Pediatria

Sono do bebê - o que eu gostaria de ter escrito (mas não fui eu)

Muitas vezes, nos meus passeios pela redes sociais e internet, acho algum texto que eu penso:
"Será que fui eu quem escreveu"? 

E quando vou ver, não foi, mas é como seria se eu tivesse escrito.
Deu para entender?

Bom, vou mostrar que fica melhor.

Achei 5 textos especialíssimos a respeito de SONO DO BEBÊ, escritos pela neurocientista Dra. Andréia C. K. Mortensen

Eles são do Site Guia do Bebê, onde também escrevi algum material.

Sigam essa série de 5 textos. Vale a pena demaaaaisss.

Texto -1: A natureza do sono do bebê
Texto -2: Comer bem para dormir bem

Texto -3: O efeito vulcânico
Texto -4: Fases de crescimento e desenvolvimento que modificam o sono
Texto -5: Retorno ao trabalho: e o sono do bebê, como fica?

Acompanhem a seguir.

Texto - 1: A natureza do Sono do Bebê

Introdução

Link do texto

Para que o bebê tenha um sono tranquilo é fundamental compreender suas necessidades fisiológicas e emocionais

Após a leitura do artigo "O mau sono do filho pode ser culpa dos pais", publicado no site Guia do bebê em 03/03/2010, gostaria de fazer alguns comentários.

O artigo ressaltou que a raiz de muitos problemas de sono estaria no fato de os pais auxiliarem seus bebês a adormecerem e concluiu que eles deveriam ser treinados a fazê-lo sozinhos.

Tenho algumas críticas a esse raciocínio:

PRIMEIRO

... é importante entender que essa inabilidade do bebê de adormecer sozinho, sem ajuda, é de sua natureza. Antes de 2 ou 3 anos não há maturidade neurológica para tal. Então, ao 'treinar' um bebê a adormecer sozinho estamos passando por cima de sua natureza do desenvolvimento, que acontece em fases, em um aprendizado longo e complexo. A matéria parte do princípio de que é preciso condicionar os bebês a não solicitarem aconchego à noite mesmo quando tivessem necessidade, como se uma exigência para um bom sono seria apressar a independência do bebê.

SEGUNDO

as funções do choro, do embalo e do apego devem ser levadas em consideração.

O choro - No início da vida, o choro tem um amplo espectro de funções: bebês choram por fome, necessidade de contato físico, frustração, outras necessidades físicas e emocionais. O choro de frustração não pode ser considerado falso por não apresentar uma razão física visível. Experimentos clássicos mostraram que simplesmente pegar o bebê no colo funciona perfeitamente como uma forma de parar o choro, ainda que eles estivessem famintos (1,2). O choro atendido pelos pais tem importância fundamental para a formação de vínculos e estabelecimento do laço afetivo familiar (3).

O embalo - O bebê precisa ter confiança máxima, conforto, segurança e outros sentimentos mais complexos em quem lhe está adormecendo, que levam ao relaxamento relaxamento físico e mental. A mãe acalenta o bebê com um embalo ritmado, lento, afagos leves e ao som de uma melodia delicada e sussurrante de sua voz, e com isso o bebê se entrega e adormece. Deve-se lembrar também que embalar o bebê lhe confere estímulos sensoriais necessários ao estabelecimento do tônus muscular.

O apego - O colo e o apego, em conjunto com o embalo e a amamentação, são fatores críticos para a continuação do desenvolvimento do bebê fora do útero materno. O bebê humano nasce em desamparo e dependência quase absoluta e necessita ser visto e ouvido por sua mãe ou por outra figura de apego primário, de quem procura e espera uma relação recíproca, na qual seus próprios sentimentos iniciais são retribuídos (4). O bebê 'come amor' como se fosse comida e também a sensação de estar rodeado, contido, visto e seguro (5).

Uma criança que se agarra a um adulto não está sendo mimada nem querendo chamar atenção, mas sim está tentando reduzir o seu alto grau de excitação física e seus elevados níveis de substâncias químicas estressantes, como o cortisol e, ao mesmo tempo, tenta ativar as compostos químicos cerebrais que produzem sentimentos de bem-estar, como a ocitocina. Sua mãe é sua 'base neuroquímica' infalível.

Obrigar a criança a ser independente antes de ela estar geneticamente madura para tal é uma provável causa do surgimento de um apego prolongado, enquanto que a criança que recebeu o cuidado amoroso protetor com sua dependência natural reconhecida estará apta a aperfeiçoar suas potencialidades primitivas de crescer, integrar-se, adaptar-se às exigências do ambiente, desenvolver outras relações interpessoais, habilidades sociais, de convivência e aceitação do outro e de preservar a vida.

TERCEIRO

... técnicas conhecidas como 'choro controlado' e variações em que o choro do bebê é ignorado não oferecem garantias de noites de sono ininterruptas. Tal fato foi, inclusive, revelado em uma pesquisa recente na qual, apesar de 69% dos pais acreditarem que essa técnica funcionaria, somente 1/6 dos pais disseram que ela eliminou completamente os despertares noturnos. (6)

Ainda, pesquisas revelam que quando a criança cumpre um ano, as mães que haviam atendido rapidamente o seu choro, tinham filhos que choravam muito menos que aquelas que haviam optado por deixá-los chorar (7).

QUARTO

... é mito que bebês que são treinados a dormir a noite toda nunca mais acordariam. O bebê muda constantemente conforme seu desenvolvimento e isso interfere em seu sono. Então, é falaciosa a prescrição de soluções eternas para que a criança dormir a noite toda, porque sempre que há mudanças em sua vida (como entrada em escolinha ou mudança de professora, um atrito com amigo na escola, mudança para nova casa, férias, doença, saltos de desenvolvimento e outros) há provavelmente uma causa emocional para a mudança no padrão de sono. Nesses casos, é hora de direcionar todas as atenções a seu filho para que se sinta emocionalmente seguro de as boas noites de sono voltarão.

QUINTO

... a pesquisa citada (publicada originalmente em 2009 na revista "Child Development") tem falhas metodológicas e erros de abordagem que não foram citados. Somente 85 famílias foram entrevistadas e isso torna a amostragem não significativa. Além disso, o texto não deixa claro qual foi a porcentagem real de casais que se adequaram às conclusões do grupo (se a margem de diferença for muito baixa, o estudo deve ser refeito com grupo de amostragem mais amplo).

Os próprios autores concluem no final do artigo que, pelo fato de os dados serem baseados em amostras não-clínicas, todas as implicações clínicas devem ser melhor examinadas adiante, em condições clinicas. Os autores ainda discutem que os dados devem ser melhor explorados em outras culturas e em amostras com mais variados status socioeconômicos para testar sua valia em ambientes que tenham diferentes expectativas, filosofias e valores em se tratando de práticas de educação dos filhos em geral e do sono dos bebês em particular.

Portanto, a abordagem dos pesquisadores passou por uma linha de pensamento que não considera diferentes culturas, crenças e individualidades. Os pesquisadores concluem que todas essas são características limitam a generalização dos resultados. Ainda mais, as associações relatadas entre o sono e cognições maternas foram baseadas em percepções subjetivas e podem ter sido influenciadas pela variância do método compartilhado.

Esses aspectos não foram incluídos no artigo que, portanto, não relatou com acuidade o que foi descrito na pesquisa.

Finalmente

... o artigo publicado continua a oferecer problemas na parte 'Avisos' de hábitos possivelmente perniciosos ao sono.

Alimentá-lo fora do horário? Não é possível, posto que o bebê pequeno precisa mamar em livre demanda para garantir que tenha todas suas necessidades de nutrição e também de sucção não nutritiva saciados. Não há conselho mais prejudicial para o estabelecimento e continuidade da amamentação e, consequentemente, para a saúde dos bebês, do que amamentar com horários predeterminados.

O artigo condena que o bebê durma com seus pais. As conclusões do artigo não consideram bases antropológicas, culturais e tampouco fisiológicas.

co-leito ou cama compartilhada é algo praticado desde os primórdios da raça humana. A necessidade do bebê humano de estar em contato físico com a mãe vem dos tempos em que o ambiente era perigoso e a sobrevivência dependia de contato direto com sua mãe. Somos parte dessa descendência. Além disso, a cama compartilhada é comprovadamente de auxílio para estabelecimento da amamentação e tem efeitos positivos no estabelecimento de ritmos respiratórios, na regulação de padrões de sono, da taxa metabólica, de níveis hormonais, da produção enzimática (ajudando na habilidade do bebê de lutar contra doenças), na taxa de batimentos cardíacos e no sistema imune (8, 9, 10). Pode também ajudar a atender necessidades emocionais do bebê e da criança mais facilmente, levando em consideração os picos de crescimento, a crise de ansiedade de separação que se inicia por volta dos 8 meses e outras fases que vão além do primeiro e segundo ano de vida, nas quais o contato íntimo com a mãe faz toda a diferença.

Portanto, ter um conceito previamente fechado, contrário a um arranjo de sono, pode dificultar a família a lidar com as necessidades que o bebê e a criança manifestem.

ALGUMAS RECOMENDAÇÕES QUE EU DARIA AOS PAIS SERIAM

- Investigue em que lugar o bebê dorme melhor: na mesma cama com os pais, no berço em outro quarto, no berço no mesmo quarto porém distante da cama do casal, no berço no mesmo quarto junto à cama? E onde você dorme melhor? Finalmente, onde você gostaria que seu bebê dormisse? A gama de variações possíveis é grande, pode-se tentar alguns dos arranjos até descobrir como toda a família dorme melhor.

- Alterne maneiras de auxiliar o bebê a adormecer, nem sempre mamando (a não ser nas primeiras semanas quando é impossível manter um bebê acordado após as mamadas), nem sempre embalando, às vezes peça para papai entrar na jogada! Ao aprender que pode adormecer de várias formas, é menos provável que o bebê faça associações fortes de sono que podem levá-lo a requerê-las no meio da noite.

- Reconheça os sinais de sono do bebê: esfregar olhos, bocejar, diminuir atividades, ficar irritado, olhar parado, chorar, em alguns casos, gritar. Crie rotinas de acordo com o cansaço e a necessidade de sono da criança (que vai mudando conforme a maturidade), ou seja, uma sequência simples de eventos que ajude a criança a identificar que a hora do sono está por vir.

- As sonecas são importantíssimas para o desenvolvimento do bebê e para o sono noturno. Ao contrário do que se pode pensar, um bebê exausto luta contra o sono e tem dificuldades de permanecer adormecido. Para serem restauradoras, as sonecas diurnas devem durar pelo menos 1 hora, em média, para bebês maiores de 4 meses. Se o bebê não dorme espontaneamente esse tempo e acorda aborrecido, precisa de ajuda para prolongar as sonecas. Você pode usar um sling e deixar o bebê dormir nele. Se ele dorme em berço ou cama, preste atenção: quando acordar, tente colocá-lo para dormir novamente o mais rápido possível. Às vezes, ficar por perto para intervir antes de o bebê acordar completamente é aconselhável. Esse processo pode ser demorado, mas vale a pena, pois o bebê vai aprendendo a emendar ciclos de sono e tirar sonecas mais longas, que são importantes para um bom sono noturno também.

Referências

1- Wolff, P.H. 1987. The development of behavioral states and the expression of emotion in early infancy: New proposals for investigation. Chicago: University of Chicago Press. (1987). 
2- Our Babies, Ourselves. How biology and Culture shape the way we parent. Meredith F. Small. Anchor Books. (1998).
3- Tocar: o Significado Humano da Pele. Ashley Montagu. Ed. Summus. (1988).
4- Bowlby, J. (1969,1982) Attachment [Vol. 1 of Attachment and Loss]. London: Hogarth Press; New York, Basic Books; Harmondsworth, UK: Penguin (1971).
5- Babies and Their Mothers : D.W. Winnicott. Merloyd Lawrence. ( 1996).
6- Lynn Loutzenhiser, Regina Leader-Post. Have you been awake all night, trying desperately to put your child back to sleep, or does your little one sleep like a baby? The study is being done in collaboration with a contributing editor to Today's Parent magazine. The survey can be found at http://uregina.ca/~loutzlyn/Research.html. (2009).
7- Margot Sunderland, The science of parenting. DK Publishing Inc. (2006).
8-J. McKenna et al., Bedsharing Promotes Breastfeeding, Pediatrics 100, no. 2: 214-219. (1997).
9- J. McKenna et al., "Sleep and Arousal Patterns of Co-Sleeping Human Mother-Infant Pairs: A Preliminary Physiological Study with Implications for the Study of the Sudden Infant Death Syndrome (SIDS)," American Journal of Physical Anthropology 82, no. 3, 331-347 (1990).
10- A Reasonable Sleep. Evolution suggests that if we sleep with our babies, we might help some of them escape sudden infant death syndrome. By Meredith F. Small DISCOVER 13:4. Medicine. (1992).


Texto - 2: Comer bem para dormir bem

Introdução

Link do texto

A alimentação do bebê e da criança pode influenciar seu sono? Certamente! O que e quando você come interfere no sono.

Crianças são mais saudáveis e dormem melhor se tiverem uma dieta equilibrada, contendo uma variedade de alimentos de todos os grupos da pirâmide alimentar.

Uma das chaves para uma boa noite de sono é se alimentar de modo que o cérebro seja "tranquilizado" e não "estimulado" antes de dormir.

Alguns alimentos contribuem para um sono restaurador enquanto outros contribuem para que fiquemos acordados

Alimentos que contêm triptofano (que é o aminoácido precursor da serotonina e melatonina, substâncias indutoras de sono) contribuem para sono. Exemplos: laticínios (leite, queijos, coalhada, iogurtes), produtos de soja (leite de soja, tofu, feijão de soja), frutos do mar, carnes, frango, grãos integrais, feijão, arroz, hummus (ou homus: pasta de grão de bico com semente de gergelim), lentilhas, amendoim e outras nozes, ovos.

Melhor ainda se consumir carboidratos complexos (como grãos integrais) com alimentos ricos em triptofano. Esses carboidratos estimulam a liberação de insulina que auxilia a remoção da corrente sanguínea de substâncias que competem com o triptofano.

Refeições mais leves provavelmente conduzem melhor sono

... ao contrário de refeições gordurosas e fartas, que prolongam o trabalho do sistema digestivo e produzem gases. Algumas pessoas observam que alimentos temperados e apimentados podem produzir azia e então interferir no sono.

Assim, os melhores jantares para o sono são ricos em carboidratos complexos e médios ou baixos em proteínas, como: macarrão integral com queijo parmesão, ovos com queijo, tofu, hummus com pão integral, frutos do mar, queijo coalhada, frango com legumes, sanduíche de atum, feijões (não apimentados), sementes de gergelim, saladas com pedaços de atum com crackers de trigo integral e outros.

Inclua alimentos ricos em vitaminas B: grãos integrais, legumes, fígado, sementes, cogumelos, peixes de fundo de mar, ovos e verduras escuras e alimentos ricos em magnésio: nozes, grãos integrais, semente de girassol, abacate e uva passa.

Por outro lado, refeições ricas em proteínas produzem o efeito contrário, pelo aminoácido tirosina que estimula o cérebro ao invés de relaxá-lo, ou seja, deixam as crianças alertas e energéticas. Portanto evite oferecer ao seu filho no jantar carne vermelha, bacon ou porco, linguiça e presunto.

Além disso as refeições energizam e aumentam o metabolismo e por isso deve-se evitar jantar cerca de duas horas (tempo médio para digestão) antes de ir pra cama(1).

Os melhores lanchinhos antes de dormir

Se teu filho faz um lanchinho antes de dormir, que seja pelo menos meia hora antes de ir para a cama e que sejam ricos em carboidratos complexos e cálcio (que ajuda o cérebro a usar o triptofano e a fazer melatonina) e médio ou baixo em proteínas.

Exemplos: leite (o leite materno tem propriedades indutoras de sono para ambos, bebê e mãe!), leite de vaca (somente para maiores de 1 ano, não alérgicos à proteína do leite de vaca e sem adição de chocolate!), iogurte, coalhada, abacaxi, bananas, abacate, ameixas, peru, semente de gergelim, de girassol, cajus, amendoins (não ofereça nozes antes de 1 ano pelo menos pelo risco de engasgue), cereais de grãos integrais com leite, sanduíche de manteiga de amendoim ou hummus, sorvete, tofu, biscoitos integrais de aveia e uvas passa (2)

Observações importantes sobre o leite de vaca

Mesmo sendo conhecido como indutor de sono, cabe frisar que muitos bebês de menos de um 1 ano têm dificuldade de processá-lo, mesmo as fórmulas especiais para lactentes (menores de 1 ano), e frequentemente podem causar gases.

Leites integrais não são recomendados pelas Sociedades de Pediatria Internacionais para bebês menores de 1 ano. Em caso de impossibilidade de aleitamento materno o bebê deve receber fórmulas apropriadas, pelos seguintes motivos:

- o leite de vaca (de caixinha, de fazenda ou em pó) é rico em gordura saturada que não é adequada ao bebê. Na fórmula infantil essa gordura é substituída por poli-insaturada de origem vegetal, adequada às necessidades do lactente;

- o leite de vaca possui proteínas de difícil digestão para o bebê. Além disso, é altamente alergênico e pode causar rinite, dermatite atópica e amoniacal (dermatite das fraldas), já que o seu excesso de proteínas é eliminado pela urina em forma de amoníaco que pode produzir dermatite na zona genital. Nas fórmulas pra lactentes essa proteína é reduzida e tem estrutura modificada;

- o leite de vaca é rico em minerais (como fósforo) que dificultam a absorção de cálcio e que podem sobrecarregar os rins do bebê. Nas fórmulas esses minerais são parcialmente retirados;

- a fórmula infantil é adicionada de ferro, algumas vitaminas e carboidratos inexistentes no leite de vaca;

- finalmente, a fórmula infantil recebe soro de leite pra tornar a sua composição mais adequada às condições fisiológicas do lactente;

- o leite de vaca pode provocar desidratações no lactente (pois necessitam utilizar mais água de seu corpo para formar urina do que os que se alimentam de leite materno); diarreias (já que o tipo de flora intestinal que se forma quando se alimentam com leite de vaca não os protege tanto quanto a flora formada com o leite materno), anemia (já que o ferro do leite de vaca não é absorvido de forma tão eficiente quanto o leite materno) e, finalmente, o leite de vaca produz micro-hemorragias intestinais nos lactentes, o que também pode favorecer a aparição de anemia (3).

O que evitar nos lanchinhos antes de dormir

Alguns alimentos podem criar problemas de sono, por causar indigestão e gases, e agravar o refluxo nas crianças que sofrem desse mal. Outros têm efeito estimulador no sistema nervoso.

Evite antes de sonecas e no lanchinho da noite: bebidas cafeinadas, chocolate, hortelã, comidas gordurosas e apimentadas, suco de laranja ou outros cítricos, margarina e manteiga, alimentos com aditivos e conservantes artificiais, glutamato monossódico, bebidas carbonadas (como refrigerantes), carboidratos simples (arroz branco, batatas, pão branco, farinhas refinadas em geral) e açúcares refinados.

Os principais bloqueadores de sono

São cafeína, álcool e açúcar, que precisam ser regulados durante o dia e restringidos nas horas que antecedem o sono.

Café, refrigerantes (como as colas) e chás pretos são as bebidas campeãs em cafeína. Somente 15 minutos após uma xícara de café o nível de adrenalina no corpo sobe, o que causa um aumento na pressão arterial, respiração e produção de ácidos estomacais. Vale a pena notar que refrigerantes são fonte rica de cafeína e açúcar e não devem ser consumidos à tarde e à noite para não interferirem no sono.

A cafeína também promove elevação no humor e na energia logo pela manhã, seguido de cansaço pela tarde. Em outras palavras, os efeitos da cafeína no corpo são como a lei da gravidade: tudo o que sobe tem de descer. Basicamente, os efeitos da cafeína revertem os que você deseja se o objetivo é dormir.

Algumas crianças são altamente sensíveis a açúcares em sua dieta, podendo agravar muitos problemas como hiperatividade, nervosismo, irritabilidade e pouca concentração, todos fatores que podem levar a problemas no sono.

Comidas tipo "fast food" são geralmente concentradas em gorduras e contêm sabores e corantes artificiais que são estimulantes e difíceis de digerir. Alimentos que são classificados como "baixo teor de gordura" geralmente contêm açúcar adicional que afeta o sono.

Alguns medicamentos para resfriados e dores de cabeça que podem ser comprados sem receita médica têm alta concentração de cafeína. Leia o rótulo ou pergunte ao farmacêutico.

 

O que fazem os açúcares e carboidratos refinados: a montanha russa

Uma refeição de carboidratos, especialmente ricos em açúcares e gorduras refinadas, vai interferir no sono da seguinte forma: primeiramente se perderão todos os efeitos indutores de sono do triptofano; em seguida, começará a "montanha russa" de açúcar no sangue, pois o organismo dá respostas afoitas face a uma subida rápida do nível de glicose (pois o açúcar é convertido diretamente em glicose e causa súbita elevação de açúcar no sangue, rompendo o delicado equilíbrio de glicose e de oxigênio na corrente sanguínea) e com objetivo de reduzir esses níveis de açúcar na corrente sanguínea, o pâncreas faz uma descarga de insulina no sangue. O nível de açúcar cai drasticamente na corrente sanguínea e isso é seguido de liberação de hormônios do estresse que manterão a pessoa acordada e, logo em seguida, precisará repor esses níveis de açúcar.

Se os níveis de açúcar baixam muito, o cérebro interpreta a informação que recebe como um pedido de socorro. Vem então a sensação de fome, dando assim origem a um novo ciclo. Ou seja, sucessivas operações desse gênero provocam uma montanha russa metabólica que, além de interferir negativamente no sono, podem favorecer a obesidade e a diabetes. Isso leva à hipoglicemia, que então produz agressão, ansiedade e comportamento hiperativo como correr loucamente e escalar em tudo (5).

Essa mesma criança poderia brincar muito bem por algum tempo se tivesse comido uma refeição balanceada, que eleva os níveis de serotonina em seu cérebro, estabilizando seu humor.

Concluindo, só é possível intervir nestes altos e baixos níveis hormonais se tivermos uma resposta insulínica moderada, e para isso é preciso comer menos, mais vezes e melhor, para evitar chegar ao estágio da fome descomedida no qual só nos apetece comer um chocolate ou umas batatas fritas. Uma refeição desse tipo antes de dormir (ou no meio do sono, como mamadeiras engrossadas de farinhas refinadas) provocam mais despertares noturnos.

Cuidado com os sucos

O Ministério da Saúde recomenda, para que as crianças supram as suas necessidades energéticas, que os alimentos complementares oferecidos após os seis meses de idade tenham uma densidade mínima de 0,7kcal/g. Por isso sucos de frutas ou vegetais e sopas são desaconselhados, por possuírem baixa densidade energética. Ou seja, oferecer sucos para bebês menores de 1 ano não é apropriado, pois são líquidos com menor densidade energética e nutrientes que o leite, que deve ser o principal alimento do bebê até 1 ano (5). Em outras palavras, ocupa-se espaço na barriga do bebê que deveria ser do leite com um líquido menos nutritivo e concentrado em açúcar (pela preparação). Possivelmente sua ingestão interferirá no sono. Ainda, se oferecido na mamadeira, pode acarretar confusão de bicos e desmame precoce. O ideal é oferecer somente água ao bebê utilizando-se um copinho (ao início da alimentação complementar por volta do sexto mês, composta de frutas "in natura", legumes e cereais integrais) .

Aditivos alimentares que tem impacto no cérebro

Pesquisas em bebês mostram que ômega-3 (presente em óleo de peixe) é essencial para o desenvolvimento normal do cérebro, pensamento e concentração. Também aumenta os níveis de serotonina. Um estudo mostrou que baixos níveis de ômega-3 estão associados com problemas de comportamento, de aprendizado e de sono (6).

Crianças são particularmente vulneráveis a aditivos alimentares porque seus organismos e cérebros são muito imaturos. Alguns aditivos reduzem os níveis de dopamina e noradrenalina no cérebro, resultando em comportamento hiperativo em algumas crianças (7-19). Então, se seu filho consome sorvete ou refrigerantes de cola e tem comportamento agressivo ou hiperativo, você já sabe a razão. Preste atenção especialmente nos seguintes corantes e aditivos:

- corante amarelo nº 6 tartrazina, que é usado em balas, gomas de mascar e gelatinas, pode provocar reações alérgicas, além de asma, bronquite e urticária (20).

- corante vermelho nº 3 ou carmim, usado em alguns biscoitos, geleias e doces, também é inibidor de dopamina a noradrenalina, e pode levar à perda de concentração e a comportamentos como desordem de atenção e hiperatividade (ADHD).

- benzoatos e parabenos, que são usados em refrigerantes, gelatinas e molhos de salada, são relacionados à asma e à hiperatividade.

- sulfitos (incluindo dióxido de enxofre), encontrados em algumas sobremesas e sucos de frutas.

- nitratos, adicionados a alguns queijos e carnes em conserva como salsichas e salames. Podem causar dores de cabeça e foram relacionados ao câncer em estudos com humanos.

- adoçantes e edulcorantes, são adicionados a refrigerantes, alimentos doces e sucos industrializados, podem reduzir os níveis de triptofano, que é vital para o cérebro sintetizar serotonina, e também podem produzir comportamento agressivo e hiperativo (21).

Idéias para implementar uma dieta que contribua para um sono melhor

Tenha comidas saudáveis em sua casa e não compre guloseimas ou alimentos pouco nutritivos. Assim, quando seu filho estiver com fome, você pode oferecer somente o que é saudável e nutritivo.

Nunca use doces como recompensa ou consolo ao seu filho.

Ofereça bastante água durante o dia, pois até uma desidratação leve pode trazer sentimentos de ansiedade e contribuir para problemas de sono.

Coma mais carboidratos complexos do que processados (incluindo frutas e legumes crus). Grãos integrais devem ser parte diária da alimentação da família.

Certifique-se de que seu filho consome cálcio suficiente. Baixos níveis de cálcio podem causar irritabilidade e nervosismo. As fontes de cálcio são leite, iogurte, queijo, brócoli, sementes de girassol, espinafre, entre outros.

Prefira alimentos orgânicos sempre que possível.

Evite gelatinas e outros produtos com aditivos alimentares que também são prejudiciais ao sono, como descrito acima.

- Sempre que possível, prepare refeições caseiras de ingredientes frescos, pois assim você saberá exatamente o que elas contêm.

Ofereça frutas com farinha de aveia ou aveia em flocos finos, iogurtes naturais (que tal fazer em casa?), queijo branco. Sucos somente das frutas frescas, não ofereça sucos artificiais que têm açucares refinados e outros aditivos químicos, e preferivelmente não antes de 1 ano de idade.

Ao invés dos populares farinhas industrializadas e similares (como mucilon e farinha láctea, que contêm cereais refinados e açúcares, ambos prejudicam o sono), prepare um "super mingau" com cereais integrais, como: arroz integral, milho, soja, cevada, aveia, farelo de aveia, malte, trigo integral, semente de linhaça. Compre os grãos e moa em um processador ou liquidificador, cozinhe em água e acrescente um pouco de leite no final. Não coloque açúcar. Os grãos moídos em casa podem ser estocados no congelador por longo tempo.

- Iogurtes prontos com adição de corantes e aditivos, bolachas açucaradas, maisenas e outros não são alimentos próprios para um bom sono. Esqueça a ideia de "engrossar" o leite do bebê para dormir melhor, o efeito será provavelmente o inverso.

Pode ser que algum alimento da dieta do seu bebê esteja atrapalhando o seu sono e a melhor forma de descobrir isso é observando muito bem os efeitos dos diferentes alimentos em seu humor e saúde.

- Uma ideia bonitinha: crianças se interessam muito mais em comer as refeições se ajudarem a prepará-las! Então invista num livro de receitas para crianças e se divirtam cozinhando juntos!

Referências

  1. Patti Teel. The Floppy Sleep Game Book: A Proven 4- Week Plan to Get Your Child to Sleep, 2005. Editora Berkley Publishing Group.
  2. Dr. William Sears, pediatra americano e autor de mais de 30 livros em puericultura. http://www.askdrsears.com/html/4/t042400.asp
  3. Oliveira MA, Osório MM. Cow's milk consumption and iron deficiency anemia in children. J Pediatr (Rio J). 2005 Sep-Oct;81(5):361-7. Review. Portuguese.
  4. Teves D, Videen TO, Cryer PE, Powers WJ. Activation of human medial prefrontal cortex during autonomic responses to hypoglycemia. Proc Natl Acad Sci U S A. 2004. Apr 20;101(16):6217-21. Epub 2004 Mar 16.
  5. Dez Passos para uma Alimentação Saudável. Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos do Ministério da Saúde do Brasil- http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/10_passos.pdf
  6. Richardson AJ, Montgomery P. The Oxford-Durham study: a randomized, controlled trial of dietary supplementation with fatty acids in children with developmental coordination disorder. Pediatrics. 2005 May;115(5):1360-6.
  7. Artificial food colouring and hyperactivity symptoms in children. [No authors listed]. Prescrire Int. 2009 Oct;18(103):215.
  8. Polônio ML, Peres F. Food additive intake and health effects: public health challenges in Brazil. Cad Saude Publica. 2009 Aug;25(8):1653-66. Review. Portuguese.
  9. Diet and attention deficit hyperactivity disorder. Can some food additives or nutrients affect symptoms? The jury is still out. No authors listed. Harv Ment Health Lett. 2009 Jun;25(12):4-5.
  10. Nutritional intervention in ADHD. Newmark SC. Explore (NY). 2009 May-Jun;5(3):171-4.
  11. Ghuman JK, Arnold LE, Anthony BJ. Psychopharmacological and other treatments in preschool children with attention-deficit/hyperactivity disorder: current evidence and practice. J Child Adolesc Psychopharmacol. 2008 Oct;18(5):413-47. Review.
  12. Schulte-Wissermann H. Kinderkrankenschwester. Do food colorants cause hyperactivity? 2008 Sep;27(9):358. German.
  13. Sinn N. Nutritional and dietary influences on attention deficit hyperactivity disorder. Nutr Rev. 2008 Oct;66(10):558-68. Review.
  14. Weiss B. Food additives and hyperactivity. Environ Health Perspect. 2008 Jun;116(6):A240-1; discussion A241.
  15. Silfverdal SA, Hernell O. Lakartidningen. Food additives can increase hyperactivity in children. Results from a British study confirm the connection. 2008 Feb 6-12;105(6):354-5. Swedish.
  16. Curtis LT, Patel K. Nutritional and environmental approaches to preventing and treating autism and attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): a review. J Altern Complement Med. 2008 Jan-Feb;14(1):79-85. Review.
  17. Barrett JR. Diet & nutrition: hyperactive ingredients? Environ Health Perspect. 2007 Dec;115(12):A578.
  18. Wiles NJ, Northstone K, Emmett P, Lewis G. Junk food' diet and childhood behavioural problems: results from the ALSPAC cohort. Eur J Clin Nutr. 2009 Apr;63(4):491-8. Epub 2007 Dec 5.
  19. Wallis C. Hyper kids? Check their diet. Research confirms a long-suspected link between hyperactivity and food additives. Time. 2007 Sep 24;170(13):68.
  20. Beausoleil JL, Fiedler J, Spergel JM. Food Intolerance and childhood asthma: what is the link? Paediatr Drugs. 2007;9(3):157-63. Review.
  21. Boris M, Mandel FS. Foods and additives are common causes of the attention deficit hyperactive disorder in children. Ann Allergy. 1994 May;72(5):462-8. Review.

 
Texto - 3: O efeito vulcânico

Introdução

Link do texto

Ou: por que sono inadequado durante o dia (falta de sonecas ou sonecas curtas) resulta em extrema irritação e luta contra o sono?

Conheça a fisiologia do sono dos bebês e entenda porque às vezes você erra pensando que está acertando.

Sono é uma necessidade básica da existência humana. Sono adequado é necessário para que bebês descansem, se desenvolvam e para que os hormônios do crescimento atuem e suas necessidades dependem de idade e maturidade. Na primeira infância, os padrões e características do sono são diferentes dos adultos. Vamos discutir um pouco da fisiologia do sono de bebês a partir dos seguintes princípios (1, 2)

Como adultos dormem e como bebês adormecem

Adultos adormecem e entram primeiro em sono profundo "não-REM" (REM da sigla em inglês para “movimentos rápidos dos olhos”), no qual a respiração é superficial e regular e os músculos estão relaxados. Cerca de 1 hora e meia depois, se passa para o sono leve ou ativo (sono REM), no qual os olhos se movem sob as pálpebras enquanto o cérebro se “exercita”: sonhamos e nos movimentamos, podemos até ir ao banheiro e não lembrar de nada. Esses ciclos de sono leve e profundo continuam se alternando a cada 2 horas, em média, ao longo da noite. Resultado: dormimos cerca de seis horas de sono tranquilo e duas horas de sono ativo.

 

Bebês não têm maturidade para adormecerem sozinhos, sem ajuda, e precisam dos pais para isso (embora alguns bebês aceitem ser postos sonolentos no berço). Precisam de um ritual de sono repetitivo, que inclui contato corporal, como embalo, amamentação ou outro. Seus olhos se fecham, sua respiração fica irregular e ele pode se assustar, contrair os músculos e sorrir rapidamente, o chamado "sorriso do sono", e pode continuar a sugar com a boca tremendo. Então, você tenta transferi-lo para o berço e ele acorda imediatamente! Isso acontece porque ele não estava completamente adormecido e, sim, ainda no estágio de sono leve. Tente fazer todo o ritual acima, mas espere mais tempo (cerca de 20 minutos) até que entre em sono profundo: pare de sorrir, a respiração se torne regular e superficial e os músculos relaxem (punhos se abrem e braços e pernas ficam “pendurados”).

Portanto: adultos geralmente vão direto para o estágio de sono profundo, enquanto que bebês começam no estágio de sono leve.

Bebês têm ciclos de sono mais curtos e não dormem tão profundamente como adultos

cerca de uma hora depois de adormecer, o bebê volta à fase de sono leve: começa a se movimentar, parece que vai sorrir, sua respiração torna-se irregular. Essa transição entre sono profundo e sono leve é um período vulnerável a despertares. Muitos bebês acordarão, então, se houver algum estímulo desconfortável ou irritante (fome, sede, barulhos e outros). Se ele não acordar, permanecerá em sono leve durante os próximos 10 minutos e retornará novamente para o sono profundo. Enquanto que os ciclos de sono dos adultos (passagem de sono leve para profundo e depois de volta ao sono leve) duram em média 90 minutos, os ciclos de sono dos bebês são mais curtos, têm de 50 a 60 minutos. Isto significa que os períodos vulneráveis para acordarem à noite acontecem a cada hora, em média. Nesse período vulnerável, você pode colocar uma mão carinhosa em suas costas ou permanecer ao seu lado se ele estiver na sua cama para ajudá-lo a superar esse período de sono leve sem acordar. Concluindo: alguns bebês precisam de ajuda para adormecerem novamente no período vulnerável a despertares entre os ciclos de sono.

Ou seja, bebês levam mais tempo para adormecer e têm mais períodos vulneráveis para acordar (cerca do dobro dos adultos). Isso parece injusto com os pais cansados depois de um longo dia cuidando deles. Entretanto, veja o próximo item e entenderá que essas acordadas mais frequentes existem por uma razão vital e que manipular o ritmo natural de sono do bebê pode não ser de seu melhor interesse (então pense bem antes de adotar métodos de "treinamento de sono" com técnicas e apetrechos).

Acordar durante a noite traz benefícios à sobrevivência e ao desenvolvimento

no início da vida do bebê suas necessidades estão no limite máximo, mas sua habilidade de comunicá-las é mínima. Vamos supor que um bebê dormisse profundamente a maior parte da noite, isso significa que algumas necessidades básicas não seriam supridas. Seus estômagos são diminutos e mamadas frequentes e em livre demanda são as únicas formas de atender todas as suas necessidades nutritivas e emocionais. Além disso, o leite materno é digerido com rapidez. Se a fome não fizesse o bebê acordar facilmente, isso seria um risco para sua sobrevivência. Da mesma forma, se uma dificuldade respiratória ou um ambiente frio não acordassem o bebê e ele não pudesse comunicar tais necessidades, sua sobrevivência estaria em jogo. Bebês, então, têm mais períodos vulneráveis ao sono, acordam mais, demoram mais para dormir. Parece até injusto, mas assim foram programados e há pesquisas que comprovam que o sono ativo os protege (3). Então, encorajar um bebê a dormir profundamente demais, cedo demais, pode não servir ao melhor interesse de sua sobrevivência e seu desenvolvimento

À medida que crescem, os bebês atingem a maturidade do sono

Tudo bem, já entendemos isso, mas a pergunta que não quer calar é: quando, afinal, meu bebê dormirá a noite toda? A verdade é que essa idade varia enormemente entre os bebês. Nos primeiros 3 meses de vida, bebezinhos raramente dormem por mais que 4 horas seguidas sem precisarem de uma mamada. Mesmo assim, eles dormem um total de 14-18 horas por dia. Entre 3 e 6 meses de idade, a maioria fica acordada por períodos maiores durante o dia e alguns podem até dormir por 5 horas seguidas durante a noite (e isso é chamado ‘dormir a noite toda’ para um bebê). Tenha em mente que outros pais geralmente exageram quanto ao padrão de sono de seus bebês, como se isso fosse um distintivo de "boa maternagem", quando, na verdade, não é.

Apesar de atingirem uma maturidade de sono até o final do primeiro ano, muitos ainda acordam por vários motivos, tantos físicos como psicológicos. Acontecimentos importantes no desenvolvimento, como sentar, engatinhar, caminhar, levam os bebês a "praticarem" suas novas habilidades enquanto dormem. Então, entre um e dois anos de idade, quando o bebê começa a dormir durante os estímulos para acordar acima mencionados, outras causas levam-no a acordar durante a noite, como ansiedade de separação e pesadelos. Para revisar com detalhes as fases de crescimento e desenvolvimento que interferem no sono do bebê veja o artigo sobre o tema (6). Finalmente, outro fator que pode fazer uma diferença na qualidade de sono é sua alimentação. Para maiores informações, ler o artigo “Comer bem para dormir bem” (7). 

Agora que já sabemos essas lições essenciais do sono de bebês, vamos discutir a influência do sono diurno (sonecas) no sono noturno. Conforme a criança cresce e ganha maturidade, a quantidade de tempo que consegue ficar acordada e feliz aumenta. Assim, um bebê recém nascido só consegue ficar acordado de 1 a 2 horas antes que o cansaço se instale, enquanto que uma criança de 2 anos consegue durar até 7 horas acordada antes de precisar de uma soneca. Mas apenas após os 4 ou 5 anos de idade (as vezes mais) a criança consegue passar o dia todo sem sonecas e feliz, conforme a tabela e figuras abaixo.

Idade e tempo médio que crianças aguentam acordadas e felizes entre sonecas
Recém nascido 1 - 2 horas
6 meses 2 - 3 horas
12 meses 3 - 4 horas
18 meses 4 - 6 horas
2 anos 5 - 7 horas
3 anos 6 - 8 horas
4 anos 6 - 12 horas

Sono e sonecas

Então, imagine que pela manhã a criança acorda totalmente restaurada, cheia de energia, mas que conforme as horas passam, aos poucos, os benefícios do sono da noite passada são esgotados e ela precisa dormir novamente. Quando entendemos isso e não deixamos a criança ficar muito tempo acordada (“passar do ponto”, como costumamos dizer), e a colocamos para tirar uma soneca assim que percebermos sinais de sonolência, fortalecemos os benefícios do seu reservatório de sono, permitindo que ela ‘recomece’ o dia cheia de energia após cada período dormindo.

Por outro lado, quando não percebemos os sinais de sono (bocejar, esfregar olhos, perder interesse no ambiente, olhar parado, como “hipnotizado”, chorar, puxar cabelos e orelhas, algumas vezes até gritar), e não as ajudamos a adormecer quando os primeiros sinais aparecem (fazendo um ritual de soneca simples, porém repetitivo, com ambiente apropriado: escuro e com sons estáticos ao fundo), ou quando as “forçamos” a ficarem acordadas além de suas necessidades biológicas sem uma soneca, elas ficam exaustas, chorosas e infelizes. 

Conforme os números acima, bebês novinhos aguentam um breve espaço de tempo acordados e a pressão do sono já chega, apenas entre 1-3 horas depois de despertos. Por isso é que recém nascidos dormem várias sonecas ao dia e bebês novos requerem 2-4 sonecas diárias. Conforme o tempo, os ciclos de sono do bebê ganham uma maturidade e eles são capazes de ficar acordados mais tempo entre sonecas. 

Vale à pena reforçar também que, para serem restauradoras, as sonecas devem durar 1 hora no mínimo (para completarem as fases do ciclo de sono). Isso a partir de 3-4 meses, pois antes disso o padrão de sono é muito imaturo. Além disso, recém nascidos geralmente dormem em ambientes barulhentos e com atividades ao redor, mas conforme crescem, ambientes barulhentos e claros são distrações que interferem na habilidade do bebê adormecer. 

Aliás, pesquisas sugerem que até adultos se beneficiariam de uma soneca no meio do dia ou pelo menos uma pausa para descansar (8).

Então o que é esse tal de ‘efeito vulcânico’?

Conforme o dia passa e a pressão do sono se instala, a criança fica mais irritada, chorosa e menos flexível, tem menos paciência, perde a concentração e habilidade de aprender e absorver novas informações.  O termo científico para esse processo é "pressão de sono homeostática". Elizabeth Pantley, em um de seus livros especificamente sobre sonecas (9) chama esse fenômeno de ”efeito vulcânico”, que é o que adotamos também. Todos já vimos esses efeitos em bebês ou crianças. É tão claro como assistir um vulcão entrar em erupção. Observamos uma criança chorosa e irritada e pensamos: "É sono, precisa de uma soneca!" 

Sem o descanso da soneca a pressão homeostática continua se acumulando até o final do dia, crescendo e se intensificando, como um vulcão, até que a criança estará completamente exausta, elétrica e incapaz de parar a explosão. O resultado é uma batalha intensa na hora de dormir com uma criança exausta, ranzinza ou um bebê que não consegue adormecer, não importando o quão cansado esteja!

Isso acontece por que o cortisol, hormônio que sinaliza a vigília, é liberado em quantidades maiores quando a pressão do sono se instala e o descanso não ocorre. Cortisol também é o ‘hormônio do estresse’ que é liberado quando o bebê ou a criança chora (secretado em quantidades potencialmente danosas ao cérebro quando o choro não é consolado e prolongado) (10-15). Cortisol antagoniza os efeitos da serotonina e melatonina, substâncias responsáveis pelo sono. Ou seja, quanto mais tempo acordada, mais cortisol em seu corpinho, mais choro de irritação, que libera mais cortisol ainda, e mais dificuldades de dormir, além de poder acordar muito cedo também pela manhã no dia seguinte. 

Apesar de parecer paradoxal aos olhos de um adulto, isso explica porque a criança muito exausta, ao invés de adormecer facilmente, luta contra o sono.

Imagem

Pior ainda, uma criança que perde sonecas dia após dia acumula privação de sono que a põe no estágio do “vulcão em erupção” mais e mais rápida e facilmente. E pior ainda é se ela está perdendo sonecas e também não tem uma boa qualidade ou quantidade de sono noturno!

Vale lembrar que o efeito vulcânico não acontece só em crianças, mas afeta adultos também, por isso nos vemos ranzinzas e irritados no final de um longo dia e quando as crianças estão irritadas e sonolentas o resultado é uma fileira inteira de vulcões explodindo!

A pressão de sono pode ser intensificada por problemas do ambiente como: noite de sono passada ruim (déficit de sono prévio), estresses diários, mudança na rotina, visitantes, dentes nascendo, doenças e outros. Mais ainda, o estado de espírito de cada pessoa afeta os outros, causando um mau humor contagioso, especialmente em bebês, que são muito especialmente sensíveis ao nosso estado de espírito. 

O conceito do vulcão traz ainda outra observação importante: sonecas de qualidade podem compensar por sono noturno perdido, mas tempo extra de sono noturno NÃO compensa sonecas perdidas (devido ao conceito de pressão de sono homeostático). Portanto, não importa se a criança dormiu bem à noite ou não, suas sonecas diárias são importantíssimas para liberar a pressão de sono em ascensão.

O que fazer para sair desse ciclo vicioso?

Algumas mães relatam que passam o dia todo tentando fazer seu bebê dormir, e muitas vezes isso acontece porque desconhecem o tempo médio que aguentam permanecer acordados fisiologicamente. Então eles “passam do ponto” ou entram em efeito vulcânico frequentemente. Deixam os bebês acordados até tarde da noite, não permitem que tirem sonecas por acreditarem que dormiriam melhor a noite (quando, na verdade, é o oposto), ou tiram sonecas rápidas, de meia hora ou menos, que não completam as fases do ciclo de sono e não são restauradoras. É um ciclo vicioso, uma bola de neve que se inicia logo pela manhã: quanto menos sono nos momentos apropriados, mais dificuldades para os sonos a seguir.

Então, a melhor estratégia para lidar com isso é prevenir que o efeito vulcânico se instale. Em primeiro lugar, investindo na qualidade das sonecas e ajudando o bebê a tirar sonecas restauradoras. Pode-se fazer isso da maneira mais eficiente que a mãe encontrar de adormecer o bebê, e não se esquecendo de proporcionar um ambiente apropriado ao sono (como já dito acima, um ambiente escuro e com sons estáticos ao fundo é o ideal). Sons estáticos são sons repetitivos e que conduzem ao sono, os quais o bebê já está acostumado a ouvir no útero materno, como, por exemplos: som do mar, chuva, oceano, ar condicionado, ventilador, secador de cabelo, rádio fora de sintonia e outros. Uma dica: grave um CD com este tipo de som e toque durante toda a duração da soneca e a noite toda também. Até nós adultos nos beneficiamos disso. Quem não dorme bem quando chove lá fora ou tira uma bela soneca numa rede a beira-mar?

Se for preciso esticar as sonecas colocando o bebê para dormir novamente no meio da soneca, faça-o, pois esse é um aprendizado que o bebê não faz sozinho, ele depende da nossa ajuda. Se o bebê dormir melhor no seu colo ou mamando ou precisar ser embalado novamente, que seja. É importante evitar a progressão do efeito vulcânico e um bebê exausto precisa mais do que nunca de ajuda para adormecer. Novamente, um ritual de sono noturno condutivo ao sono também é importante e é benéfico que as crianças durmam cedo, pois têm tendência a acordar cedo. 

A espécie humana é uma das que nascem mais precocemente no reino animal, até entre os primatas. Isso porque o "preço" da nossa inteligência, o cérebro enorme (que foi evoluindo por milhões de anos), não poderia terminar de se desenvolver no útero da mãe ou o parto não seria possível, em conjunção com outro fator evolutivo: nos levantamos e andamos, somos bípedes. Fato é que bebês nasceram neurologicamente inacabados! São dependentes e precisam de nossa ajuda, toque, carinho, atenção, ser atendidos quando choram, receber colo, ajuda para dormir quando precisam.

Em outras palavras, o bebê sente um mal estar, mas não sabe identificar a causa, não entende que é sono, não sabe como resolver esse problema (ou seja, dormindo), não sabe como pegar no sono, e só tem a linguagem do choro para comunicar suas necessidades (físicas e emocionais).

Para concluir: uma rotina com sonecas estáveis e restauradoras é muito importante, com um ritual de sono noturno que conduza ao sono. O que mais importa, então, é o intervalo entre sonecas e não o horário propriamente dito (lembrando que o intervalo que aguentam acordados vai aumentando conforme sua maturidade). 

Referências

Referências bibliográficas:

1- The Baby Sleep Book: The Complete Guide to a Good Night's Rest for the Whole Family (Sears Parenting Library), Little, Brown and Company; 1st edition, 2005.

2- All night long: understanding the world of infant sleep. Porter L. Breastfeed Rev. 2007 Nov;15(3):11-5. Review.

3- Infant growth in length follows prolonged sleep and increased naps. Lampl M, Johnson ML.Sleep. 2011 May 1;34(5):641-50. PMID: 21532958.

4- Sleep-related changes in the regulation of cerebral blood flow in newborn lambs. Silvani A, Bojic T, Franzini C, Lenzi P, Walker AM, Grant DA, Wild J, Zoccoli G.Sleep. 2004 Feb 1;27(1):36-41. PMID:14998235.

5- Development of fetal and neonatal sleep and circadian rhythms. Mirmiran M, Maas YG, Ariagno RL. Sleep Med Rev. 2003 Aug;7(4):321-34. Review. PMID:14505599.

6- Mortensen, M. Fases de crescimento e desenvolvimento que modificam o sono do bebê e da criança. Guia do bebê, 2011.
http://guiadobebe.uol.com.br/fases-de-crescimento-e-desenvolvimento-que-modificam-o-sono-do-bebe-e-da-crianca/

7- Mortensen, A. Comer bem para dormir bem. Guia do bebê, 2011.
 http://guiadobebe.uol.com.br/comer-bem-para-dormir-bem/

8- A daytime nap containing solely non-REM sleep enhances declarative but not procedural memory. Tucker MA, Hirota Y, Wamsley EJ, Lau H, Chaklader A, Fishbein W. Neurobiol Learn Mem. 2006 Sep;86(2):241-7. Epub 2006 May 2. PMID: 16647282 

9- Elizabeth Pantley, ‘The No-Cry Nap Solution: Guaranteed Gentle Ways to Solve All Your Naptime Problems’. McGraw-Hill; 1 edition (December 2, 2008).

10- France KG.  Behavior characteristics and security in sleep-disturbed infants treated with extinction.  Journal of Pediatric Psychology 1992; 17: 467-475.

11- White BP, Gunnar MR, Larson MC, Donzella B, Barr RG.  Behavioral and physiological responsivity, sleep, and patterns of daily cortisol production in infants with and without colic.  Child Development 2000; 71: 862-877.

12- de Weerth C, Zijl RH, Buitelaar JK. Development of cortisol circadian rhythm in infancy. Early Human Development 2003; 7: 39-52.

13- Goldberg S, Levitan R, Leung E, Masellis M, Basile VS, Nemeroff CB, Atkinson L.  Cortison concentrations in 12- to 18-month-old infants: stability over time, location, and stressor.  Biological Psychiatry 2003; 54: 719-726.

14- Lupien SJ, McEwan BS, Gunnar MR, Heim C.  Effects of stress throughout the lifespan on the brain, behavior, and cognition.  Nature Reviews 2009; 10: 434-445.

15- Gunnar, M. R. Social regulation of stress in early childhood. In K. McCartney & D. Phillips (Eds.), Blackwell Handbook of Early Childhood Development (pp. 106-125). 2006. Malden: Blackwell Publishing.


Texto - 4: Fases de crescimento e desenvolvimento que modificam o sono

Introdução

Link do texto

Seu bebê dormia como um anjo e de repente trocou o dia pela noite? O problema disso pode ser uma causa natural: o desenvolvimento e o crescimento da criança.

O desenvolvimento e o crescimento do bebê no primeiro ano e além podem provocar alterações no seu sono. Veja como saltos de desenvolvimento, picos de crescimento e angústia de separação podem interferir no sono.

O primeiro ano da criança é uma fase de mudanças extraordinárias para toda a família. Esse período é excitante e desafiador, quando bebês aprendem a comunicar suas necessidades e pais aprendem como atendê-las.

Você pode pensar que o desenvolvimento do seu bebê (como aprender a rolar, engatinhar e andar) e seu crescimento não tem nada a ver com o sono, mas a verdade é que caminham juntos! Abaixo uma descrição dos fenômenos chamados saltos de desenvolvimento, picos de crescimento e angústia de separação.

Saltos de desenvolvimento

Saltos de desenvolvimento são aquisições de habilidades funcionais específicas que ocorrem em determinados períodos. O ritmo de desenvolvimento não é constante: há alguns períodos de desenvolvimento acelerado e outros onde há uma desaceleração.

Toda vez que seu bebê desenvolve uma nova habilidade, ele fica tão excitado e obcecado com a conquista que a quer praticar o tempo todo, inclusive durante o sono. Em outras palavras, um dos ‘efeitos colaterais’ desse trabalho todo que o cérebro dos bebês está fazendo é que eles não dormem tão bem quanto o fazem em períodos que não estão trabalhando em dominar uma nova habilidade. Eles podem até resistir às rotinas já estabelecidas.

No período que imediatamente antecede o chamado salto de desenvolvimento, o bebê repentinamente pode se sentir perdido no mundo, pois seus sistemas perceptivo e cognitivo mudaram, houve uma maturidade neurológica, mas não tempo hábil para adaptação às mudanças. Então o mundo lhe parece estranho, e o resultado da ansiedade gerada é geralmente desejar voltar para sua base, ao que já lhe é conhecido, ou seja, a mamãe! Em vista disso, é comum ficarem mais carentes, precisando de mais colo, e com frequência há também alterações em seu apetite e sono.

Então, nessas fases, é preciso apenas ter um pouco de paciência e empatia com o bebê - depois do processo de aquisição da nova habilidade (como rir, engatinhar, sentar, interagir, andar) o bebê dá um salto no desenvolvimento e demonstra felicidade com o final da ‘crise’. Ou seja, por um lado, o bebê fica feliz com a nova habilidade e independência que vem junto, e já é capaz de se afastar um pouco da mamãe. Por outro lado, sente angústias e receios com essa nova situação. Isso lhe traz sentimentos dúbios: é como uma ‘dança louca’ entre separação e apego, onde o bebê irá flutuar entre os dois por um período.

A duração de cada salto é variável, mas geralmente depois de algumas semanas a fase difícil passa e tudo volta à normalidade. Bebês e crianças precisam de cuidados amorosos, empatia e novas experiências, e não de brinquedos caros. Fale com seu bebê, cante, brinque com ele, leia para ele. São atividades chave para o desenvolvimento do cérebro. Os saltos no desenvolvimento não cessam na infância, mas continuam até a adolescência. (1-2).

Essas aquisições ocorrem em vários aspectos: desenvolvimento motor (aprender a usar grupos de músculos para sentar, andar, correr, ter equilíbrio corporal, mudar de posições e outros), desenvolvimento do controle motor fino (usar as mãos para comer, desenhar, se vestir, tocar um instrumento, escrever, e tantas outras coisas), linguagem (desenvolvimento da fala, uso de linguagem corporal e gestos, comunicação e entendimento do que outros dizem), desenvolvimento cognitivo [nos dois primeiros anos de acordo com Piaget ocorre o desenvolvimento sensório-motor, que inclui habilidades de pensamento como aprendizado, entendimentos, resolução de problemas, raciocínio e memória (3)] e desenvolvimento social (interagir e se relacionar com familiares, amigos e professores, mostrar cooperação e empatia).

Saltos por idade

Certa variação entre crianças é esperada, mas uma cronologia observada experimentalmente dos períodos de saltos de desenvolvimento é a seguinte:

5 semanas (1 mês): a visão do bebê melhora, ele consegue ver padrões em branco e preto, passa a se interessar mais pelo ambiente que o rodeia e consegue seguir objetos brevemente com os olhos. Passa ficar acordado por períodos um pouco maiores (cerca de 1 hora ou pouco mais entre as sonecas). É também nessa época que bebê começa a chorar com lágrimas e sorrir pela primeira vez ou com mais frequência do que antes.

8 semanas (quase 2 meses): diferenças nos sons, cheiros e sabores ficam mais perceptíveis. Ele percebe que as mãos e os pés pertencem ao corpo e começa a tentar controlar estes membros. O bebê começa também a experimentar com sua voz. É também nessa fase que o bebê começa a mostrar um pouco de sua personalidade: é agora que os pais começam a reparar quais coisas, cores e sons o bebê gosta mais. Depois desse salto o bebê vai poder virar a cabeça na direção de algo interessante e emitir sons conscientemente. Todas essas novas experiências trazem insegurança ao bebê que provavelmente procura mais o conforto do peito da mãe. Isso pode deixar a mãe preocupada se produz leite materno suficiente, o que não procede, já que a produção se ajusta à demanda (ver abaixo também sobre picos de crescimento).

12 semanas (quase 3 meses): o bebê descobre mais nuances da vida: nessa idade o bebê já pode enxergar todo um cômodo da casa, vira-se quando ouve sons altos, e consegue juntar suas mãos. Vai observar e mexer no rosto e cabelo dos pais e vai perceber que pode gritar. Depois do salto o bebê praticamente não vai mais precisar de apoio para manter a cabeça erguida. Como nos outros saltos, os pais são o porto seguro do mundo do bebê e ele se apoia nisso. Ele pode começar a reagir de maneira diferente fora de casa ou no colo de um estranho. Ao mesmo tempo que o bebê tem uma grande curiosidade em reparar no mundo que o rodeia, ele também é muito sensível às novidades e por isso se sente mais confortável e seguro nos braços dos pais.

19 semanas (4 meses e meio): por volta da 14ª. até a 17ª. semanas o bebê pode parecer mais ‘impaciente’. Esse é um dos saltos mais longos: dura cerca de 4 semanas, podendo porém se estender por até 6 semanas. O bebê chora mais, apresenta mudanças extremas de temperamento e quer mais atenção e colo. Consegue alcançar e pegar um brinquedo, sacudi-lo e colocá-lo na boca, passá-lo de uma mão para outra. Pode ganhar o primeiro dente. Os sons que o bebê emite se tornam mais nítidos e complexos, consegue fazer alguns sons como ‘baba’, ‘dada’. Tudo cheira, soa e tem gosto diferente agora. Dorme menos. Estranha as pessoas e busca maior contato corporal quando está sendo amamentado. Depois desse salto o bebê vai poder virar de costas e de barriga para baixo, e vice-versa, se arrastar pra frente ou pra trás, olhar atentamente para imagens num livro; reagir ao ver seu reflexo no espelho e reconhecer seu próprio nome.

Esse é um dos saltos de desenvolvimento mais significativos e em que um maior número de mães costuma relatar alterações no sono. Provavelmente porque o padrão de sono parecia entrar num ritmo desde que o bebê nasceu, e essa alteração é vista como uma ‘regressão’, na qual o bebê tende a acordar bastante por algumas semanas enquanto está trabalhando no salto. E uma vez que esse salto está completo há somente 1 ou 2 semanas antes de começar a trabalhar no próximo (das 26 semanas), é um longo período de sono ruim e bebê irritado nesse estágio da vida.

26 semanas (6 meses): Já na 23ª semana o bebê parece se tornar mais ‘difícil’. Ele busca maior contato corporal durante as brincadeiras. O bebê já consegue coordenar os movimentos dos braços e pernas com o resto do corpo. Senta sem apoio e põe objetos na boca. Nessa idade ele começa a entender que as coisas podem ficar dentro, fora, em cima, embaixo, atrás, na frente, e usa isso em suas brincadeiras. Ele passa a entender que quando a mamãe anda, ela vai se afastar e isso o assusta, então reclama quando a mãe sai de perto. Depois desse salto o bebê vai ficar interessado em explorar a casa, armários, gavetas, achar etiquetas, levantar tapetes para olhar o que tem embaixo. Ele se vira para prestar atenção nas vozes, consegue imitar alguns sons, rola bem em ambas direções e começa a se apoiar em algo para ficar de pé. Adquire maturidade para receber alimentos sólidos. Essa fase pode durar cerca de 4-5 semanas.

30 semanas (7 meses): o bebê tenta se jogar adiante para alcançar objetos, bate um objeto em outro. Pode começar a engatinhar, a falar algumas sílabas e entende melhor o conceito de permanência das coisas. Pode fazer sinal de tchau. Sente ansiedade com estranhos.

37 semanas (8 meses e meio): o bebê fica ‘temperamental’, tem mudanças frequentes em seu humor, de alegre para agressivo e vice-versa, ou de exageradamente amoroso para ataques de raiva em questão de momentos. Chora com mais frequência. Quer ter mais atividades e protesta se não as tem! Não quer que troquem sua fralda, chupa seus dedos. Protesta quando o contato corporal é interrompido. Dorme menos, tem menos apetite, movimenta-se menos e “fala” menos. Às vezes senta-se quieto e sonha acordado. O bebê agora começa a explorar as coisas de uma forma mais metódica. Passa a entender que as coisas podem ser classificadas, por exemplo, sabe o que é comida e o que é animal, seja ao vivo ou em um livro. Fala "mamá" e"papá" sem distinção de quem é a mãe ou o pai. Engatinha, aponta objetos, procura objetos escondidos, usa o polegar e dedo indicador para segurar objetos.

46 semanas (quase 11 meses): o bebê percebe que existe uma ordem nas coisas e atitudes, por exemplo, que se colocam sapatos nos pés e brinquedos nos armários. Ganha então uma consciência de suas próprias atitudes. Ao invés de separar objetos, passa a juntá-los. Depois desse salto o bebê vai poder apontar para algo ou pessoa a pedido seu, vai querer ‘falar’ no telefone e enfiar chaves nos buracos de chave, procurar algo que você escondeu, tentar tirar a própria roupa. Fala "mamá" e "papá" para a mãe ou pai corretamente. Levanta-se por alguns segundos, movimenta-se mais, entende o "não" e instruções simples.

55 semanas (quase 13 meses): geralmente a fase em que o bebê começa a andar - um salto no desenvolvimento bem significativo. Fala mais palavras do que "mama" e "papa". Rabisca com giz.

64 semanas (quase 15 meses): o bebê combina palavras e gestos para expressar o que precisa, come com as mãos, esvazia recipientes, coloca tampas nos recipientes apropriados, imita as pessoas, explora tudo que estiver à sua frente, inicia jogos, aponta partes do corpo quando perguntado, responde a algumas instruções (por exemplo, “me dá um beijo”), usa colher e garfo, empurra e puxa brinquedos enquanto anda, joga bola, anda de marcha a ré.

75 semanas (17 meses): o bebê usa cerca de 6 palavras regularmente, gosta de jogos de imitação, gosta de esconder brinquedos, alimenta uma boneca, joga bola, dança, separa brinquedos por cor, formato e tamanho. Olha livros sozinho e rabisca bem.

Picos de crescimento

Picos de crescimento são fenômenos que se referem ao crescimento do bebê em si, e não ao seu desenvolvimento. Nos períodos de picos os bebês começam a solicitar mais mamadas do que o usual, pois precisam de mais alimento para crescer nesse ritmo agora mais acelerado. Então o bebê que dormia longos períodos à noite pode começar a acordar mais e solicitar mais mamadas. Esta necessidade geralmente dura de poucos dias a uma semana, seguido de um retorno ao padrão menor de mamadas, mas agora com o organismo da mãe adaptado a produzir mais leite.

É muito importante respeitar a demanda aumentada de mamadas, pois somente com a livre demanda é que a produção de leite materno se ajusta perfeitamente às necessidades do bebê.

Nesses períodos a mãe pode interpretar incorretamente a maior demanda de mamadas do bebê - ela pode achar que seu leite não está sendo suficiente, ou que está ‘fraco’ e pensar que a solução para a situação é oferecer complemento de leite artificial. Porém, é um erro oferecer mamadeiras com leite artificial nesses períodos, pois isso prejudica o equilíbrio perfeito da natureza de produzir o leite conforme a demanda de mamadas. Em outras palavras, ao dar leite artificial perde-se um estímulo poderoso no peito, o organismo assim entende que não precisa daquela mamada, e passa a produzir menos e não mais como é necessário!

Períodos comuns dos picos de crescimento ocorrem por volta dos 7-10 dias, 2-3 semanas, 4-6 semanas, 3 meses, 4 meses, 6 meses e 9 meses e além. Os picos continuando acontecendo no decorrer do crescimento da criança, incluindo a adolescência, momento em que mudanças físicas e emocionais são mais notáveis.

Dra. Jeny Thomas, médica e consultora de amamentação, afiliada a Associação Americana de Pediatria e a Academia de Medicina da Amamentação reflete sobre acreditar na capacidade de amamentar o bebê:

"A maioria das mulheres não acredita que seu corpo que gerou esse lindo bebê seja capaz de amamentar o mesmo bebê. As pesquisas mostram que uso de complemento e desmame precoces estão aumentando. Por que não acreditamos no nosso corpo no pós-parto? Não sei. Mas ouço todos os dias que a mãe está complementando porque "meu leite não o satisfaz, não é suficiente." Claro que é. Bebês precisam mamar o tempo todo- e precisam estar contigo o tempo todo. Essa é sua satisfação máxima.

Um bebê mamando no peito de sua mãe está obtendo componentes para desenvolvimento de seu sistema imune, ativando seu timo, se aquecendo, se sentindo quentinho e confortável, seguro de predadores, tendo padrões de sono normais e ativando seu cérebro (ah, e inclusive) adquirindo alimento para esses processos. Eles não estão somente "famintos" – eles estão obedecendo seus instintos de sobrevivência." (4)

Ansiedade de separação

A partir de 6 a 8 meses, em média, o bebê começar a perceber que é um indivíduo separado da mãe. Essa descoberta lhe traz angústia e pânico, então ele tende a solicitar muita atenção da mãe e pode chorar mais que o usual. Essa fase se completa num longo processo que continua a se manifestar de uma forma ou outra até os dois a três anos, ou até os cinco anos, de acordo com outros especialistas.

É preciso levar a sério a intensidade dos seus sentimentos. O bebê não está “chatinho”, “grudento” nem “manhoso”. Como a mãe é o seu mundo e representa sua segurança, e como a noção de permanência (ou seja, tudo que está longe do campo de visão) não está completamente estabelecida, essa angústia é muito acentuada. A maioria das conexões nervosas no cérebro são feitas na infância e a maneira com que lidamos com as emoções do bebê tem um efeito profundo em como essas conexões se refletirão na capacidade do bebê lidar com suas próprias emoções quando for adulto. Em outras palavras, experiências na primeira infância e interação com o ambiente são as partes mais críticas no desenvolvimento do cérebro da criança. (5)

O sistema de angústia da separação, localizado no cérebro inferior, está geneticamente programado para ser hipersensível. Nos primeiros estágios da evolução humana era muito perigoso que o bebê estivesse longe da sua mãe. Se não chorasse para alertar seus pais do seu paradeiro, não conseguiria sobreviver.

Então, quando o bebê sofre pela ausência dos seus pais, no seu cérebro ativam-se as mesmas zonas que quando sofre uma dor física. Ou seja, a linguagem da perda é idêntica à linguagem da dor. Não tem sentido aliviar as dores físicas, como um corte no joelho, e não consolar as dores emocionais, como a angústia da separação. Mas, infelizmente, é isso o que fazem muitos pais, por não conseguirem aceitar que a dor emocional de seu filho é tão real como a física. Essa é uma verdade neurobiológica que todos deveríamos respeitar.

O desenvolvimento dos lóbulos frontais inibe naturalmente esse sistema de angústia de separação.

É importante entender que o período "crítico" de desenvolvimento emocional e social ocorre nos primeiros 18 meses da criança. A parte do cérebro que regula as emoções, a amídala, é formada cedo de acordo com as experiências que o cérebro recebe. O desenvolvimento de um vínculo emocional, empatia e confiança, e todos os aspectos da inteligência emocional fornecem o fundamento para desenvolvimento de outros aspectos emocionais conforme a criança cresce. Então, nutrir emocionalmente e responsivamente o bebê é importante para que a criança aprenda empatia, felicidade, otimismo e resiliência na vida.

O desenvolvimento social, que envolve auto-consciência e capacidade da criança de interagir com outros, também ocorre em etapas. Por exemplo, compartilhar brinquedos é algo que um cérebro de uma criança de 2 anos não está completamente desenvolvido para fazer bem! Então não se zangue com seu filho menor de 2 anos que não quer dividir os brinquedos. Esta capacidade social é mais comum e positiva em crianças maiores de 3 anos.(6)

Então, se se a mãe tiver que se afastar do filho pequeno para trabalhar ou por outro motivo, muito carinho, conversa, paciência e coerência nas atitudes são necessários para que ele continue tendo confiança nela e supere esse período de crise. É também muito importante certificar-se que o bebê criou um vínculo afetivo com o outro cuidador. (7)

Alguns estudos detectaram alterações a longo prazo do eixo Hipotálamo-Hipófise- Adrenal do cérebro infantil devido a separações curtas, quando a criança fica aos cuidados de uma pessoa desconhecida. Esse sistema de resposta ao estresse é fundamental para nossa capacidade de enfrentar bem o estresse na vida adulta é muito vulnerável aos efeitos adversos do estresse prematuro. (8)

Algumas pessoas justificam sua decisão de deixar o bebê desconsolado como uma forma de “inoculação de estresse”, o que significa apresentar ao bebê situações moderadamente estressantes para que aprenda a lidar com a tensão. Aqueles que afirmam que os bebês que choram por um prolongado período de tempo só sofre um estresse moderado estão enganando a si mesmos, pois livrar-se do bebê ou não consolá-lo (durante o dia ou a noite, quando choram ou pedem mais mamadas ou colo do que o usual) pode resultar em efeitos adversos permanentes no cérebro da criança. Ela pode sentir pânico, o que significa um aumento importante e perigoso das substâncias estressantes no seu cérebro, podendo resultar em uma hipersensibilização do seu sistema de medo, o que lhe afetará na sua vida adulta, causando fobias, obsessões ou comportamentos de isolamento temeroso. (9).

Algumas idéias práticas para reduzir a Angústia de Separação no seu bebê estão no artigo prévio sobre retorno ao trabalho e sono do bebê (link: http://guiadobebe.uol.com.br/retorno-ao-trabalho-e-o-sono-do-bebe-como-fica/), como praticar separações rápidas e diárias, evitar a transferência de colo para colo e entender a ansiedade de separação como um sinal positivo.

Além disso, nessa fase, procure passar todo tempo possível com seu bebê, principalmente se trabalha fora. Separe os momentos logo após o reencontro do dia de trabalho para ter dedicação exclusiva a ele. Sente confortavelmente, faça contato olho no olho, amamente, interaja com seu bebê. Você pode estar cansada e estressada depois da longa jornada de trabalho, mas se conseguir um pouco de energia para receber seu bebê com alegria, você também se sentirá melhor após alguns minutos de uma reconexão significativa. Somente depois pense no jantar, no banho e outros afazeres. Considere promover proximidade na hora de dormir se suspeita que o bebê tem acordado mais a noite por estar passando por um pico de ansiedade de separação.

Outras mudanças

Alguns acontecimentos, como o nascimento de um irmãozinho/a, introdução de alimentos novos (veja dicas de alimentação que promove o sono no artigo -link: http://guiadobebe.uol.com.br/comer-bem-para-dormir-bem/), o retorno da mãe ao trabalho e entrada em creche (veja o artigo prévio sobre esse tema - link: http://guiadobebe.uol.com.br/retorno-ao-trabalho-e-o-sono-do-bebe-como-fica/), viagens, doenças, separação dos pais, atritos com coleguinhas, ausência de um ente querido e outros podem interferir no sono da criança. Tenha muita paciência e ofereça-lhe sempre segurança, assim, gradualmente, a rotina pode ser restabelecida.

Resumindo

Saltos de desenvolvimento e picos de crescimento são eventos diferentes e sua cronologia não se sobrepõe perfeitamente, embora possam ocorrer concomitantemente.

Picos de crescimento tem a ver com alimentação (o bebê quer comer mais, inclusive a noite!) e os saltos tem a ver com desenvolvimento (o bebê pode querer comer e dormir menos).

A angústia de separação é uma fase muito crítica, talvez a mais crítica no desenvolvimento do ser humano. A partir do momento que bebês tomam ciência do mundo ao seu redor eles começam a formar relações importantes com as pessoas em suas vidas, aprendem rapidamente que certas pessoas são vitais para sua felicidade e sobrevivência, e sofrem angústias quando essas pessoas aparecerem e desaparecerem. Isso tem influência direto no seu sono, principalmente se a mãe retorna ao trabalho ou promove um desmame (ou outro tipo de separação) quando o bebê está passando pela ansiedade de separação.

Todos os fenômenos são importantes e podem alterar o sono do bebê. Mas é confortante saber que carinho, apoio, amor, colo, empatia e amamentação em livre demanda, independente da fase que se encontra, é o que o bebê precisa.

UM PLÁ SOBRE PICOS DE CRESCIMENTO E SALTO DE DESENVOLVIMENTO

Afinal, o que significa "Growth Spurt"?
Poderíamos traduzir (não literalmente) como PICO DE CRESCIMENTO.

É um fenômeno que ocorre nos bebês e, no qual, estes solicitam mais mamadas do que de costume. Estas necessidades geralmente duram de poucos dias a uma semana, seguido de um retorno ao padrão menor de mamadas.

A mãe costuma sentir como se não desse conta de produzir leite em quantidade suficiente para o Bebê.

Períodos comuns destes "picos de crescimento" ocorrem por volta dos:
7 - 10 dias;
2 - 3 semanas;
4 - 6 semanas;
3 meses;
4 meses;
6 meses;
9 meses (em torno)

Os picos de crescimento não param no primeiro ano. Podem ocorrer no decorrer do crescimento da criança, incluindo, por exemplo, a adolescência.

Quanto mais o bebê mamar = mais leite produzirá no seio.
Estimule ambos os lados, esvaziando um lado para que depois passe pro outro seio.
Confie em sua produção. Seios murchos não significam menos leite.
Boa parte do leite é produzido na hora da mamada.
É normal, durante o pico de crescimento, que o bebê mame HORAS seguidas.

Fonte: http://www.kellymom.com/bf/normal/growth-spurt.html

 

Bebês não se desenvolvem em um ritmo constante, e sim irregular.

No período que imediatamente antecede um salto de desenvolvimento o bebê repentinamente pode se sentir disperso à mudanças nos sistemas perceptivo e cognitivo que não foram adaptadas ainda no organismo.

Então na tentativa de readaptação, o bebê volta à base, ou seja, à mãe, o que reflete-se em períodos de maior carência afetiva, pedem mais colo, e com frequência afetam o sono e apetite.

Depois de algumas semanas essa fase difícil é superada, e o bebê demonstra ter habilidades novas.

Uma Cronologia aproximada dos períodos de crise é:
- 5 semanas / 1 mês
- 8 semanas / quase 2 meses
- 12 semanas / quase 3 meses
- 19 semanas / 4 meses e meio
- 26 semanas / 6 meses
- 30 semanas / 7 meses
- 37 semanas / 8 meses e meio
- 46 semanas / quase 11 meses
- 55 semanas / quase 13 meses
- 64 semanas / quase 15 meses
- 75 semanas / 17 meses

Nesse período, é esperado que o bebê:
- Procure ficar mais perto da MÃE, ou seja sua base de tudo, pois é o que ele conhece melhor;
- Fique mais carente, precisando de colo, segurança e orientação maternal de perto;
- Coma mal e durma pior;
- Pode pedir para mamar com mais frequência;
- Comece a fazer coisas que não fazia antes da crise tal como rir, sentar, engatinhar, interagir...
- Demonstre felicidade com o final da crise e superação do desenvolvimento adquirido.

Essa fase difícil passa, e tudo volta a normalidade, na mesma naturalidade que iniciou.
Então, durante as crises, é só ter um pouco de paciência, carinho, cumplicidade... que logo logo passa...

Referências

1- Hetty van de rijt, Frans Plooij. The Wonder Weeks. How to stimulate your baby's mental development and help him turn his 8 predictable, great, fussy phases into magical leaps forward. Kiddy World Promotions B.V. 2010.

2- Lopes, R.M. F., Nascimento, R.F.L.; Souza, S. G.; Mallet, L. G.; Argimon, I.I.L. Desenvolvimento Cognitivo e motor de crianças de zero a quinze meses: um estudo de revisão. 2010. 
http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0529.pdf

3- Piaget, J. & Inhelder, B. The Psychology of the Child. New York: Basic Books. 1962.

4- Thomas J., The Normal Newborn and Why Breastmilk is Not Just Food. Retirado do website da pediatra e consultora de amamentação. 2010.
http://www.drjen4kids.com/soap%20box/normal_%20newborn.htm

5- Gopnik, A., Meltzoff, A.N., and Kuhl, P.K. The Scientist in the Crib: Minds, Brains, and How Children Learn. New York: William Morrow & Co. Inc. 1999

6- Shore, R. Rethinking the Brain: New Insights into Early Development. New York: Families and Work Institute. 1997

7- Margot Sunderland. The Science of Parenting. DK Publishing Inc. 2006.

8- Brummelte S, Grunau RE, Zaidman-Zait A, Weinberg J, Nordstokke D, Cepeda IL. Cortisol levels in relation to maternal interaction and child internalizing behavior in preterm and full-term children at 18 months corrected age. Dev Psychobiol. 2010 Oct 28.

9- Pantley. E. No-Cry Separation Anxiety Solution: Gentle Ways to Make Good-Bye Easy from Six Months to Six Years. McGraw-Hill, 2010.


Texto - 5: Retorno ao trabalho: e o sono do bebê, como fica?

Introdução

Link do texto

Frequentemente ouvimos mães preocupadas com seu retorno ao trabalho e como será a reação do bebê que dorme sendo embalado ou amamentado. A verdade é que todas as crianças (e todas as mães) vivenciam um período difícil quando precisam separar-se por causa do trabalho. Neste artigo, seguem algumas dicas que levam em consideração o estado emocional de ambos, mãe e filho, para lidar com essa separação.

Fatos importantes a serem considerados quando o retorno ao trabalho está próximo

1) O desenvolvimento do ser humano no primeiro ano de vida é extraordinário, cada fase, uma necessidade.

O bebê triplica de peso no primeiro ano, se desenvolve em todos os aspectos (motores, cognitivos), começa a andar! Então, não se deve comparar um bebê recém-nascido com um de 4 meses, nem um bebê de 4 meses com um de 1 ano, por exemplos, pois serão praticamente outros bebês.

Cada fase, uma necessidade: bebê novinho precisa muito de colo, aconchego, contato íntimo, amamentação em livre demanda. É da natureza dos bebês quererem colo de suas mães; na verdade esse é um ótimo hábito que foi desenvolvido em milhares de anos de evolução, pois os bebês que não demandavam atenção faleciam e, por isso, a seleção natural fez com que aqueles que viviam no colo sobrevivessem e esse gene foi passado adiante. Essas necessidades vão diminuindo conforme sua maturidade.

A dica é aproveitar essa fase inicial, em que temos disponibilidade, e ficar com o bebê no colo, amamentar em livre demanda, sem privar o bebê do carinho e do colo de mãe que ele tanto precisa e tem direito.

2) Os bebês são inteligentes e têm uma capacidade enorme de adaptação e de distinção de seus cuidadores.

Eles podem reagir totalmente diferente com a mãe e com a babá ou com a professora do berçário (que eles sabem que não é a mãe). A capacidade e a inteligência dos bebês de distinguir seus cuidadores permite que eles criem modos de interação distintos com eles. Porém, é comum e esperado que o bebê demande sempre mais da mãe, porque sabe que pode, porque confia mais nela.

Então, o bebê criará laços afetivos com o novo cuidador e eles se entenderão na nova forma de adormecer. E, no final do dia e à noite, de volta aos braços da mãe, o bebê pedirá mais carinho, mais afago, e muito provavelmente pedirá para mamar para adormecer, mesmo que não o faça com o cuidador durante o dia. Afinal de contas estarão com saudades e sabem que mamãe pode oferecer o peito e curtem estar nos braços de sua referência em amor e confiança.

3) Não compensa promover separação prévia para ‘acostumar’ ou ‘preparar’ o bebê com o retorno ao trabalho.

Não sofram por antecedência achando que têm de acostumar o bebê desde cedo a adormecer sozinho. Bebês não têm maturidade neurológica e compreensão para tal, então essa é uma expectativa irreal. Eles podem ter vários sentimentos e sensações que os perturbem durante a noite e precisam de nossa ajuda. Bebês demandam a mãe, mesmo no período noturno, e, especialmente, se ficaram longe dela durante o dia. A criança tem em sua mãe o referencial de segurança, estabilidade e afeto.

Um bebê nunca fica ‘mal-acostumado’ por ter colo, embalo, acalanto, pelo contrário, precisam disso para continuar a se desenvolver. Revisamos isso em meu artigo anterior ‘A natureza do sono dos bebês’ (1). Portanto, não faz sentido promover um afastamento prévio entre vocês ‘pensando no futuro’; isso só acaba gerando sofrimentos desnecessários para ambos, mãe e bebê. Se a criança não tem colo quando pequeno, não tem no futuro, terá quando, então? Se seu marido tem uma viagem planejada para semana que vem, para ficar um bom tempo fora, você, para se acostumar com a ausência dele, já vai se preparando e deixa de dormir na mesma cama que ele, deixa de beijá-lo e de abraçá-lo? Ou faz o oposto e trata de aproveitar ao máximo os últimos dias antes da viagem?

A questão, portanto, não é fazer o bebê 'se desacostumar' de colo, pois ninguém se desacostuma de uma necessidade física ou psicológica. A questão é, sim, ajudar o bebê a criar confiança em outro cuidador.

4) "Treinar" ou condicionar o bebê a dormir sozinho vai contra sua natureza, e tem consequências.

Condicionar o bebê a adormecer sozinho não vai ajudá-lo no próximo período de afastamento entre vocês, pelo contrário. Para ajudá-lo, é necessário que exista acolhimento e apego entre vocês, contínuo e íntimo, assim seu estado emocional vai se fortalecendo, ele se sente acolhido, importante e atendido, e vai lidar melhor com outras situações de separação.

A maioria de planos de treinamento para bebês oferece o risco de dessensibilização dos sinais enviados, especialmente quando há choro sem consolo envolvido. Em outras palavras, ao invés de ajudar a descobrir o que os sinais enviados pelo seu bebê significam, esses métodos pedem que você os ignore. Nem você nem seu bebê aprendem nada de bom com isso. E, com a separação durante o dia entre vocês pelo retorno ao ao trabalho, a angústia do bebê tende a piorar (2).

Um estudo recente mostrou que os bebês têm capacidade de prever respostas estressantes. Eles foram divididos em dois grupos, no primeiro as mães interagiam com eles continuamente, enquanto que no segundo bebês foram ignorados por elas por somente dois minutos. Os níveis de cortisol, hormônio do estresse, foram medidos após os experimentos. No dia seguinte, o grupo que foi ignorado teve níveis de cortisol mais elevados do que o grupo controle, provando que eles têm capacidade de antecipar o estresse (3).

O cortisol em níveis elevados no cérebro do bebê pode ser corrosivo. O cérebro do bebê está em pleno desenvolvimento e a exposição desse hormônio por períodos prolongados impede a conexão entre alguns nervos e provoca a degeneração de outros. É possível que bebês que são submetidos a muitas noites de choro sem consolo sofram efeitos neurológicos prejudiciais que poderão ter implicações permanentes no desenvolvimento neurológico. Para ler um compêndio de artigos científicos sobre o tema cortisol e efeitos no desenvolvimento cerebral, veja a referência 4.

É preciso ter senso crítico e usar de discernimento quando recebemos conselhos que prometem milagres. Esses métodos de condicionamento envolvem vários riscos; além dos efeitos neurológicos, podem criar uma distância entre você e seu bebê, e ele perde a oportunidade de construir confiança no seu ambiente.

Algumas dicas práticas para mães preocupadas com retorno ao trabalho

Busca de um novo cuidador: procure um novo cuidador que tenha disponibilidade emocional, que tenha chance de criar um laço afetivo com seu bebê, que tenha empatia e carinho, que o carregue no colo, não o deixe chorar e que o embale para dormir. Não é qualquer pessoa que tem preparo emocional para cuidar, acolher e maternar um bebê. É importante que ele se apegue ao novo cuidador, pois é dependente por natureza e precisa desse vínculo. A dependência natural é um fato biológico, e não resultado do excesso de mimo materno (5).

Sendo creche, babá, parente ou outro cuidador, lembre-se sempre da disponibilidade emocional como requisito para cuidar de seu filho, pois não é simplesmente suprir suas necessidades físicas, mas é também dar amor, ter interesse e prover o afeto materno na ausência da mãe. Visite várias creches, procure locais onde dão colo, verifique se deixam os bebês o tempo todo em cadeiras, andadores ou outros aparatos. Se for esse o caso, é sinal que estão desprezando a importância do acolhimento emocional no início de vida do bebê que é tão crítico e fundamental para o resto de nossas vidas.

Para a criança não é suficiente que lhe troquem as fraldas e lhe deem comida. O mais necessário e nobre alimento é o afeto, acompanhado de carinho, prazer e paz (6).

Envolvimento de outra pessoa no ritual de sono: encoraje o pai, por exemplo, a participar do ritual de sono do bebê desde cedo. Ele pode dar o banho e fazer uma massagem, por exemplo. Depois dos 3-4 meses, em média, se o bebê sempre adormece no peito, pode-se começar a alternar maneiras de adormecer para que ele não crie uma associação forte de sugar para dormir (7). Essa dica não é obrigatória considerando-se que os bebês têm capacidade de distinguir seus cuidadores (como citado no início do texto) e vai aprender a adormecer de outra forma com quem ‘não tem peitos’. Existem crianças que dormem mamando com suas mães em casa e na escolinha adormecem de outra forma com as cuidadoras, sem problemas.

Adaptação gradual: O bebê lidará melhor com essa separação se a adaptação for gradual, assim terá uma chance de criar um apego com o novo cuidador antes de separações longas de sua mãe. Para que o novo cuidador crie um bom apego com ele, criar chances de interação antes de deixá-los sozinhos é importante.

Recomendo sempre que a mãe vá junto com o bebê e fique com ele no novo ambiente o tempo todo, pelo menos no início. Assim ele vai se familiarizando com o local, mas com a segurança de ainda estar sob os cuidados da mãe. Depois a mãe pode ir se afastando um pouco, gradualmente, enquanto dá a chance de o bebê se apegar à nova cuidadora. Porém, não há receita pronta, é questão de observar a criança e ter sensibilidade. A melhor qualidade que se pode esperar do cuidador é a empatia com o bebê. Novamente, oriente que lhe dê bastante colo, não o deixe chorar, mostre quais são os sinais de sono do bebê, deixe que ele durma as sonecas no colo para dar um consolo afetivo na ausência da mãe.

- E se o bebê tem ansiedade da separação?

Nos primeiros meses, a relação mãe e filho é altamente intuitiva, primitiva mesmo. O bebê não sabe que nasceu e acha que o corpo da mãe é continuidade do seu e que o seio que o alimenta e lhe dá carinho e prazer faz parte de um todo ao qual ele pertence. Então, gradualmente e após o sexto mês é que os bebês vão se dando conta de que são outros seres e essa percepção de individualidade fica mais clara e evidente. Assim, progressivamente, vai se estabelecendo o desenvolvimento psicoafetivo, motor, alimentar e cognitivo da criança (6).

Algumas idéias práticas ***

Pratique separações rápidas e diárias
Durante seus dias juntos crie oportunidades de expor seu bebê a separações visuais breves, seguras e rápidas (brincar de esconder o rosto e logo reaparecer é ótimo e eles adoram!). Incentive que seu bebê brinque com um brinquedo interessante ou com outra pessoa e, quando ele estiver feliz e distraído com o brinquedo ou com a pessoa, caminhe calma e lentamente para outro quarto. Assobie, cante, murmure uma canção ou fale, de modo que seu bebê saiba que você ainda está por perto, mesmo que não possa vê-la. Pratique essas separações breves algumas vezes ao dia numa variedade de situações diferentes.

Evite a transferência de colo para colo
É muito comum passar o bebê do colo de um cuidador para outro. O problema é que cria ansiedade na criança sair da segurança dos braços da mãe e ser fisicamente transferido para os braços de outra pessoa que lhe é menos familiar. Essa separação física é a mais extrema na mente do bebê. Para reduzir essas sensações de ansiedade faça a mudança com seu bebê num lugar neutro, como brincando no chão ou sentado numa cadeirinha, cadeirão de alimentação ou bebê conforto. Peça para o cuidador sentar do lado de seu bebê e interagir com ele, enquanto isso você fala um ‘tchau’ rápido, porém positivo, num tom feliz. Assim que você sair é um bom momento para o cuidador pegar seu bebê no colo, e a vantagem é que o cuidador vai ser colocado na posição de ‘salvador’ e isso pode ajudá-los nessa relação.

Entenda a ansiedade de separação como um sinal positivo!
É perfeitamente normal - até maravilhoso - que seu filho tenha esse bom apego e que deseje essa proximidade com você e sua presença constante. Parabéns! Isso é a evidência de que o laço afetivo que você criou desde o início está seguro. Se for o caso, ignore educadamente as pessoas que te dizem o oposto.

Relaxe em suas expectativas de independência, isso certamente irá ajudar seu bebê a relaxar também e a ter menos ansiedade nos momentos de separação entre vocês (8).

- Lembre-se, o acolhimento na infância tem resultado positivo na vida adulta!
Uma pesquisa recente (9) revelou que a afeição maternal dada aos bebês torna-os adultos mais bem preparados para enfrentar os problemas da vida. Cientistas compararam dados das relações de afeto e atenção e desempenho emocional de bebês de 8 meses com suas mães. Essas pessoas foram acompanhadas e testadas aos 34 anos de idade sobre vários sintomas emocionais. Qualquer que fosse o meio social, ficou constatado que os bebês com bom apego emocional aos 8 meses tinham os níveis de ansiedade, hostilidade e mal-estar mais baixos quando adultos. Isto confirma que as experiências na primeira infância têm influências na vida adulta.

D.W. Winnicot, um pediatra famoso que depois se tornou psicanalista diz que a capacidade de ser feliz de um ser humano depende, além de todos outros fatores, de um tempo (a infância até os seis anos, mas principalmente o primeiro ano de vida), e de uma pessoa (uma mulher, a mãe). Se a mãe não está presente, outro cuidador que entenda esses conceitos e que atenda as necessidades do bebê se faz necessário.

É uma responsabilidade sim, de assustar! E é realmente intrigante que pessoas tenham filhos sem saberem nada disso, sem se darem conta da importância desse relacionamento profundo, do vínculo necessário que se forma nesse período, e quando as mães retornam ao trabalho fora de casa colocam cuidadores em seu lugar que somente cuidam da parte física (6).

- Não ofereça mamadeira e nem desmame seu bebê: Com o retorno ao trabalho, muitas mães se preocupam porque os bebês não aceitam a mamadeira e tentam todo tipo de bicos e leites artificiais diferentes. Às vezes até mesmo o pediatra sugere o desmame. É situação comum bebês que rejeitam veementemente a mamadeira, isso é sinal de inteligência, pois a primeira reação da natureza é mesmo rejeitar outros tipos de alimentação que não o seio materno.

Na verdade é um erro acreditar que o bebê precisa de uma mamadeira quando você retorna ao trabalho e que você deve acostumá-lo com antecedência. Se você treiná-lo a acostumar-se com uma mamadeira, o que provavelmente acontecerá é um desmame precoce por confusão de bicos. Sempre ouvimos uma história ou outra de bebês que não desmamaram, mas esse risco é grande e não há como prever, então é melhor prevenir e alimentar seu bebê com um copinho.

Além disso, é preciso citar que, mesmo com a oferta de leite materno ordenhado em uma mamadeira, muitos bebês rejeitam. Dr. González (10) explica esse fenômeno:

“E a razão é que os bebês não são bobos. Se a mãe não está em casa e a avó vem com uma mamadeira (ou melhor ainda, com um copinho para evitar confusão de bicos), duas coisas podem acontecer. Primeiro, se o bebê não estiver com fome, ele provavelmente não aceitará nada. Ele vai compensar isso quando a mãe retornar. Muitos bebês dormem a maior parte do tempo quando estão distantes das mães, e então vão mamar à noite. A outra possibilidade é, se o bebê estiver com fome (e especialmente se tiver leite materno na mamadeira), ele poderá tomá-la e pronto. E ele deve estar pensando: ‘Bem, ela não está aqui, então é isso que eu tenho que fazer’. Mas se a mãe está em casa e o bebê pode ver e sentir o peito, como ele vai aceitar um copinho ou mamadeira? Ele deve pensar: ‘Minha mãe deve estar louca, ela tem o peito aqui e quer me dar essa geringonça?’ E ele insiste: ‘É o peito ou nada!’ ”

Se o bebê é novinho e não há possibilidade de ordenha de leite materno, pode-se tentar uma alimentação mista, com a mãe amamentando antes e depois do trabalho e o bebê tomando leite artificial durante o dia. Muitas mães encontram soluções satisfatórias melhores que oferecer leite artificial: algumas levam seus bebês para o trabalho (se o ambiente permite), outras trabalham meio período, algumas conseguem que o bebê seja levado a elas para serem amamentados, outras ordenham e estocam seu leite. Se o bebê já tiver mais de seis meses de idade, pode-se planejar que o bebê se alimente de comida na sua ausência, embora há de se ter cautela se forem os primeiros alimentos.

A amamentação é parte essencial da vida do bebê até 2 anos no mínimo e auxilia na separação parcial entre mãe e filho quando ela retorna ao trabalho fora de casa. Pode-se planejar ordenha de leite materno e continuação da amamentação nos períodos que mãe e filhos estão juntos. O desmame junto com o retorno ao trabalho pode ser bem traumático para o bebê (10):

“Quando você sai para o trabalho (ou quando sai com o cachorro), o seu bebê não sabe onde você está e quanto tempo você vai demorar. Ele ficará muito assustado e chorará como se você fosse deixá-lo para sempre. Vai levar alguns anos até que seu bebê seja capaz de ficar longe de você sem chorar e antes que ele entenda que a ‘mamãe vai voltar logo’. Toda vez que você voltar, vai abraçá-lo, amamentá-lo e o bebê pensará: ‘outro alarme falso!’. Mas se você retornar ao trabalho e tentar desmamá-lo abruptamente e ao mesmo tempo, quando você volta do trabalho, o bebê pede para mamar e você recusa, o que o bebê irá pensar? ‘Ela me abandonou porque não gosta mais de mim.’ Esse é o pior momento para o desmame.”

Então como fica a alimentação do bebê? Se você volta a trabalhar quando o bebê tiver menos de 1 ano, planeje com antecedência como ordenhar (alugue ou compre uma bomba elétrica), estocar e oferecer o leite materno para o bebê. Veja orientações na referência 11. Use um copinho ou mamadeira-colher para oferecer o leite ordenhado e não mamadeira. Se ele tiver mais de 1 ano, pode alimentar-se de sólidos e mamar quando estiverem juntos.

Tenha mente aberta para cama familiar: Alguns bebês passam a mamar à noite com mais frequência para compensar as mamadas perdidas durante o dia quando a mãe volta a trabalha fora. Isso é chamado ‘amamentação em ciclo reverso’ e é um mecanismo de sobrevivência de nossa espécie. Nesses casos, praticar cama compartilhada e amamentar deitada pode ajudar a saciar as necessidade do bebê ao mesmo tempo em que os hormônios da amamentação auxiliam mãe e bebê a adormecerem novamente (12-14). O bebê fica mais tranquilo ao saber que, mesmo passando o dia todo longe da mãe, à noite estará com ela. A proximidade com o corpo materno sintoniza as pautas de sono do bebê com as da mãe e regula o seu nível de excitação, temperatura corporal, o ritmo metabólico, níveis hormonais, ritmo cardíaco, respiração e sistema imunológico, pois o efeito anti-estresse do estreito contato físico libera ocitocina, que fortalece o sistema imunológico do bebê (12-15).

Nem todas as famílias adotam cama compartilhada por receio de ser difícil conseguir que a criança durma sozinha depois. A reflexão aqui é de que as necessidades mais intensas de proximidade se dão na primeira infância: bebês têm necessidade de proximidade com a mãe (15) e a cama compartilhada responderia a essas necessidades. Mais tarde, seria um outro momento, com o bebê com outra cognição, maturidade e evolução.

Se a criança dorme longe dos pais à noite, fica longe durante o dia e, principalmente, se o bebê não mama mais no peito (portanto não tem o contato íntimo da amamentação), precisa de alguma compensação afetiva e se beneficiaria da proximidade da cama familiar. O mesmo acontece se o bebê estiver em processo de angústia da separação, que se inicia entre 6-8 meses e vai até 2-3 anos, com altos e baixos.

Quando os bebês sinalizam que precisam de contato corporal com os pais, mostrar empatia, entender e acolher é excelente, pois a criança que se recusa a dormir pode estar precisando de mais contato corporal com o pai e a mãe. É uma necessidade primitiva da criança ter contato íntimo com a pele do corpo de outra pessoa enquanto adormece, mas isso se choca com todas as regras culturais que exigem que as crianças durmam sozinhas (16).

Procure seus direitos de licença maternidade de seis meses, negocie com o chefe, tire férias junto com a licença, adie alguns planos, trabalhe meio período, procure um emprego mais flexível, procure trabalhos que possa fazer em casa.

Esses dois meses a mais fazem toda a diferença para a criança: a amamentação exclusiva por 6 meses diminui o risco de alergias (17), dermatite atópica (18), asma (19), infecções gastrointestinais (20), doenças contagiosas (21), otite média, infecções respiratórias agudas, gastroenterite, infecções urinárias, conjuntivite e candidíase oral (22). A introdução de alimentos aos 6 meses é feita na hora ideal, quando o bebê já tem capacidade fisiológica para assimilar os alimentos novos (23). Muitos bebês têm reações indesejadas com a introdução de alimentos antes dos seis meses, como prisão de ventre, refluxo, cólicas e é claro que tudo isso atrapalha o sono. Se não tem outra solução, invista na ordenha, estoque e oferecimento de leite materno para o bebê até os 6 meses. Veja na referência 11 como ordenhar e estocar o leite materno e utilize um copinho ou mamadeira-colher para oferecer ao seu bebê. Muitas mães que trabalham podem e devem investir na amamentação exclusiva por 6 meses e esse trabalho todo compensa.

Lidando com a separação: entenda a reação do bebê e mostre empatia (apesar do cansaço): sua volta ao trabalho e afastamento é algo bem complicado para um bebê, porque é você a mãe dele, você é insubstituível da forma que você é para seu filho. Outros cuidadores irão criar vínculos afetivos com seu bebê, mas a mãe tem outro peso. Entenda a amamentação em ciclo reverso como uma forma de compensação afetiva. Entenda e acolha as necessidades do bebê (que são simples, mas são intensas, de muito contato íntimo, colo, peito). Esse acolhimento é essencial para o desenvolvimento de sua autoestima no futuro.

O padrão de sono do bebê com outro cuidador pode mudar e essa mudança pode interferir no sono noturno. O bebê cansado (caso não tire boas sonecas na escolinha, por exemplo) está secretando mais cortisol, que causa agitação fisiológica, irritação e dificuldades de adormecer. A exaustão é contraproducente com o sono, pois quanto mais exausto, mais lutará contra o sono e mais acordará à noite. Se as sonecas estão muito curtas na escola é comum que o sono noturno também seja influenciado. Orientar as cuidadoras a esticarem as sonecas, explicar a importância das sonecas durarem pelo menos 1 hora para serem restauradoras, usar algum barulho estático ao fundo para ajudar nas sonecas são atitudes que você pode tomar.

Referências

1- A natureza do sono dos bebês

2- William Sears, Martha Sears, Robert Sears, James Sears. The Baby Sleep Book: The Complete Guide to a Good Night's Rest for the Whole Family. Little, Brown and Company; 1 edition, 2005.

3- Haley DW, Cordick J, Mackrell S, Antony I, Ryan-Harrison M. Infant anticipatory stress. Biol Lett. 2010 Aug 25.

4- Sears, W. A ciência diz: choro prolongado no bebê pode ser prejudicial ao desenvolvimento cerebral- http://www.askdrsears.com/html/10/handout2.asp

5- Bowlby, J. Attachment [Vol. 1 of Attachment and Loss]. London: Hogarth Press; New York, Basic Books; Harmondsworth, UK: Penguin. 1982.

6- José Martins Filho. A Criança Terceirizada. Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo. Editora Papirus, 2007.

7- Pantley, E. Soluções para noites sem choro. Editora M Books, 2005.

8- Pantley. E. No-Cry Separation Anxiety Solution: Gentle Ways to Make Good-Bye Easy from Six Months to Six Years. Editora McGraw-Hill, 2010.

9- Maselko J, Kubzansky L, Lipsitt L, Buka SL. Mother's affection at 8 months predicts emotional distress in adulthood. J Epidemiol Community Health. 2010 Jul 26.

10- Carlos González. My Child Won't Eat!: How to Prevent and Solve the Problem (La Leche League International Book). 2005.

11- Extração e Conservação do Leite Materno: http://www.aleitamento.com

12- McKenna JJ, Why babies should never sleep alone: a review of the co-sleeping controversy in relation to SIDS, bedsharing and breast feeding, Paediatr Respir Rev. 2005 Jun;6(2):134-52.

13- McKenna JJ, Mosko SS, Richard CA. Bedsharing promotes breastfeeding. Pediatrics. 1997 Aug;100(2 Pt 1):214-9.

14- Mosko S, Richard C, McKenna J, Drummond S, Mukai D.; Mosko S, Richard C, McKenna J. Maternal sleep and arousals during bedsharing with infants. Sleep. 1997 Feb;20(2):142-50.

15- Margot Sunderland, The Science of Parenting. DK Publishing Inc. 2006.

16- Freud, Anna: Infância normal e patológica: Determinantes do Desenvolvimento, 4ª. ed., Ed. Guanabara, RJ: 1987.

17- Anderson J, Malley K, Snell R. Is 6 months still the best for exclusive breastfeeding and introduction of solids? A literature review with consideration to the risk of the development of allergies. Breastfeed Rev. 2009 Jul;17(2):23-31. Review.

18- Yang YW, Tsai CL, Lu CY. Exclusive breastfeeding and incident atopic dermatitis in childhood: a systematic review and meta-analysis of prospective cohort studies. Br J Dermatol. 2009 Aug;161(2):373-83. 2009 Feb 23. Review.

19- Fiocchi A, Assa'ad A, Bahna S; Adverse Reactions to Foods Committee; American College of Allergy, Asthma and Immunology. Food allergy and the introduction of solid foods to infants: a consensus document. Adverse Reactions to Foods Committee, American College of Allergy, Asthma and Immunology. Ann Allergy Asthma Immunol. 2006 Jul;97(1):10-20; quiz 21, 77.

20- Kramer MS, Kakuma R. Optimal duration of exclusive breastfeeding. Cochrane Database Syst Rev. 2002;(1):CD003517. Review.

21- Duijts L, Jaddoe VW, Hofman A, Moll HA. Prolonged and exclusive breastfeeding reduces the risk of infectious diseases in infancy. Pediatrics. 2010 Jul;126(1):e18-25. 2010 Jun 21.

22- Ladomenou, F., Moschandreas J., Kafatos A., et al. Protective effect of exclusive breastfeeding against infections during infancy: a prospective. Study. Arch Dis Child. Published online September 27, 2010.

23- Kramer MS, Kakuma R. The optimal duration of exclusive breastfeeding: a systematic review. Adv Exp Med Biol. 2004;554:63-77.