05/09/2016
Nos últimos 30 anos, a prevalência de sobrepeso aumentou cerca de 60% sendo um fator de agravação no risco de diabetes, doença cardiovascular, morbidade e mortalidade precoce. Uma metanálise feita pela Organização Mundial da Saúde em 2013 mostra uma associação entre amamentação e menor prevalência de obesidade mais tarde na vida.
O objetivo deste estudo, publicado no Journal of Human Lactation, foi avaliar o crescimento das crianças em uma coorte de gêmeos australianos para analisar associações entre a duração do aleitamento materno e crescimento em 18 meses de idade.
Foram incluídas na pesquisa 179 crianças com peso de nascimento maior do que 2.000 gramas, divididos em 3 grupos: amamentados por menos de um mês, entre 1 e 3 meses e entre 4 e 6 meses.
Os autores observaram que crianças amamentadas por 1 a 3 meses foram significativamente maiores do que crianças amamentadas por 4 a 6 meses, em termos de índice médio de massa corporal (IMC), circunferência do braço e circunferência abdominal. A análise também sugeriu que crianças amamentadas por menos de um mês foram significativamente maiores do que crianças amamentadas por 4 a 6 meses em termos de perímetro médio do braço.
Além disso, a média do IMC diminuiu de 85% (amamentação por 1 a 3 meses) para 65% no grupo em amamentação de 4 a 6 meses. Segundo observação dos autores, a amamentação por 4 a 6 meses pareceu proteger contra o risco de obesidade para os filhos nos PETS, aos 18 meses.
Comentário:
Não há dúvidas sobre a importância o aleitamento materno na promoção á saúde das crianças enquanto amamentadas. Também não se questiona a influência do tempo de aleitamento materno exclusivo e total na proteção contra doenças agudas (diarreias, infecções respiratórias, alérgicas) e crônicas (diabetes tipo 2, dislipidemias, hipertensão arterial).
Porém, muitos estudos mostram que apenas o aleitamento materno não tem um efeito protetor a longo prazo sobre todos esses parâmetros, indicando a prática do aleitamento materno desde a sala de parto, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais, como um indispensável primeiro passo, mas que requer uma continuidade com outras medidas protetoras de saúde.
Estudo de coorte retrospectivo publicado no International Journal of Obesity incluindo 1812 crianças nascidas em Gran Canaria, em 2004, com seguimento até os 8 anos de idade em que foram incluídas apenas as crianças com aleitamento materno durante os primeiros 6 meses de vida (173 crianças) e crianças não amamentadas (192 crianças) não mostrou diferenças de índice de massa corporal (IMC) entre crianças com amamentação (17,7) ou sem amamentação (17,3) durante os primeiros 6 meses de vida, peso normal, sobrepeso e obesidade e a idade de rebote de adiposidade (adiposity rebound).
Outro estudo, publicado no PLOS One, sugere que o efeito benéfico da amamentação sobre a obesidade excesso de peso pode ter sido superestimado (Health Interview alemão e Examination Survey para Crianças e Adolescentes - KiGGS estudo de linha de base - entre 2003 e 2006 - n = 13.163).
Mesmo assim, os resultados mostram que a amamentação tem um efeito protetor sobre o excesso de peso na infância e obesidade, mais visível especialmente em crianças em idade escolar primária, mesmo que possa ter menor importância se comparada com intervenções de saúde pública relacionadas à atividade física, escolhas alimentares saudáveis e fatores sociais, econômicos e culturais subjacentes, sugerindo cautela ao interpretar a evidência sobre os efeitos benéficos da amamentação para informar intervenções de saúde pública e orientações sobre nutrição infantil.
Estudo publicado no Acta Paediatrica (2015 - Bernardo L. Horta,Christian Loret de Mola,Cesar G. Victora) aponta para uma diminuição de chances de diabetes tipo 2 e diminuição em 13 % das chances de sobrepeso / obesidade, mas sem associações para o colesterol total ou pressão arterial.
Independente dos resultados desses estudos, os benefícios do aleitamento materno, nos moldes preconizados pela OMS, pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria são verdades incontestáveis.
Assim também, é verdade que esse passo fundamental, para ser eficaz por um prazo que vá além da infância e adolescência, requer acompanhamento regular e contínuo não só por profissionais de saúde, mas também por planejamento governamental, educacional, social, visando manter o mesmo equilíbrio nutricional, atividades físicas regulares, vínculo familiar, instrução adequada, vacinação ampla para que possamos atingir a meta de essa ser a geração dos 100 anos, mas com qualidade de vida.
Publicação: PubMed
Fonte: Temples, H. S., Willoughby, D., Holaday, B., Rogers, C. R., Wueste, D., Bridges, W., ... & Craig, J. M. (2016). Breastfeeding and Growth of Children in the Peri/postnatal Epigenetic Twins Study (PETS) Theoretical Epigenetic Mechanisms. Journal of Human Lactation, 0890334416637594.
DOI: 10.1177/0890334416637594
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545