Homeopatia

Senta que lá vem história

Muito se fala (bem ou mal) sobre a Homeopatia. Eu mesmo, quando iniciei o meu curso de formação em Homeopatia, queria, na verdade, achar uma forma de dizer que eu conheci e não confiei ou não acreditei no que ensinavam nestes cursos. Como você pode ver, caí do cavalo.

Virei um médico homeopata.

Passei a entender o ser humano de uma forma diferente da que eu conhecia, como um todo (holístico). Entendi que existe algo, difícil de explicar (melhor sentir), uma força que mantém nosso organismo em equilíbrio (força vital).

Enxerguei que quando um alopata, por alguma razão, não tem sucesso no seu tratamento, muda-se o medicamento, muda-se o médico, muda-se o especialista, mas ninguém questiona (e nem deveria) a validade da alopatia.

Por sua vez, quando um homeopata não consegue acertar o seu “remédio de fundo” imediatamente, e você não se cura em 2 meses daquela sua doença (asma, problema de pressão, coluna, sono, etc) que você já tem há 15 anos, questiona-se o médico (“vou voltar pro meu médico normal”), duvida-se do medicamento (“também essas gotinhas ou essas bolinhas docinhas vão resolver alguma coisa ??”) e, pior do que tudo isso, questiona-se a Homeopatia.

Mas, minha intenção aqui não é contar sobre a minha história e sim falar a vocês um pouco sobre a História de Hahnemann e da Homeopatia no mundo e no Brasil.

Venha comigo. Acompanhe-me. Eu serei, por alguns instantes, o seu guia nesta viagem, o seu contador de histórias.

Seria Hipócrates já um "pré-Homeopata"?

Hipócrates(Cós ac. 460 a.C. - Tessália, entre 375 e 351 a.C.) nasceu na Antiga Grécia, considerado por muitos como uma das figuras mais importantes da história da saúde - é freqüentemente considerado o "Pai da Medicina".

Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde. A partir de Hipócrates acaba a medicina mística e começa a medicina baseada em Evidências (tão em moda nos "dias de hoje").

A Homeopatia tem cerca de 200 anos mas a sua semente já foi lançada desde a época de Hipócrates quando ele dizia que deveríamos considerar o Homem em sua totalidade e levar em conta tanto a sua morfologia, seu espírito, sua fisiologia, como seu modo de vida e o meio ambiente em que estava inserido. O corpo não é um conjunto de órgãos mas uma unidade viva que a natureza de cada um regula e harmoniza. Todo corpo tem em si mesmo os elementos para recuperar-se. É a própria natureza, e só ela, que cura. O médico deve limitar-se a segui-la.

Hipócrates escrevia muito e seus textos foram reunidos em tratados e livros conhecidos como Corpus Hippocraticum (53 tratados e 72 livros). Entre todas as suas obras, os Aforismos resumem a doutrina hipocrática, dividida em 7 capítulos (Dieta e as evacuações espontâneas ou artificiais; Sono, febre e doenças; Influência do clima e da idade na doença; Doenças intestinais e as urinas; Doenças pulmonares e ação do calor e frio; doenças das mulheres; Observações gerais).

Para quem ainda não leu, sugiro a obra da Coleção Enciclopédica da editora Paumape – Aforismos e Juramento – Hipócrates (traduzido por Osmar Portugal Filho). Em suas 100 páginas, você vai encontrar a raiz da observação, apenas a observação e anotação dos dados, que levava a conclusões que são conhecidas até os dias de hoje.

Vejam este aforismo (Primeira secção – ítem 3):
"Nos atletas, o estado de saúde levado ao extremo é perigoso; porque não pode assim permanecer, nem ficar longo tempo estacionário; e vez que não pode apenas permanecer estacionário, nem melhorar, queda apenas a possibilidade de mudança para pior. Por isso é bom diminuir tal exuberância de saúde, a fim de que o corpo possa recomeçar a nutrir-se; não carece, entanto, de levar ao extremo o emagrecimento, porque isso seria perigoso, mas levá-lo até a um grau que a natureza do indivíduo possa suportar. Igualmente são perigosas as evacuações levadas ao extremo, e assim também as repleções, se levadas ao extremo."

Alguma semelhança com temas de hoje (anabolizantes, bulimia, anorexia, obesidade e as dietas "milagrosas" para emagrecimento) seriam apenas coincidências ?

Mas, como eu estava dizendo, Hipócrates, se fosse contemporâneo de Hahnemann, poderia ter se tornado o primeiro Homeopata da História da Medicina por algumas de suas idéias:

"O que provoca a estrangúria que não existe, cura a estrangúria que existe"(estrangúria é disúria – ardor e/ou dificuldade para urinar).
Este é um dos preceitos básicos da Homeopatia (o que provoca a "doença-que-não-existe" cura a "doença-que-existe") que está descrito na Lei da Semelhança – um dos pilares da Homeopatia.

"O poder que todas as substâncias da natureza têm de alterar o estado de saúde das pessoas, fato observável pela experimentação acidental e/ou metódica."
Esta é a própria teoria da Experimentação baseada na toxicologia (experimentação acidental) e na patogenesia (experimentação metódica).

Seria Hipócrates um "pré-Homeopata" ????

Mas o que mais se conhece sobre Hipócrates (que muitos ouviram falar, mas não sabem o que é) é o que todo médico deve fazer quando se forma, ao receber seu diploma de forma oficial: O Juramento de Hipócrates."

E para complementar um pouco mais a informação cultural, conheça o caduceu e o bastão de Hermes, confundidos como símbolos da medicina pelo número de cobras que aparecem enroladas no bastão.

Nos links a seguir, você poderá acompanhar as dúvidas a respeito do símbolo:

- Jornal da APM (Associação Paulista de Medicina) Suplemento Cultural - Agosto/2002

- O Símbolo da Medicina – Santa Casa

Mas, com absoluta certeza, tanto Hipócrates quanto Hahnemann conheciam, através de suas observações, o poder que todas as substâncias da natureza têm de alterar o estado de saúde das pessoas, fato observável pela experimentação acidental (toxicologia) e/ou metódica (patogenesia).

Homeopatia e Hahnemann

Em primeiro lugar, peço que me desculpem. Eu sei que vocês estão ansiosos para conhecer tudo sobre a História da Homeopatia, mas não há como falar sobre a Homeopatia sem antes conhecermos a vida de seu criador. As duas histórias estão intimamente unidas.

Assim sendo, deixe-me apresentá-los Christian Friedrich Samuel Hahanemann, ou como vamos chamá-lo daqui pra frente, Samuel Hahnemann, ou apenas e simplesmente, Hahnemann.

Nascido a 10 de abril de 1755, em Meissen, na Saxônia, à leste da atual Alemanha, sob o reinado de Frederico II, da Prússia, em família humilde, ele era filho de um especialista em pinturas de porcelana.

Desde muito jovem, Hahnemann foi preparado para ser um comerciante e, para isso, aprendeu várias línguas estrangeiras: alemão, inglês, francês, espanhol, latim, árabe, grego, hebreu, caldeu. Nem Hahnemann imaginava que este conhecimento lhe possibilitaria, no início de sua vida profissional, sobreviver fazendo traduções e o levaria à maior descoberta de sua vida. Além disso, este conhecimento de vários idiomas auxiliou, e muito, sua formação intelectual tanto no campo das ciências como da filosofia.

Na época, as doenças eram combatidas com atitudes chamadas "heróicas", com o uso de laxativos, vomitivos, sanguessugas, sangrias e outros, que pouco benefício traziam aos que eram assim tratados.

Mas, talvez por seus conhecimentos, talvez pelo seu espírito, Hahnemannficou desgostoso de não conseguir curar realmente seus pacientes e, pela suposta ineficiência da medicina de grande parte dos métodos utilizados na época, se afastou da Medicina, voltou a estudar e trabalhar com produtos químicos e fazer traduções.

Em 1790 (guardem bem esta data) Hahnemann fazia a tradução de uma obra do Dr. Cullen, um médico escocês, que falava sobre as propriedades da "Chinchona officinalis", ou quinina ou quina, introduzida na Europa, mas proveniente do Peru, onde os nativos a usavam para tratamento do paludismo (malária). Neste texto, Cullen atribuia a influência curativa da casaca de quina ao poder que exerce através do fortalecimento do estômago, com produção de uma substância contrária a febre.

Hahnemann não gostou desta explicação, analisou os seguintes fatos (licença histórica-1):

-A Chinchona officinalis é indicada para o tratamento da febre intermitente
-intoxicação pela Chinchona officinalis apresenta "sintomas semelhantes" ao quadro clínico descrito para a febre intermitente.
-Hipócrates, o Pai da Medicina, ja dizia que: "A doença é produzida pelos semelhantes e, pelos semelhantes que a produzem ... o paciente retorna à saúde. Assim, o que provoca uma estrangúria (tosse) que não existe, cura a estrangúria que existe."

Usando de seu senso crítico e analítico, raciocinou (licença histórica-2):

"A principal característica da malária é uma febre alta de "queimação". Eu mesmo já passei por isso e o que eu ganhei foi uma gastrite. Mas o Dr. Cullen é um médico sério. Vou experimentar novamente esta planta."

Mais uma vez, Hahnemann observou a mesma ardência no estômago. Assim, ele concluiu:

"Substâncias que provocam uma espécie de febre cortam as diversas variedades de febre intermitente" ou seja, "a febre cura a febre".

Daí para frente, Hahnemann resolveu "experimentar" em si, nos seus familiares, amigos e depois em seus discípulos uma série de substâncias, observava e anotava os efeitos que apareciam.

Algum tempo depois, Hahnemann passou a experimentar cada uma destas substâncias em doentes que apresentavam os mesmos sintomas que foram observados e anotados anteriormente.

A experimentação começou por aí e, provavelmente, com o conhecimento acumulado por toda uma vida de criou a Homeopatia – que quer dizer semelhante à doença.

Iniciava-se, assim, uma nova teoria médica, diferente e revolucionária para a época e que se baseava em alguns princípios:

-Toda substância ou droga utilizada como remédio homeopático deve ter sido antes experimentada no homem são.
-Os medicamentos homeopáticos devem ser selecionados em concordância com a lei farmacológica de semelhança, onde se observa que tais remédios causam, em indivíduos sadios, os mesmos sintomas que a enfermidade causaria.
-As substâncias utilizadas como tratamento devem ser administradas em doses diminutas, diluídas e dinamizadas (técnica específica para o preparo de medicamentos homeopáticos).
-As drogas homeopáticas indicadas aos pacientes devem ser de remédio único, não de complexos, onde se perderia a referência de qual medicamento estaria fazendo o efeito desejado.

Essas idéias foram postas no papel e um primeiro escrito chamado "Um novo princípio sobre as propriedades curativas de substâncias medicamentosas, com algumas considerações sobre os métodos precedentes", iniciou a divulgação do conhecimento e do estudo sobre esta nova arte de curar que era a homeopatia.

"Similia Similibus Curentur" - os semelhantes se curam pelos semelhantes – esta é a idéia básica da homeopatia. O médico deveria tentar assemelhar ao máximo os sintomas que uma droga é capaz de provocar numa pessoa saudável aos sintomas do paciente, e esta droga, então, seria usada para tratar a doença.

Hahnemann escreve, em parágrafos numerados, a obra que embasa o conhecimento da Homeopatia: Organon da arte de curar. Nesta obra há afirmações que poderiam compor qualquer curso básico de formação médica, como: a "única e nobre missão do médico é a de restabelecer a saúde do doente, que é o que se chama curar". Diz a seguir, que "o mais alto ideal de cura é o restabelecimento pronto, suave e permanente da saúde; é a eliminação e aniquilação da doença, em toda sua extensão, pelo caminho mais curto, seguro e menos danoso possível, apoiando-se sobre princípios claros e facilmente compreensíveis", ou seja, as leis naturais.

A Homeopatia se difundiu pelo mundo e teve grande ascensão no terço final do século XVIII, época de seu aparecimento. Após um século (XIX), com a mudança no pensamento médico e desenvolvimento científico deste período em diante, a Homeopatia inicia seu declínio até os dias de hoje, quando com as novas descobertas na área científica, especialmente no campo da física, ressurge e vem crescendo, agora com base experimental, tanto aos olhos dos outros colegas médicos como dos pacientes que buscam, nesta forma mais completa, menos invasiva e mais definitiva uma cura para seus padecimentos físicos, mentais, emocionais e sociais.


Nota de rodapé

Entre todos, o parágrafo que me norteia e que mais me estimulou a prosseguir no uso e na divulgação da Homeopatia é o parágrafo 3:

"Se o médico perceber com clareza o que há para ser curado nas doenças, quer dizer, em cada caso patológico individual (conhecimento da doença, indicação); se ele perceber claramente o que há de curativo nos medicamentos, isto é, em cada medicamento em particular (conhecimento do poder medicinal); se souber como adaptar, conforme princípios perfeitamente definidos, o que há de curativo nos medicamentos ao que descobriu de indubitavelmente mórbido no doente de modo que obtenha seu restabelecimento; se souber, também, adaptar convenientemente o medicamento mais apropriado segundo seu modo de ação ao caso que se lhe apresenta (eleição do remédio, indicação do medicamento), assim como o modo exato de preparo e quantidade necessária (dose apropriada), e o período conveniente de repetição da dose; se, finalmente, conhece os obstáculos para o restabelecimento em cada caso e for hábil para removê-los, de modo tal que o restabelecimento seja permanente: então ele terá compreendido a forma racional de curar e será um verdadeiro praticante da arte de curar."

Homeopatia no Brasil

O contato inicial da Homeopatia com o Brasil foi realmente histórico, e aconteceu através do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrade e Silva, que conheceu a teoria homeopática por cartas trocadas com Samuel Hahnemann, em 1810.

1810: José Bonifácio era um grande naturalista e mineralogista. Hahnemann era um dos maiores químicos da época. Este fato aproximou-os e Hahnemann, através de suas cartas a José Bonifácio, e querendo difundir esta ciência médica pelo mundo, apresentou-lhe a Homeopatia.
1811: Mas, assim como nos dias de hoje, a Homeopatia provocava polêmica por onde passava. Nessa época, na Faculdade de Medicina e Cirurgia da Bahia, o Prof. Dr. Antônio Ferreira França desestimulava seus alunos a estudar sobre esta ciência “estranha” que vinha da Europa.
1840: Chega ao Rio de Janeiro um discípulo francês de Hahnemann, Benoit Jules Mure com mais cem famílias para tentar instalar na Península do Sahy (vale do Itajaí), na divisa do Paraná com Santa Catarina, uma colônia societária para formar a base de uma comunidade industrial de máquinas a vapor. Bento Mure (como ficou conhecido aqui no Brasil) chegou neste local em 21 de novembro (data em que se comemora a Homeopatia no Brasil). Seu plano fracassou e ele voltou ao Rio de Janeiro mas deixou um seguidor em Santa Catarina (Dr. Thomaz da Silveira, um médico militar) e o Instituto Homeopático do Sahy. Voltando ao Rio de Janeiro, Bento Mure encontrou um dos maiores divulgadores da Homeopatia no Brasil, o Dr. João Vicente Martins, um médico diplomado em Lisboa.
1843: Bento Mure e Vicente Martins fundam o Instituto Homeopático do Brasil, que ficava em sua residência, para onde a população corria buscando consultas e para receber os remédios ali mesmo preparados.
1845: Entre ataques e tentativas de desacreditar a homeopatia, foi inaugurada a Escola Homeopática do Brasil (primeira escola de formação homeopática) que funcionava com autorização do Governo Imperial mas não permitia que seus diplomados exercessem a clínica homeopática.
1847: Bento Mure voltava à França e, enquanto isso, o Dr. João Vicente Martins atravessava as fronteiras do Brasil curando, publicando e divulgando seus tratamentos, e deixando, por onde passava fortes influências. A Bahia (Dr. Alexandre José de Mello Moraes), Pernambuco (Dr. Sabino Olegário Ludeglo Pinho e Carlos Chidloe), o Rio Grande do Sul (Ignacio Capistrano), Sao Paulo (Dr. Joaquim José de Mello, em Lorena) foram alguns dos estados influenciados pela Homeopatia.
1878: Reconstruído o antigo Instituto Homeopático do Brasil com o nome de Instituto Hahnemanniano Fluminense, presidido pelo Dr. Duque-Estrada que, em 1880 passa a se chamar Instituto Hahnemanniano do Brasil – IHB.
1890: São Paulo ganha força na Homeopatia com a participação de Alberto Seabra, Antônio Murtinho de Souza Nobre, Affonso de Azevedo e Magalhães Castro.
1912: Dr. Licínio Cardoso, homeopata gaúcho, preside a recém-criada Faculdade Hahnemanniana com ensino integral de Medicina.
1918: O IHB passa a diplomar médicos e farmacêuticos homeopatas. Nesta época, Rui Barbosa percorria as principais livrarias do Rio de Janeiro, buscando obras sobre os mais variados assuntos, entre os quais se encontravam a oceanografia, a psicologia, a homeopatia . Monteiro Lobato era outro admirador da homeopatia e chegava a se “medicar” com esta técnica terapêutica, utilizando livros que estavam ao alcance de leigos para seu conhecimento.
1924: A Faculdade Hahnemanniana muda de nome para Escola de Medicina e Cirurgia do Instituto Hahnemanniano.
1932: O Conselho de Educação determina que o ensino de Homeopatia não era mais obrigatório no curso de formação médica na Escola Universitária (que tinha, na época, cerca de 1.000 alunos).
1960: Nesta década a Homeopatia quase não existe mais no Brasil e sobrevive às custas de alguns lutadores, em São Paulo e no Rio de Janeiro (Abraão Brickman, Alfredo de Vernieri, Paiva Ramos, David Castro e Artur de Almeida Resende Filho)
1975: Em 30 de dezembro, a Homeopatia foi excluída como disciplina optativa do currículo médico e foi incluída apenas como pós-graduação da Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.
1979: Em 24 de novembro, após discussões encabeçadas pelos dois grandes polos homeopáticos do país na época, São Paulo e Rio de Janeiro, nasce a Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) que representa, atualmente, os médicos homeopatas na Associação Médica Brasileira (AMB).
1980: A Homeopatia é reconhecida como ESPECIALIDADE MÉDICA pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
1990: A AMHB passa a fazer parte do Conselho de Especialidades Médicas da AMB, oficialmente e, desde então, realiza anualmente a prova para obtenção de Título de Especialista em Homeopatia em convênio com a AMB / CFM.

Minha história na Homeopatia

Sou médico formado em 1979 e exerço a Pediatria desde 1985, quando conquistei meu título de especialista. Sempre procurei seguir os ensinamentos que meus mestres me passavam e nunca me arrependi de ser acadêmico. Sempre procurei atender meus pacientes e tratá-los como eu gostaria que meus filhos fossem tratados (acreditem: meus filhos também recebiam e, dependendo da situação, ainda recebem uma chamada minha).

E nesse caminho, sempre senti que me faltava algo mais que eu pudesse usar para benefício mais amplo de meus pacientes. Cada vez que alguma mãe me trazia uma criança com dificuldade de dormir e que acordava gritando à noite (terror noturno), eu explicava a situação e orientava a mãe que este quadro seria passageiro (e realmente era) e que em algum tempo acabaria sozinho (e realmente acabava ... algumas vezes após 1 semana e outras após alguns meses).

Foi quando comecei a ouvir falar sobre Homeopatia. A princípio, como toda novidade que aparece, achava isso um absurdo.

- Não pode dar vacina ?
- Não pode medicar para febre ?
- Não pode misturar com outros remédios ?
- Não pode colocar as bolinhas na mão para tomar ?

Quanta frescura ... E pra que ? Pra que no final, estes pacientes acabassem passando comigo nos Pronto Socorros onde eu trabalhava e os medicasse da “forma adequada”. Lembra daquela história das meias-verdades ?

Pois é. Esta é mais uma delas. Em um certo momento, fiquei curioso e fui procurar um curso para entender melhor o que era a Homeopatia. Este curso durava 3 anos, com aulas de 1 final de semana por mês, de sexta-feira à noite até domingo na hora do almoço. Conhecendo melhor, eu poderia criticar melhor. Era isso o que eu pensava.

Passei por 3 tentativas iniciais até que caí em um Curso que era organizado pelo CEPAH (1995), sob a coordenação de um Proctologista e um Ortopedista. Não dava para ser mais cartesiano e direto, dava ? E foi aí que começou minha surpresa maior.

Após 1 ano de curso eu tinha descoberto a teoria médica que me encantava (e me encanta até hoje) e que tanta diferença poderia fazer para meus pacientes. Só faltava saber se a teoria se aplicava na prática. E não é que funcionava ? E ainda funciona.

Foram 3 anos homeopáticos vividos intensamente), em aulas, em Congressos e Simpósios, preparando e apresentando trabalhos científicos que me valeram muito.

Ao convívio com professores e colegas daquela época (muitos dos quais convivo até hoje) somaram-se mais professores e mais colegas que conquistei e me conquistaram e isso parece não ter fim (graças a D’us).

A Homeopatia é uma troca constante de ensino e aprendizado. Aprendemos com nossos mestres e sua experiência invejável, com nossos colegas e, principalmente, com nossos pacientes. São eles que nos ensinam o caminho, fazendo com que estejamos sempre atentos a cada detalhe (que pode fazer toda a diferença) e ao mesmo tempo ao todo (holisticamente falando).

Eu não seria justo se citasse este ou aquele professor ou aluno e certamente esqueceria alguém muito importante. Então quero simbolizar, na pessoa do meu mestre, do homeopata de minha família, do meu amigo, meu agradecimento a todos os que me ajudaram, neste árduo e interminável caminho, a me tornar o profissional que eu sou e me lembrar, constantemente, o quanto eu ainda tenho que aprender.

 

Muito obrigado Prof. Dr. Marcelo Pustiglione.