médicos é a Clínica Médica (Clínico Geral) e a especialidade com maior número de mulheres atuantes é a Dermatologia (77,9%).

Volta para concluir. A incoerência. Mea culpa... parte-2

Durante esse mês, dois fatos foram bem marcantes. 

O primeiro, por observação, a taxa muito pequena de homens presentes aos eventos relacionados à amamentação. Em alguns deles, não havia nenhum na sala.

O segundo, porque eu quis saber e perguntei, em atividades com profissionais da área de saúde materno-infantil, quantos profissionais homens, especialmente pediatras estavam presentes para se conversar sobre aleitamento materno. E, analisando, muito, mas muito menos do que a representatividade dos quase 25% da demografia médica.

Isso vale para profissionais de saúde materno-infantil de todas as áreas. Mas a falta dos pediatras me chamou demais a atenção. Afinal, nós, pediatras, somos base de referência para os cuidados dessa família e nós cobramos a possibilidade de participação do pai no processo.

Como podemos cobrar algo que nós mesmos não fazemos? O que será que acontece? Se isso acontecesse somente nesse momento, nas minhas participações, eu poderia pensar e concluir que o “problema” sou eu. Mas isso acontece em todos os ambientes em que o tema é aleitamento materno. Isso acontece nos cursos, congressos, jornadas, simpósios sobre amamentação. Em 2.022, participei de um Congresso Interdisciplinar (Mame Bem) com 1.000 participantes em sala. Que eu tenha visto, éramos 3 homens pediatras (eu, Dr. Roberto Chaves e Dr. Tiago Vannucchi). Se havia mais algum, por favor, pode se identificar que eu corrijo aqui.

Talvez, uma análise, uma pesquisa, mereça ser feita para entender por que quem orienta que os pais estejam presentes no processo da amamentação não está presente nos cursos ou conversas sobre amamentação. Sabem tudo? Desculpem, mas acho que não. Poderia pensar em muitas razões (e penso). Mas, fico muito triste para qualquer comentário e nem sei bem o que fazer com essa informação agora. Só sei o que vi.

E isso precisa mudar. Para o bem dos homens, para o bem dos pediatras, mas, principalmente, para os protagonistas da amamentação: a dupla mãe-bebê.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545