22/11/2008
Fiz um curso organizado pela Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), coordenado pelo Departamento de Saúde Mental, rico em informações e dicas, das quais vou selecionar algumas para explicar.
As aulas foram dadas pelas Dras. Vera Ferrari Rego Barros, Dra. Miriam Ribeiro de Faria Silveira e Dra. Gislene do Carmo Jardim (todas do departamento de Saúde Mental da SPSP.
Anotei uma frase de Lacan (citada no curso) que passo a vocês para reflexão:
Para se fazer uma criança, um homem e uma mulher bastam.
Mas, para se fazer um sujeito, são necessários um pai e uma mãe.
Bonito, não é? Acompanhem o(s) texto(s) a seguir.
Antes de pensar em transtornos da adolescência, de falar em "aborrecente" (como muita gente gosta de chamá-los), é importante entender como é a vida, como são as reações e os comportamentos de um adolescente normal (sim, eles existem).
A adolescência é uma época de grandes transformações. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é o periodo compreendido entre 10 e 20 anos incompletos. Já para o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA), a adolescência vai dos 13 aos 18 anos. Em qualquer um dos casos, não se deve confundir a puberdade (alterações físicas, hormonais e corporais) com a adolescência (uma fase da vida com mudanças sócio-psicológicas).
Nessa fase, a ex-criança busca sua identidade ainda não adulta. Os comportamentos que são assumidos pelo adolescente seriam considerados anormais ou até patológicos em outras fases de sua vida. E, nesse momento, ele tem que lidar com 3 "lutos":
- Luto pela perda do corpo infantil;
- Luto pela perda dos pais da infância (que eram os detentores de toda verdade);
- Luto pela perda da identidade infantil.
Assim, inicia-se a busca por si mesmo, pela sua identidade. E, para isso, com uma maior vulnerabilidade, o adolescente se arrisca por acreditar que nada de grave pode ou vai acontecer com ele (inclusive gravidez, vícios, etc).
- Tendência grupal - busca viver em grupos e quer participar deles, fazendo até concessões para isso;
- Criação de novas "tribos" (ser criança passa a ser ridículo);
- Vestem-se todos da mesma maneira;
- Marcam os corpos com tatuagens, piercings, metais, madeiras;
- Necessidade de intelectualizar e fantasiar (mitos, histórias são reais - RPG, participação em grupos de teatro, cinema, etc). "O mundo da lua é freqüentemente visitado";
- Crises religiosas com contestação de valores éticos e religiosos dos pais;
- Discussões acaloradas com os pais tentando provar suas teorias. Nesse momento, uma ambivalência de sentimentos em relação aos pais que, ao mesmo tempo que os sustentam, dão suporte, atenção e carinho, deixam de ser os detentores de toda a verdade. Isso gera mais agressividade no relacionamento em um antagonismo constante (isso é normal, viu? Não é pessoal);
- Adotam novos modelos como ídolos (professores, artistas, etc.) - não mais os pais.
Acontece, com os adolescentes, um deslocamento temporal. Tudo o que se relaciona com trabalho, estudos, responsabilidades são de muita dificuldade. É muito difícil acordar para ir à escola, para trabalhar. O início do estudo é difícil e todo ele demorado demais.
Em compensação, se for para sair, para o lazer, para as baladas, para encontrar com os amigos, ninguém acorda tão cedo, tão ágil, nem fica pronto, vestido (se é que podemos chamar de roupas) e penteado (mesmo???? aquilo???) tão rapidamente quanto o adolescente. E ao terminar, o período destinado a esses eventos, nunca foi suficiente, mesmo que toda essa atividade tenha durado horas, às vezes dias.
Fenômeno interessante: acontece, nessa fase, a (re)descoberta do próprio corpo e do corpo do outro. As mudanças são muito intensas e rápidas na forma, no surgimento de pelos, mamas, cheiros e outros atributos não conhecidos pelo adolescente.
A sexualidade explode com grande dificuldade e em velocidades diferentes entre os sexos, gerando um descompasso entre os, até então, "amigos".
Pelas fases de desenvolvimento diferentes, mudam os interesses, podendo afetar a auto-estima.
Dicas de leitura: O que está acontecendo comigo?
Na adolescência, mais precisamente em sua segunda fase (após os 14 anos), há um aumento de rebeldia e contestação.
Ao mesmo tempo em que pedem os limites, os adolescentes reagem intensamente sempre que eles são colocados.
Estranho, não é?
A separação dos pais caminha progressivamente e ocorre uma busca imensa e uma ânsia pela liberdade.
Hoje em dia, houve uma mudança de padrão, destacada inclusive em alguns artigos e estudos recentes, com alguns "adolescentes" de mais de 30 anos ainda morando com os pais, quer seja pela comodidade que isso traz, quer seja por realmente ainda estarem nessa busca de identidade.
- Contradições sucessivas de conduta em um mesmo dia com flutuações de humor e mudança de ânimo.
- Gastos de tempo de $$$ com telefonemas, computadores (msn, orkut, etc), videogames, entre outros.
Conhece alguém assim?
Você tem um assim em casa?
Mais de um??????
Boa sorte!!!! Você vai precisar.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545