Publicações > Meus Artigos > Todos os Artigos

VOLTAR

Síndrome do ninho vazio

Do site iG - Delas

Quando os filhos resolvem sair de casa, as mães enfrentam um período de tristeza e vazio que parece não ter fim; saiba como lidar

por Glycia Emrich

31/08/2009

A paulistana Teresa Machado, 48 anos, passou noites sem dormir quando viu no jornal que o filho havia passado em uma universidade pública, no estado do Paraná. Do dia em que viu o resultado até a data oficial da mudança foram 2 meses. O suficiente para ela ter de procurar ajuda e precisar de alguns remédios. "Eu sabia que era um momento importante para o meu filho, mas a dor foi muito grande. Era como se a minha vida perdesse todo o sentido. Procurei ajuda, porque eu sabia que não podia responsabilizá-lo pela minha felicidade", desabafa a mãe.

Essa sensação de solidão, vazio e perda é bastante comum em famílias que veem seus filhos fazer as malas e cair no mundo. Mas parece que a forma de encarar esse momento passou por algumas mudanças. "A Síndrome do Ninho Vazio sofreu transformações. Era caracterizada por uma sensação de profunda tristeza dos pais, quando seus filhos já criados ou em fase de formação – faculdades, por exemplo – saíam de suas casas para tomar um rumo próprio e deixavam seus pais em casa, sem saber o que fazer para suprir essa falta", explica Yechiel Moises Chencinski especialista em pediatria pela Santa Casa de São Paulo e em homeopatia pelo Centro de Estudos, Pesquisa e Aperfeiçoamento em Homeopatia (CEPAH).

De acordo com o especialista, apesar desse momento de saída do lar ainda estar presente na maioria das famílias de hoje, ela sofre a concorrência de duas situações:

- As mulheres assumiram novos papéis mais ativos no mercado de trabalho, chegando à maternidade mais tardiamente (entre 30 e 35 anos, por exemplo). Não são exclusivamente mães e já preenchem suas vidas com outras atividades. Dessa forma, quando os filhos resolvem "bater asas" e sair de seus ninhos, elas já têm um novo comportamento, criado por um novo modelo de família. E aí isso passa a ser apenas um caminho natural para o qual eles foram preparados durante toda a sua vida.

- Começa a surgir, na contramão dessa situação, a "Geração Canguru", que leva à "Síndrome do Ninho Cheio": é cada dia mais comum os filhos ficarem em casa por muito mais tempo do que o previsto e observado há algumas décadas, pela comodidade da situação e condição financeira ainda não tão estável que permita altos voos. Afinal, arrumar emprego não está tão mais fácil assim nos dias de hoje.

O que fazer?
Mesmo assim, se não for por uma situação esperada e preparada, o "esvaziamento do ninho" pode causar certo desconforto familiar. O pai e a mãe não podem se esquecer de sempre serem marido e esposa e até, muito antes disso, homem e mulher.

Buscar a individualidade de cada um dentro do núcleo familiar é super importante para que todo mundo tenha uma identidade própria como indivíduo, sem se apoiar e depositar seus desejos em quem convive embaixo do mesmo teto. "Uma vez estabelecidos os papéis, com os vínculos fortalecidos e os espaços respeitados, pais e filhos podem crescer juntos, aprender e curtir com prazer o caminho, fazendo da vida uma estrada que leve a caminhos saudáveis e felizes. Com essa família forte, o ninho não ficará vazio nunca", explica o especialista.

Sentimento e expressão
A cantora Paula Toller também passou por esse momento de aflição quando o seu filho Gabriel estava com 16 anos e decidiu viajar por um tempo. "Foi como um segundo parto, dar à luz novamente para que ele pudesse seguir seus passos", conta a cantora em entrevista para a jornalista Melissa Lenz. E para colocar para fora o que ela sentiu, Paula escreveu "Barcelona 16", canção que está no segundo CD solo, "Sonos".

A música explicita bem as dores e as alegrias de ver o filho bater asas. "Eu não sabia que existia/ Esse outro parto de partir/E me deixar na beira do cais/ Filho sempre meu não mais". E no refrão a cantora, apesar de triste, dá toda a força que Gabriel precisa para correr atrás dos sonhos. "Solta da minha mão/ Leva o seu violão/ Dentro do mochilão/ Leva também o meu coração".

Apesar de parecer que você perdeu a sua cria, saiba que o seu casamento pode ganhar muito com isso. Em entrevista ao "New York Times", Sara Melissa Gorchoff, especialista em relacionamentos adultos na Universidade da Califórnia, em Berkeley, explica que a satisfação conjugal pode aumentar com a saída dos filhos. "Não é como se eles tivessem vidas horríveis. Os pais eram felizes com os filhos. Mas o casamento pode melhorar quando eles saem de casa".

Isso porque não é justo que você viva a sua vida e função dos seus filhos e que o seu casamento só exista na presença deles. Faz mal para você e para quem convive com você. "Vai ser muito decepcionante constatar que vivemos nossa vida para os outros e não com os outros. Nós não possuímos nossos filhos. Nós não podemos (e não devemos) viver a vida de nossos filhos", explica o pediatra Checinski.

Na hora H
Caso esse momento de sair do ninho não tenha sido preparado e planejado, você sentirá fortemente a sensação de perda. Nessa hora, vale se analisar e pensar em algumas questões. O médico indica algumas: "O que está faltando para esse casal? O que aconteceu na dinâmica dessa família que centralizou a atenção exclusivamente sobre esse filho? Onde estão os indivíduos nessa casa?".

Não há uma fórmula matemática para vivenciar essa etapa indispensável de forma prazerosa. Mas, para ajudar, o pediatra separou 5 dicas:

- Mantenha-se íntegra, inteira, buscando sua realização pessoal no trabalho, na sociedade, na vida familiar;

- Crie uma boa estrutura familiar que permita que esse filho vá, mas também permita que ele se sinta acolhido e encontre espaço sempre que quiser ou precisar voltar;

- Busque trabalho, atividades físicas prazerosas, veja amigos (que, possivelmente, na mesma faixa etária, devem estar passando pelas mesmas situações), (re)aqueça a chama do casamento;

- Tenha sempre ética, verdade e respeito nos relacionamentos;

- Não se esqueça do ditado "Carpe diem" - que significa nada mais do que gozar o dia, viver o presente, aproveitar a jornada!

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545