Psicologia

Separação

É melhor se sofrer junto que viver feliz sozinho?

Essa é parte da letra da composição de Vinícius de Morais (Tomara). Será mesmo?

As atuais estatísticas do IBGE mostram que, pelo menos no Brasil, essa já não é mais uma verdade absoluta. Em 2.007, para cada 4 casamentos, ocorria uma separação e desde 1984 houve um aumento de 200% na taxa de separações (divórcios diretos e separações). 

Essa é uma situação muito difícil e estranha, mas uma ótima chance para iniciar mudanças. Se tudo estivesse bem e os casais estivessem de acordo na maioria das decisões, possivelmente eles estariam ainda juntos. E quando nasce um filho, a decisão da separação é mais difícil e costuma ser adiada (tudo "em nome do filho"). 

Apesar de sabermos que o vínculo familiar deve ser mantido, mesmo à custa de algumas concessões, se os limites forem ultrapassados e o momento certo for perdido, essa insistência pode gerar mais prejuízos do que benefícios. Assim como é importante aprender a conviver com as diferenças, é fundamental saber o momento certo de parar, quando ainda existe respeito e, às vezes, até amor. E isso é bom para a família toda.

Assim, uma primeira dica:
Quando aparecerem sinais que possam indicar uma dúvida quanto ao caminho a seguir no casamento, consultem um especialista.
Sugestão?

Terapia de casal.

É bom para aprender a revigorar um relacionamento, desatando nós que podem dificultar a vida familiar e é bom para que o casal aprenda, se for o caso, a se separar, mantendo o respeito e a convivência que poderá ser necessária no futuro.
Se esses passos forem seguidos, a educação futura do filho desses pais separados pode ter uma esperança. Caso contrário... os problemas podem estar apenas começando.

Evidente que após a separação os conflitos de idéias e ideais se acirram. Afinal, não há mais razões para se fazerem concessões. Ao contrário, as oportunidades costumam ser utilizadas para mostrar e provar, por A + B, que "eu estava certa (o) e ele (a) estava errado (a)". E pode parecer incrível, mas muitas vezes, para algumas pessoas, isso é mais importante do que seguir em frente com a sua própria vida e a de seu filho.

Juntos ou separados, os pais são os responsáveis pela educação e saúde de seus filhos. Afinal, ex-marido e ex-esposa existem; ex-pai, ex-mãe e ex-filhos não.

Superadas as emoções negativas iniciais, é importante que pai e mãe conversem. Se não conseguirem fazer isso sozinhos, peçam novamente ajuda, que aqui pode ser dupla: acompanhamento psicológico (para chegarem juntos a alguma conclusão) e jurídico (para colocar essas decisões em prática).

Para concluir, há alguns conceitos que devem sempre pautar esse relacionamento com os filhos:

Essa criança, em algumas situações, tem a fantasia de ter sido culpada pela separação e que deve ser o responsável pela reconciliação. Outras vezes, passa pela cabecinha deles que se papai e mamãe deixaram de se amar, eles podem deixar de amá-los também. Eles não entendem que marido e mulher se separaram, mas que papai e mamãe, na imensa maioria das vezes, ainda existem.

É importante e fundamental que a criança sinta-se amada, independente do relacionamento dos pais. Papai e mamãe deixaram de se amar, mas, em momento algum, deixaram de amar seu filho. Só saber disso não é suficiente. É importante, para as crianças, a demonstração desse afeto.

E isso não se consegue comprando esse amor. Não deve haver competição para saber quem ama mais ou menos. Cada um de nós tem sua própria maneira de demonstrar esse amor.

Em qualquer relacionamento, nunca deve faltar o respeito. Dentro da família, esse foco precisa ser sempre mantido. Assim, mesmo separados, em momento algum, nem papai e nem mamãe devem demonstrar desrespeito ao outro, nem em relação à criança.

O filho não pode e nem deve ser "utilizado" como depositário do desentendimento do casal. É uma carga muito pesada para a qual a criança não está (e nem deveria estar) preparada. Esse não é o seu papel. Respeitando para ser respeitado.

Está ficando cada vez mais difícil? Não deveria.

"Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço", aqui, não é uma boa política. Sejam coerentes para que a criança se sinta segura. 

O ex-casal não precisa ter as mesmas idéias, mas é fundamental que ajam de uma forma coerente, respeitando a opinião do outro. A criança não pode ter a responsabilidade de escolher entre um e o outro.

Ela ficará confusa se tiver que "descobrir" quem está certo ou não.

Esse é um problema muito comum, um "nó" muito difícil de ser trabalhado. O casal se sente culpado em relação aos filhos pela separação. Assim, para "compensar essa culpa" começam a agir de forma incoerente.

Rotinas são modificadas, concessões perigosas são feitas gerando instabilidade na vida das crianças. As regras não devem mudar porque o casal se separou. A rotina precisa ser mantida para segurança e bom desenvolvimento da criança. 

Responsabilidade, sim; culpa, não.

 

Sou pediatra e homeopata. Muitas vezes, em meu consultório, sou uma das primeiras pessoas não pertencentes à família que fica sabendo que um casal está se separando. 

Como assim?
Simples. Além da animosidade do casal, durante a consulta, crianças, antes saudáveis, adoecem com mais freqüência, demonstrando, de uma forma muito clara, que algo não vai bem. 

Então, doenças psicossomáticas não acontecem só em adultos? Atualmente temos, cada vez mais, crianças adoecendo como gente grande. Obesidade, problemas de colesterol e triglicérides, diabetes, hipertensão são alguns desses exemplos. Junte-se a essas patologias, um aumento da incidência de quadros comportamentais (depressão, ansiedade, angústia) gerados pelos novos tempos e novos hábitos. O quadro não fica bonito, não é mesmo?

E não adianta tratar somente as doenças. Enquanto a base e a estrutura familiar não se estabilizarem, mesmo nos casais separados, a criança continua a adoecer. 
Mas, a partir do momento em que essa criança sente-se mais amada, acolhida e segura, o caminho de sua cura é muito mais facilitado. 

Assim, um conselho para os pais, para que possamos fazer crescer uma nova geração mais segura, mais saudável, mais equilibrada. Fortaleçam o vínculo familiar com amor e respeito. Aprendam com seus filhos e para os seus filhos. Afinal: Quem ama se educa.