25/02/2010
- Alô, doutor, tudo bem? Aqui é a Janice, mãe do Danilo! É que meu filho está com febre há uns dois dias, não come bem e há umas duas horas começaram a aparecer algumas pintinhas vermelhinhas no corpo dele e ele está coçando. O que pode ser?
- Janice, isso pode ser várias coisas. Mas façamos o seguinte. Observe o Danilo por umas 3 horas e me ligue novamente pra me contar como ele está.
3 horas depois...
- Doutor!!!!! Sabe aquelas pintinhas?? Elas espalharam e agora tem manchas vermelhas pequenas, algumas bolhas e algumas até já estouraram. E a cada vez que eu olho, aparecem mais outras. O que será isso,doutor ????
A Sra. Janice está diante de um quadro característico de catapora (ou varicela) que é uma daquelas doenças conhecidas como DPI (Doenças próprias da infância), mas que podem atingir adultos não vacinados.
A incidência dessa patologia caiu muito após o aparecimento da vacina, mas ainda temos épocas em que ela é mais comum (de final de agosto a novembro) e representa um problema para escolas, creches, empresas, entre outros pela sua contagiosidade.
Provavelmente, o Danilo deve ter tido o contato com alguém na escola que estava em fase de transmissão da doença, que pode ser tanto por via respiratória (espirros, saliva ou secreções respiratórias) quanto pelo contato com as bolhas.
Aí, o Danilo ficou incubando a doença por 15 dias sem muitos sintomas específicos.
Apesar de serem de intensidade variável, os sintomas são muito semelhantes em todos os que pegam a catapora.
O quadro costuma começar com febre, falta de apetite, mal estar e cansaço. Após uns dois dias, começam a aparecer manchas na pele que viram pequenas bolhas com líquido dentro, que estouram, viram casquinhas e caem.
Acontecem de 2 a 4 surtos desse tipo, com 2 a 3 dias de duração cada um (em média, um total de 8 a 10 dias). Enquanto houver bolhas, a catapora é contagiosa. Na fase de crostas (casquinhas) não há transmissão.
Principal sintoma da catapora? COCEIRA. Coçou, machucou, infeccionou e manchou. Assim sendo, mantenha as unhas bem aparadas e evite coçar direto sobre a bolha, para não contaminar. E quando aparecerem as casquinhas, não arranque, não deixe ninguém arrancar e não se exponha ao sol.
Se a Sra. Janice vivesse com o Danilo há uns 30 anos, provavelmente ela receberia muitas visitas de outras mães com seus filhos para que eles pegassem logo a doença. Uma vez tendo a doença, a imunidade dura a vida toda.
A varicela é uma doença benigna, na maioria dos casos, mas pode ter complicações (raras) em crianças e adultos saudáveis ou causar quadros gravíssimos em pessoas com problemas de imunidade.
Assim, a partir de 1 ano de idade, a vacinação específica deve ser aplicada (uma só dose), inclusive até 72 horas após o contato com algum "cataporento". Atualmente, discute-se um reforço dessa vacina entre os 4 e 5 anos.
O tratamento da doença visa melhorar os sintomas da pele (cuidados locais de higiene para prevenir infecções e medicação que deve sempre ser receitada pelo médico) e do estado geral (tosse, febre, falta de apetite, etc).
Não se deve usar o ácido acetil salicílico (AAS, aspirina, etc) para quem está com catapora por risco de um quadro grave (Síndrome de Reye – gerando problemas neurológicos e no fígado).
A homeopatia é uma especialidade médica que visa tratar o indivíduo de uma forma global, holística e trazê-lo de volta ao seu equilíbrio. Então não dá para usar a homeopatia na catapora?
Mesmo nesses casos, tratando-se de uma criança ou de um grupo delas, a homeopatia tem uma utilidade considerável. Se houver tempo, o médico irá individualizar o caso de catapora daquela criança em especial e tratá-lo de forma específica. E se estivermos em uma creche onde há muitas crianças e a doença se alastrar de tal forma que fique difícil avaliar cada uma delas e entender o seu modo específico de adoecer?
Numa situação assim, o médico homeopata poderá tratar de todos os "cataporentos" utilizando uma técnica descrita na homeopatia como "gênio epidêmico", avaliando a epidemia como um todo e observando quais os sintomas mais comuns que aparecem naquele grupo contaminado.
Aí, valendo-se de sua experiência e de seu conhecimento médico, o profissional escolherá um medicamento (ou um grupo deles) que apresenta a "cara da doença" (o "gênio medicamentoso").
Assim, todos os pacientes nessa epidemia poderão utilizar esse medicamento, e as suas evoluções serão observadas para avaliar, aí, cada quadro em especial. Hahnemann (o criador da homeopatia) demonstrou que há uma grande taxa de acerto com boa evolução, utilizando-se essa técnica.
E nunca se esqueça:
- Em caso de doença, procure SEMPRE um médico;
- Evite a auto-medicação;
- Vacine-se e vacine seus filhos.
(*) Moisés Chencinski é médico pediatra e homeopata, autor do livro "Homeopatia –mais simples do que parece".
Este artigo foi publicado no site da Campo Grande News (19/12/2007).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545