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Tristeza ou depressão?

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Na verdade, muitas vezes e coloquialmente, usamos as palavras tristeza e depressão como sinônimas de uma mesma condição psíquica, que todos nós, em alguma circunstância da vida já experimentamos.

Nesse sentido, ambas as expressões, quando verbalizadas por nós ou por outros a nosso respeito, dizem como está o nosso humor em um determinado momento.

Quem já não falou ou ouviu: "Ai... que tristeza", "Fiquei deprimido com o acontecido", " Como é triste perdê-la" , "Ele está desanimado e depressivo ultimamente" "Essa tristeza dói no meu peito". "Hoje eu estou deprê".

Podemos estar tristes ou deprimidos algumas horas, um dia inteiro e até mesmo alguns dias. Às vezes conseguimos explicar a situação, outras não.

Estados de espírito com tristeza e alegria, podem ocorrer ao longo da vida a qualquer um de nós, com maior ou menor freqüência, por motivações subjetivas, objetivas ou ambas.

Nessa nossa colocação inicial, mencionamos tristeza e depressão como palavras que indicam similarmente a mesma condição emocional e dentro de uma normalidade psíquica. Portanto, não estamos falando de doença.

Quando adoecemos, é comum demorarmos a procurar atendimento médico, por não valorizarmos nossa condição de anormalidade mental e até física. Fatores como preconceito, medo, negação, vergonha, etc. interferem e, não raro, adiam nossa decisão de buscar ajuda profissional.

É muito importante esclarecermos agora, a diferença entre Depressão doença e um dos seus possíveis sintomas a tristeza ou humor triste.

A depressão é uma doença sistêmica, que afeta o organismo como um todo, manifestando-se através de sintomas físicos e psíquicos. Além disso, as relações do indivíduo doente com o ambiente, a interação com as pessoas e a sua capacidade de trabalho, tudo fica invariavelmente prejudicado.

Se você ou alguém das suas relações estiver há pelo menos duas semanas apresentando um estado de humor depressivo, perda de interesse ou de prazer nas atividades (trabalho, lazer, estudo etc.) além de sentir ainda quatro ou mais dos sintomas seguintes:

- irritabilidade ou apatia acentuada;
- perda ou ganho significativo de peso (diminuição ou aumento do apetite);
- insônia ou sono excessivo diariamente;
- agitação e ansiedade ou lentidão no agir;
- fadiga, cansaço ou perda de energia todos os dias;
- sentimentos de ser inútil ou culpa exagerada e fora de propósito;
- diminuição da capacidade de pensar, se concentrar ou tomar decisões;
- pensamentos de morte que vem e vão, ou idéias de suicídio;
- dores variadas ou com localização, mas, freqüentes e acentuadas;
- uso e abuso de drogas, isolamento social, diminuição da libido, cuidado!

Estamos diante de uma situação que deve estar causando sofrimento psíquico considerável com prejuízos ao seu funcionamento global ou do seu conhecido.

Ao se efetivar a consulta médica, teremos a possibilidade de esclarecer o diagnóstico de qual doença depressiva está acontecendo.

Ela é primária ou secundária? (quando decorre do uso de outros medicamentos, doenças endócrinas, doenças neurológicas, doenças infecciosas e outras doenças como lupus, anemia etc.).

Por isso se vê a importância de, muitas vezes, solicitarmos exames e trabalharmos com outros colegas médicos na elucidação e tratamento necessários para determinados casos.

Os psiquiatras, por serem especialistas, apuram nos diagnósticos, graus de intensidade da Depressão (leve , moderada e severa), comorbidades com outras doenças psiquiátricas como Transtornos de Ansiedade, Distúrbio Obsessivo- Compulsivo, Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtornos Fóbicos e outras patologias. Também pesquisam se a Depressão é Unipolar ou Bipolar.

Então, é somente após essas avaliações que chegamos à proposta de tratamento, que envolve: escolha da medicação antidepressiva e ansiolítica (normalmente necessária no início) e outros fármacos, tratamento psicoterápico às vezes é indicado, terapias e técnicas complementares e, o que for mais necessário para cada paciente, buscando a remissão dos sintomas e a sua plena recuperação funcional.

Concluímos com algumas considerações do professor de psiquiatria da UFRJ Antonio Egidio Nardi em seu livro Questões Atuais Sobre DEPRESSÃO (Lemos Editorial) em que ele diz:

"A tristeza é um sentimento humano normal e corresponde a uma resposta à frustração, decepção, perda ou fracasso. Durante o período de tristeza, as pessoas mantêm a capacidade de se alegrar com situações positivas ou notícias favoráveis. Já na depressão, mesmo acontecimentos de cunho positivo são percebidos com um viés negativo".

"A tristeza tem duração limitada e melhora com o tempo. A depressão pode durar meses, anos ou até a vida inteira."

"A tristeza é facilmente compreensível, por ocorrer em resposta a uma situação claramente identificada. Já a depressão por vezes atinge pessoas sem problemas, em alguns casos até em situação invejável. Esse fato explica a dificuldade que a população em geral tem para entender a depressão e, principalmente, o paciente deprimido, geralmente considerado "culpado" por sua doença."

Para finalizar, gostaria de citar o poema de Carlos Drummond de Andrade que acredito propiciar uma reflexão sobre o tema tristeza e depressão presentes no ser humano, pois nesses versos, o Deus do poeta mostra suas dúvidas, se questiona e tem a coragem de dizer que não sabe. Nesse sentido, acredito que a linguagem artística pode ser um recurso para ajudar tanto aos tristes como àqueles que forem acometidos por depressão.

 

Tristeza no Céu

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e as plumas caem.
Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor.
Caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada,
ou seja, a tristeza de Deus.