Publicações > Colunas > Instituto Girassol

VOLTAR

Introdução de glúten, aleitamento materno e Doença Celíaca: De volta ao quadro negro

Do site do Instituto Girassol

17/08/2015

Esse material se refere a comentário das lideranças do NASSCD (North American Society for the Study of Celiac Disease) a respeito das conclusões de dois estudos multicêntricos randomizados recentes que afastaram a possibilidade de introdução precoce (entre 4 a 6 meses de vida, durante o período de aleitamento materno) ou tardia (aos 12 meses) do glúten e a proteção do aleitamento materno quanto  na prevenção da Doença Celíaca (DC).

Com o real aumento da incidência de DC nas últimas décadas, comprovado por estudos de soroprevalência e, embasados em estudos anteriores que sugeriam que a rotina alimentar e a exposição precoce ao glúten na dieta da criança teriam papel relevante no desenvolvimento da doença, os resultados desapontaram os pesquisadores e devem estimular outros estudos em busca riscos ambientais que vão além da alimentação, como exposição intrauterina e perinatal, bem como outras possibilidades mais tardias, incluindo exposição a drogas, infecções e o microbioma.

É sabido que a DC pode aparecer em qualquer idade e, dessa forma, a pesquisa desses fatores desencadeantes (gatilhos) é fundamental para esclarecer como ocorre a perda da tolerância ao glúten e o estabelecimento dos próximos passos.

Comentário:

A Doença Celíaca tem uma incidência e prevalência que já merece a atenção dos órgãos públicos de saúde. Segundo estudos, 1% da população mundial apresenta DC. No Brasil, dados da ACELBRA citam estudo da UNIFESP que aponta a existência de 1 celíaco para cada 214 habitantes. Com base nos dados da pesquisa IBGE 2010 para o cálculo populacional, temos uma possibilidade de 892.000 celíacos no Brasil. Já dados da FENACELBRA apontam para a possibilidade de 2 milhões de celíacos no Brasil, mas a maioria delas, ainda, sem diagnóstico.

Infelizmente, de tempos em tempos aparecem “epidemias” de determinados tipos de patologias. Transtorno por Distúrbio de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV), Intolerância à lactose, Doença do refluxo gastroesofáfico (DRGE) e, também, Doença Celíaca (DC) são alguns desses exemplos.

Mais diagnósticos? Absolutamente não. Estudo em andamento na UNIFESP já mostra que existe uma estatística de aproximadamente 3,5% de crianças com APLV, que é a mesma nossa estatística atual. Então qual a questão? Diagnósticos inadequados, baseados em exames inadequados, com condutas inadequadas, levando a consequências danosas aos pacientes.

É importante se informar: para detecção da doença celíaca, pode-se realizar exames de sangue (Anticorpo antitransglutaminase e anticorpo antiendomísio), mas que, isoladamente, não fecham o diagnóstico, que só pode ser confirmado através de um procedimento de biópsia. Dessa forma, a suspensão do glúten de uma dieta sem um diagnóstico preciso não deve ser a conduta de rotina.

Publicação: PubMed.gov
Fonte: Benjamin Lebwohl, Joseph A Murray, Elena F Verdú, Sheila E Crowe, Melinda Dennis, Alessio Fasano, Peter H R Green, Stefano Guandalini and Chaitan KhoslaGluten Introduction, Breastfeeding, and Celiac Disease: Back to the Drawing Board. The American Journal of Gastroenterology August,11 2015.
DOI: http://doi:10.1038/ajg.2015.21

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545