Pediatria

Alimentação na gravidez

O futuro do bebê começa a ser delineado a partir do momento em que os pais resolvem engravidar. Assim, tudo o que você fizer durante o período da gestação terá reflexos diretos no desenvolvimento de seus filhos.

Pensando nisso, há necessidade de mudança de alguns hábitos e de adequação de outros para que o bebê possa, pelo menos, ter a chance de se desenvolver dentro do seu potencial.

Os textos a seguir, escritos pela Nutricionista Janice Chencinski, podem ser usados como um bom roteiro para reflexão.

É preciso um programa nutricional especial para a gravidez?

Em alguns casos sim. Ao contrário do que se pensava antigamente, a mulher não precisa comer por dois, porém suas necessidades de nutrientes são diferentes. Neste momento tão especial da vida da mulher é aconselhável que a gestante tome consciência da responsabilidade que tem, e procure seguir uma alimentação equilibrada, mesmo que estes conselhos fossem, por vezes, negligenciados por ela anteriormente.

Portanto, como costumo dizer: não é necessário comer duas vezes mais quantidade, mas o que se come agora é duas vezes mais importante. Quem tem uma nutrição adequada na gravidez tem maiores chances de dar à luz a bebês mais saudáveis.

Há casos de gestantes com diabetes, hipertensão ou hipotireoidismo que necessitam de um acompanhamento conjunto com outros especialistas como endocrinologista, cardiologista ou nutricionista.

É natural que para todas as grávidas haja a prescrição de suplementos vitamínicos e minerais desde o primeiro mês de gestação até o término do aleitamento. Porém vale lembrar que embora sejam necessários, os suplementos não substituem totalmente os alimentos.

Se a grávida puder dispor do auxílio de um nutricionista, a orientação deste profissional será feita de forma individualizada adaptando-se as recomendações nutricionais aos hábitos e preferências da mulher.

Qual seria o maior cuidado alimentar da mulher na gravidez?

Caso antes de engravidar a mulher não estivesse muito atenta ao que comia, e não tenha planejado a gestação, a partir do momento em que souber que está grávida deve procurar o melhor em termos de equilibrar a sua alimentação.

A futura mamãe deve ingerir uma dieta variada, sem excluir nenhum grupo alimentar. As modificações da dieta, quando necessárias, somente serão prescritas pelo profissional habilitado.

A consulta de pré natal deve se agendada já no primeiro mês.

O que não pode faltar no cardápio?

Como reza a cartilha da boa alimentação, durante a gestação é importante fazer pelo menos de 4 a cinco refeições por dia contendo alimentos variados, deve-se tomar bastante água, evitar excessos e não seguir dietas ou modismos alimentares. Neste momento a preocupação com a higiene deve ser redobrada e não se aconselha comer carnes, peixes ou ovos crus.

No primeiro trimestre a criança ainda não ganha peso, portanto não há necessidade de aumentar a ingestão de energia, porém alguns nutrientes como proteínas, vitaminas, especialmente o ácido fólico, ferro e cálcio são necessários em doses superiores às da mulher adulta. A partir do segundo trimestre de gestação a necessidade energética aumenta e acrescenta-se em torno de 200 a 300 Kcal / dia ao cardápio.

O consumo de leite deve ser aumentado?

Sim. O leite e seus derivados (iogurte e queijo, por exemplo) irão garantir o aporte diário de cálcio, mineral cujas necessidades estão aumentadas na gestação e lactação.

Como devem ser as refeições diárias? E os lanchinhos?

As refeições podem seguir o seguinte padrão: 3 refeições maiores como o café da manhã, almoço e jantar com dois lanches intermediários, um no meio da manhã e outro à tarde.

São importantes estes lanches intermediários para garantir a ingestão adequada de nutrientes e favorecer uma boa digestão.

Vale a pena comer alimentos enriquecidos?

Pode-se utilizar leites fortificados com cálcio e vitamina D que são mais concentrados nestes nutrientes, ou se houver anemia, o leite com ferro, ou mesmo aqueles com redução de lactose (açúcar naturalmente presente nos leites) para as mulheres que possuem intolerância a este açúcar.

Alguns produtos como extratos de soja conhecidos como "leites" de soja ou os iogurtes de soja, quando fortificados, podem perfeitamente substituir os produtos lácteos quando a grávida não puder ou não quiser ingerir o leite.

Como seguir uma alimentação equilibrada?

Alimentos ricos em proteínas:
- Carnes em geral
- Laticínios
- Ovos
- Leguminosas
- Nozes e castanhas

Alimentos ricos em ferro:
- Carnes, aves e peixes. Comer duas porções ao dia (uma porção é equivalente a 1 bife pequeno ou 100g ).
- Leguminosas como feijão, soja, lentilha, grão-de-bico, ervilha. Comer uma porção ao dia (uma porção = 4 colheres de sopa de grãos cozidos).
- Hortaliças folhosas de cor verde-escuro como couve, rúcula, agrião, brócoli. Coma 2 porções ao dia. (uma porção = 1 xícara de folhas cruas picadas ou ½ xícara de folhas cozidas).

Observação: O ferro destas fontes alimentares vegetais é melhor absorvido se na mesma refeição se ingerir uma porção de fruta fonte de vitamina C como a laranja, goiaba,acerola, mexerica, morango, abacaxi. 

Alimentos ricos em cálcio:
- Laticínios: Iogurte, leite, queijo.
- Extrato de soja fortificado com cálcio
- Brócoli, espinafre, folha de mostarda.
- Gergelim.
- Sardinha.
- Os laticínios são as fontes primárias de cálcio em nossa alimentação. Procure consumir 4 porções por dia escolhendo entre os mais pobres em gordura. ( uma porção = 1 copo médio de leite ou iogurte ou 1 fatia média de queijo – 30g )

Alimentos ricos em ácido fólico:
- Hortaliças folhosas verdes. Consumir preferencialmente cruas.
- Cereais integrais e seus germes (como germe de trigo)
- Sementes oleaginosas como nozes, castanha-do-Pará, de caju, amêndoa, gergelim, linhaça.
- Leguminosas como feijão, soja, lentilha, ervilha, grão de bico.

Quais maus hábitos precisam ser mudados?

Antes de mais nada, é necessário abolir todos os vícios como o uso de drogas, bebidas alcóolicas e cigarro.

Evitem ficar muitas horas sem comer ou fazer refeições muito volumosas e pesadas, comer imediatamente antes de dormir, tomar pouca água e ingerir muito sal. Estas medidas favorecem a boa digestão e absorção dos nutrientes.

Evitem a auto-medicação. Todos os medicamentos devem ser tomados somente sob orientação médica. Até "o mais inofensivo chazinho" pode ser prejudicial ao feto.

Fugir do sedentarismo. Consultar o médico e saber como "se mexer" é uma boa pedida.

Como cada alimento contribui para o desenvolvimento fetal?

Considerando-se que o feto é uma futura pessoa, e este organismo depende exclusivamente de sua mãe para receber os nutrientes necessários à sua completa formação, muito do que for ingerido pela gestante terá, além da função de nutrição materna, a prioridade de formar este novo ser.

Alimentos construtores contendo proteínas farão parte da estrutura celular do bebê.

Minerais como o cálcio e magnésio, são fundamentais para a formação dos ossos. O ferro é parte integrante do sangue e fundamental para transportar oxigênio para todas as células do corpo.

Gorduras também são necessárias para formação dos órgãos e tecidos e participam da estrutura de hormônios e células nervosas, além de serem veículos de algumas vitaminas.

Vitaminas e minerais são fundamentais em várias reações químicas que ocorrem no organismo humano e são responsáveis pela regulação de diversas funções, inclusive do sistema imunológico.

Quanto a mulher pode engordar durante a gravidez?

Depende de muitos fatores inclusive o peso pré-gestacional.

Quando uma mulher está desnutrida ou muito abaixo do peso ideal, esta poderá engordar até mesmo cerca de 20 Kg na gestação.

Já para a mulher que engravidou obesa ou tendo sobrepeso, não é recomendado engordar mais do que 7 a 8 Kg. Vale ressaltar que mesmo nestes casos, durante a gestação, é totalmente contra-indicado fazer regime de emagrecimento, com risco de haver sérios prejuízos à criança. É necessário se priorizar a qualidade da alimentação.

Em geral, para uma pessoa que engravida com o peso adequado, somam-se de 8 a 12 Kg neste período de 9 meses.

O que deve mudar na alimentação da mulher que amamenta?

O processo de lactação demanda um custo energético maior que o gestação, portanto eleva-se as calorias da dieta em algo em torno de 500 Kcal por dia com uma quantidade de proteína um pouco maior (acréscimo de 16g / dia).

Se a gestante conseguiu se alimentar de acordo com o recomendado, um aumento nas porções dos alimentos, e a introdução de outro pequeno lanche, já garantirá esta elevação no aporte calórico/ protéico necessário.

Neste período onde o organismo da mulher produz o leite que será o único alimento do bebê, é também fundamental que se tome muitos líquidos durante o dia e à noite. A mulher deve também evitar substâncias nocivas que poderão passar para o bebê através do leite materno como o álcool ou outras drogas.