03/10/2016
A duração do aleitamento materno é reconhecida como fator de redução da frequência de infecções e do risco de obesidade infantil.
O objetivo deste estudo, publicado no JAMA Pediatrics,foi testar se o uso de antibióticos no início de vida em crianças impede os efeitos benéficos de longo prazo do aleitamento materno sobre o desenvolvimento de peso e investigar se a duração da amamentação está associada ao desenvolvimento microbiota longo prazo.
Para isso, foi realizado um estudo de coorte retrospectivo (junho a dezembro de 2015), para avaliar a associação entre a duração da amamentação e uso de antibióticos por crianças, bem como o IMC em 226 crianças saudáveis (113 que usaram antibióticos antes do desmame e 113 que não usaram), com idades entre 2 a 6 anos, em creches no norte da Finlândia com análise da composição da microbiota fecal (subcoorte de 42 destas crianças).
Nessa análise da composição da microbiota fecal (subgrupo de 42), crianças com LONGA DURAÇÃO de amamentação SEM uso de antibióticos tinham, em sua composição, muito mais Bifidobacterium e Akkermansia do que o grupo que tinha curta duração de amamentação (0 a 6 meses) e sem uso de antibiótico ou com longa duração de amamentação (8 a 16 meses), mas com uso de antibiótico precoce.
Os autores concluíram que o uso de antibióticos em uma criança durante a amamentação pode enfraquecer os efeitos benéficos da longa duração da amamentação longa. Os resultados sugerem que, particularmente, os benefícios metabólicos de longo prazo de amamentação são transportados por microbiota intestinal.
Comentário:
A importância da microbiota intestinal em muitos setores da saúde humana (peso, imunidade, alergias) tem sido, a cada dia, mais e melhor estabelecida. Floras bacterianas intestinais adequadas, promovidas através de parto vaginal, contato pele-a-pele em sala de parto, aleitamento materno desde a sala de parto, exclusivo e em livre demanda até o 6º mês estendido até 2 anos ou mais, mostram-se fundamentais para o bom crescimento e desenvolvimento dos lactentes.
O editorial publicado na mesma edição do JAMA Pediatrics aponta para a importância do aleitamento materno na prevenção da obesidade, possivelmente, através de um baixo teor de proteínas no leite humano em oposição ao seu elevado teor encontrado na fórmula e leite de vaca, uma microbiota intestinal de composição “ideal” com melhora de preferências alimentares mais tarde na vida.
A duração da amamentação é também uma questão que deve ser considerado em estudos de amamentação e obesidade. Um maior tempo de amamentação (> 7 meses) tem sido associada a um risco reduzido de excesso de peso e obesidade, enquanto uma duração curta (≤4 meses) pode não ser suficiente para obter os efeitos benéficos da amamentação.
Artigo publicado no Pediatrics (2015) mostra a influência da exposição precoce ou repetida aos antibióticos na infância sobre o aumento do risco de sobrepeso nos primeiros 24 meses de vida, em crianças saudáveis.
Um fator de interferência nesse desenvolvimento de microbiota intestinal é a exposição precoce a antibióticos (Pediatrics-2015), que está aumentando (36% entre 2000 e 2010 segundo editorial publicado no Lancet) mesmo para pequenas infecções, sem contar seu uso abusivo e desnecessário (uma em cada 3 prescrições), comprovando, em estudos recentes, por exemplo, até sua influência na disbiose e aumento de índices de alergias.
Assim, não há como atribuir toda a responsabilidade na questão de peso e imunidade exclusivamente ao aleitamento materno se muitos outros fatores (pré-natal, parto, contato pele-a-pele, uso de antibióticos) contribuem para uma formação inadequada de microflora intestinal, diminuindo, assim, a eficácia da ação protetora do leite materno.
Publicação: JAMA Pediatrics
Referência: Korpela, K., Salonen, A., Virta, L. J., Kekkonen, R. A., & de Vos, W. M. (2016). Association of early-life antibiotic use and protective effects of breastfeeding: role of the intestinal microbiota. JAMA pediatrics, 170(8), 750-757.
DOI: 10.1001/jamapediatrics.2016.0585
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545