01/10/2009
A combinação entre má alimentação e pouca atividade física atrapalha um desenvolvimento saudável e causa problemas graves de saúde na infância
Natália Marques
Ao mesmo tempo em que a ciência, acompanhada da mídia, conscientizou o mundo nesses últimos 20 anos sobre a importância de cuidar da saúde, da alimentação e de como viver qualitativamente melhor, crianças menores de 13 são hoje, as maiores vítimas de doenças provocadas pelos péssimos hábitos da vida moderna. Colesterol, obesidade, diabetes, hipertensão, cardiopatia e LER (lesão por esforço repetitivo) - comum em adultos, condenam agora a vida de muitos pequenos.
A mistura entre videogame, computador, fast-food (excesso do consumo de comidas gordurosas na cantina da escola e até em casa), sedentarismo, falta de supervisão e limite impostos pelos pais são as principais causas dessas doenças.
O pediatra e homeopata Moisés Chencinski explica que existe um aumento na incidência dessas doenças por conta da intoxicação precoce a que as crianças são submetidas hoje (antigamente, os adultos é quem reclamavam de terem de comer fora, e não terem tempo de praticar esportes, por exemplo). Isso tem acontecido principalmente em centros urbanos, "As crianças hoje são estressadas, pegam muito trânsito para se locomover de um lado para o outro, ficam mais longe dos pais, porque eles trabalham muito e quase não têm tempo de acompanhar passo a passo da rotina delas; são obrigadas a prestar vestibulinho em algumas escolas para entrar no pré-primário; recebem dinheiro dos pais e comem o que quiserem na rua (e crianças não sabem o mal que ingerir guloseima todo dia pode fazer); chegam em casa e se isolam na frente do computador... O resultado de tudo isso é a falta de brincar na rua, de praticar atividades físicas, depressão, solidão e compensação na comida, por conseqüências, doenças como a obesidade e o colesterol.
Uma pesquisa realizada recentemente em São Paulo, por especialistas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Universidade São Marcos, com apoio do ILSI (International Life Sciences Institute), apontou que de 8.020 estudantes entre 10 a 15 anos, 16% estão na faixa de sobrepeso e 10% têm diagnóstico de obesidade. O dado mais alarmante, no entanto, é que 81% dos alunos de escolas particulares e 65% dos alunos de escolas públicas são sedentários, ou seja, realizam menos de dez minutos de atividade física por dia, quando o mínimo de tempo de exercícios físicos diários recomendado pela Organização Mundial da Saúde -OMS- é de meia hora.
Moisés explica que a prevenção dessas doenças começa no aleitamento materno, e que a mãe deve deixar para introduzir alimentos industrializados o mais tarde possível. A partir daí, freqüentar o pediatra periodicamente para controlar o peso, a pressão, fazer os exames necessários, se exercitar e ter o acompanhamento de um nutricionista, que faz um trabalho individualizado, capaz de reeducar a alimentação e os hábitos da criança é fundamental durante a infância. Principalmente se, existir algum fator genético (casos de doenças na família) ou alteração no comportamento deles referentes a aumento do apetite, preguiça, tristeza ou qualquer outra anomalia. "Às vezes acho que tenho fama de chato porque pego muito no pé dos meus pacientes em relação a alimentação e exercícios físicos: tem criança que come para viver e outras que vivem para comer, este segundo é um hábito equivocado e os pais têm de entender que são os responsáveis por ensinar o que se deve comer desde muito pequenininhos.
De acordo com a endocrinologista e nutróloga Ellen Simone Paiva, até pouco tempo atrás, o diabetes tipo II (considerado uma doença crônica) era diagnosticado apenas em adultos, e de uns tempos pra cá, passou a ser um problema grave que muitas crianças e adolescentes do mundo inteiro passaram a enfrentar. Segundo Ellen, os péssimos costumes que as crianças têm hoje são as causas de todas essas doenças, principalmente da diabetes. Ela alerta que a família deve procurar um especialista e se unir para combater ou prevenir o problema.
A doutora dá Dicas de Alimentação
•Comer alimentos variados em todas as refeições e ao longo do dia;
•Dividir o consumo de carboidratos em todas as refeições do dia, sabendo reconhecê-los no arroz, batata, mandioca, macarrão, pães, cereais e leguminosas (lentilha, soja, feijão e grão de bico);
•Utilizar proteínas de fontes variadas como peixes, carne magra, frango, ovos e leguminosas (proteínas vegetais);
•Comer frutas e vegetais de maneira variada todos os dias - idealmente 5 porções por dia;
•Reduzir o consumo do açúcar simples, especialmente em refrigerantes, doces, bolos e leite condensado,
•Reduzir o consumo de gordura, especialmente de gordura animal e alimentos gordurosos, cozinhando com menos gordura, retirando a gordura das carnes antes do preparo, reduzindo embutidos, bolos, biscoitos e utilizando laticínios desnatados;
•Utilizar óleos vegetais ricos em gordura insaturada como óleo de oliva, soja, canola, girassol e milho;
•Reduzir o consumo de sal;
•Reduzir os lanches e as idas aos fast foods, que são densamente calóricos e ricos em gorduras, sal e açúcar. Substitua estes alimentos por alternativas com pouco açúcar, tais como cereais, nozes e frutas.
Especialistas têm feito constantemente estudos com crianças e adolescentes relacionados a essas doenças. Um deles, também divulgado recentemente pela Ong Pró-Criança Cardíaca, do Rio de Janeiro, apontou que de 600 crianças e adolescentes com idade de 6 a 18 anos de todas as classes socioeconômicas , 41,6% das crianças tinham colesterol total alto. Além disso, 11,16% apresentaram triglicérides (distúrbio caracterizado pelo aumento das taxas sangüíneas de triglicérides, que pode formar placas de gordura que se acumulam nas paredes das artérias, dificultando a circulação), 10,16% colesterol ruim e 5% índice de glicose acima normal. No entanto, é comprovado cientificamente que a alimentação e costumes adequados são a prevenção contra qualquer uma dessas enfermidades.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545