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Mais duas questões envolvendo o aleitamento materno: Vitamina D e mamografia

Do site do Instituto Girassol - Comunidade

Já não é fácil tentarmos aumentar as taxas de aleitamento materno no Brasil. Há 10 anos, a evolução tem sido bem pouco significativa.

14/12/2015

O leite materno pode e deve ser o alimento exclusivo até o 6º mês de vida do bebê, o principal entre os 6 e os 12 meses (após a introdução alimentar complementar) e um excelente alimento complementar após os 12 meses.

Sempre é bom ressaltar quais são as recomendações da OMS, da SBP, do Ministério da Saúde no que diz respeito ao aleitamento (para países ricos e pobres):
- Desde a sala de parto;
- Exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês;
- Estendido até 2 anos ou mais.

Nossa realidade?
- 67% na sala de parto;
- 54 dias de aleitamento materno exclusivo (em média);
- Aos 6 meses apenas 40% das crianças em aleitamento materno e 9% em aleitamento materno exclusivo;
- Mediana de aleitamento materno por volta de 11 meses.

Agora, mais duas questões começam a interferir na amamentação: A vitamina D e a mamografia.

Um estudo recente publicado no Pediatrics, fala a respeito da suplementação para mães que estejam amamentando para suprir as necessidades de vitamina D para seus bebês, sem a necessidade de suplementar diretamente a eles. As mães, em aleitamento materno exclusivo, entre 4 a 6 semanas após o parto, foram divididas em 3 grupos: um deles recebia 400 UI, o outro 2.400 UI e um terceiro 6.400 UI por dia durante um período e os resultados foram comparados aos bebês em aleitamento materno que estavam recebendo 400UI de vitamina D (as necessidades deles).

Após avaliação mensal das mães (exames de sangue e urina) e dos bebês (urina mensal e sangue no início, após 4 meses após 7 meses), as conclusões foram que somente o grupo que recebeu 6.400 UI (o proporcional a 32 gotas de vitamina D) teve um desempenho bom, que foi semelhante ao das crianças que receberam 400 UI da vitamina D por dia.

Pergunta 1: Só gostaria de entender qual o problema e qual a diferença de se dar 400 UI (2 gotas) de vitamina D para o bebê (que é o que ele precisa) ou a mãe tomar a vitamina D (o proporcional a 32 gotas por dia) para dar ao bebê as mesmas 400 UI de vitamina D, que também são provenientes de remédios?

A segunda questão que tenho recebido com certa frequência diz respeito a um “bullying” executado por alguns ginecologistas, dizendo que se a mãe não parar de amamentar não há como fazer uma mamografia. As justificativas seriam as radiações do exame e o quanto o leite materno presente nas mamas atrapalharia a adequada avaliação do exame.

Por partes:

♦ A mamografia é um procedimento importante, recomendado como rotina, pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a partir dos 40 anos de idade.Ainda segundo a SBM, “é o exame da mama utilizando um equipamento específico de raio-X (mamógrafo) com capacidade de produzir imagens de alta resolução, permitindo detectar pequenos tumores que não são palpáveis através do autoexame ou exame clínico”. O exame pode ser convencional ou digital.

♦ Ultrassonografia Mamária, não substitui a mamografia e o exame clínico cuidadoso. Muitos cânceres, especialmente os que se manifestam só com microcalcificações, não são vistos na ultrassonografia.

♦ A radiação pode afetar algumas células vivas que estão no leite materno, mas essa radiação não traz prejuízos ao leite ou ao bebê. E, normalmente, para essa avaliação, uma mamografia pode ser suficiente e, assim, a carga de radiação é pouco considerável.

♦ A densidade da mama com o leite materno pode interferir na avaliação adequada. Nesse caso, é só amamentar antes da realização do exame e esse quadro estará bem mais atenuado.

♦ Existe uma radiação ionizante presente no ambiente, encontrada em nossas casas, e a proveniente dos raios cósmicos. Em países industrializados, chega a 3,0 mSv ao ano.Alguns exames expõem o paciente a níveis muito baixos de radiação. Radiografia do tórax expõe o paciente a 0,1 mSv (equivale a 10 dias de exposição à radiação ambiente).Mamografia - a dose é de 0,7 mSv (equivalente a três meses de exposição à radiação ambiente). Por isso há tanta confiança na segurança do uso da mamografia para o rastreamento do câncer de mama.

Pergunta 2, 3, 4 e 5: Qual a frequên♦cia em que se solicita mamografia abaixo dos 40 anos? Qual a frequência que o obstetra examina as mamas de suas pacientes durante o pré-natal? Qual o aumento da incidência de câncer de mama em gestantes ou lactantes? E, principalmente, pra que o “bullying” em relação ao aleitamento materno?

- Se já é pouco eficaz a atual promoção do aleitamento materno, que é o alimento ideal, primordial, único, fundamental para um lactente;
- E se a isso se somam mais dificuldades e obstáculos, impostos inclusive pela classe médica, que deveria ser a primeira a estimular as recomendações da OMS;
- E se nós não nos propusermos a mudar essa atitude...

Como vamos conseguir criar crianças saudáveis, nessa geração que pretendemos seja a de 100 anos, mas com muita educação, cidadania, respeito, amor e saúde?

Vamos dar um basta ao não-aleitamento? Eu apoio leite materno. E você?
#euapoioleitematerno

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545