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Doutor, meu bebê não dorme!...

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... não mama, não quer comer, chora demais, morde outras crianças com frequência. São algumas das muitas queixas que inundam as consultas de puericultura em busca de respostas que aliviem a angústia que contagia toda a família.

Frequentemente o pediatra não encontra qualquer disfunção que explique o sintoma. Alguns reconhecerão um traço emocional na origem desses distúrbios funcionais, mas desconhecem encaminhamentos que possam ser eficazes e rápidos. A ideia de um atendimento psíquico muitas vezes não é facilmente recebido pelos pais, que buscam alívio rápido para angústias que se tornam insustentáveis.

Os primeiros três anos de vida de uma criança formam o alicerce de toda sua vida, seja do ponto de vista de seu desenvolvimento fisiológico, seja psicoafetivo. Dificuldades nessa etapa de vida podem comprometer todo o aparelho mental da criança, impossibilitando o desenvolvimento de suas competências. Em níveis mais graves pode representar os primeiros sinais dos Transtornos do Espectro Autista (TEA) que precisam ser escutados com a máxima brevidade para os devidos encaminhamentos que farão toda a diferença da saúde mental dessa criança.

A periodicidade das consultas de puericultura permite ao pediatra observar e acompanhar vários aspectos do desenvolvimento do bebê e perceber rapidamente quando algo não vai bem. Essa observação não se refere apenas às curvas de crescimento e desenvolvimento motor, mas também abrange a dinâmica que a família estabelece com a criança e também com o próprio pediatra. Pais muito aflitos, que ligam constantemente para o médico expressam com esse comportamento pouca confiança em sua capacidade de cuidarem de seu filho. Essa insegurança tanto pode ser por imaturidade emocional dos pais, quanto uma percepção intuitiva deles sobre distúrbios psicoemocionais dessa criança. O pediatra precisa estar atento a esses sinais e se indagar sobre o que eles representam para a família, pois muitas vezes significa um pedido de ajuda implícito, porém inconsciente. Da mesma forma a angústia de um bebê pode estar denunciando a incapacidade de seus pais estarem sintonizados com suas necessidades, revelando assim uma carência do vínculo primordial que não foi bem constituído.

E diante dessas observações o que fazer? Conversar com eles sobre isso e sugerir que possam buscar a ajuda de um profissional qualificado a compreender a dinâmica inconsciente que pode estar impedindo um vínculo familiar prazeroso e saudável. Durante os primeiros 1000 dias da criança, a possibilidade de reconhecer e intervir em transtornos vinculares que impedem uma interação saudável entre o bebê e seus pais é a grande oportunidade de evitar muito sofrimento desnecessário e investir na saúde mental da vida ulterior dessa criança.

Alguns psicanalistas se especializaram em atendimentos chamados Intervenções Psicanalíticas Pais-Bebê, Intervenção Precoce na Relação Pais-Bebê ou Terapia Conjunta Pais-Bebê que têm como objetivo escutar o significado inconsciente desses sintomas, permitindo que o desconforto apresentado pelo bebê desapareça na medida em que deixa de ocupar a função psíquica que a sustentava. Além da remissão do sintoma de sofrimento emocional do bebê, observa-se fortalecer as funções parentais e o vínculo.