22/03/2010
Não dá para deixar os filhos eternamente debaixo das suas asas. Veja como encarar o desafio de deixá-lo sair de casa desacompanhado sem neuras
Glycia Emrich
Todo mundo já ouviu aquela história: "Criamos os filhos para o mundo". E também se sabe que uma hora as crianças crescem e aquela vidinha de dependência muda. A dificuldade é que, muitas vezes, isso acontece antes do que gostaríamos.
"Aí é que começam os choques entre as crianças que eles ainda são, querendo ser os adultos que ainda não podem ser, e os pais que normalmente não enxergam a realidade ou a real idade de seus filhos", explica o pediatra e homeopata Moisés Chencinski.
A hora certa
Não existe um momento exato para que todas as mães comecem a permitir que seus filhos saiam sozinhos. Cada caso precisa ser visto de forma especial e única. De acordo com o Código Penal, só após os 16 anos caem algumas obrigações dos pais sobre os menores e eles são considerados capazes, no aspecto civil.
"Segundo estudos, só a partir dos 12 anos é que uma criança está apta a ficar em casa sozinha, de forma segura, podendo preparar lanches e telefonar para pedir ajuda", conta o especialista. Até lá, produtos de limpeza, tomadas e janelas, por exemplo, devem conter proteção contra acidentes. Além disso, os menores de 12 anos só podem viajar de ônibus ou avião desacompanhados com a autorização do juizado de menores.
Essas informações legais muitas vezes assustam, fazendo com que os pais se amparem nas leis e não percebam que há tempos os filhos já poderiam buscar um pãozinho na padaria. "A atitude mais importante é observar a evolução dos seus filhos e criar condições para que ninguém sofra ou se preocupe com essa fase", explica Dr. Moisés.
Pais e filhos independentes
Situações simples são capazes de ajudar as crianças a se sentirem mais independentes e habituar os pais com a ausência temporária dos filhos. Dormir na casa da vovó, passar o dia brincando na casa dos amiguinhos ou ficar sem os pais nas festinhas de aniversário (sob supervisão de um adulto ou em um buffet infantil) são boas táticas para acostumar os dois lados.
É importante lembrar que é só por volta dos 3 ou 4 anos que a criança se sente segura para dormir sem os pais na casa de parentes. "Na casa de amiguinhos, é só após os 5 anos que eles costumam não chorar e pedir, normalmente no meio da noite, aos prantos, para voltar para casa", avisa o pediatra.
As primeiras saídas
Não precisa se descabelar com suas angústias, medos e preocupações. Logo nas primeiras saídas, oriente o seu filho como agir caso algum estranho se aproxime. Muita neura? "Não, isso é fundamental", garante o médico.
Uma maneira agradável de começar esse processo é marcar um passeio com seu filho e deixar que ele comande a caminhada. "Em um lugar conhecido, observe como é a sua noção de espaço, de localização, de atenção. Oriente-o e corrija, explicando a razão de cada situação de risco", indica o especialista.
Durante o trajeto, mostre para ele lugares que possam servir de suporte em caso de necessidade (como uma forte chuva, por exemplo).
"Estabelecimentos comerciais conhecidos no trajeto cumprem bem esse papel: farmácia, padaria, a casa de algum parente ou amigo", sugere Moisés.
Quando a confiança estiver estabelecida, os passeios podem se tornar maiores e sem supervisão. Pedir para ele ir à banca comprar o jornal demonstra confiança nele, o que pode ser um fator aliado em outras ocasiões.
O Dr. Moisés Chencinski separou algumas dicas para você passar por esse momento com mais tranqüilidade:
- Dê ao seu filho liberdade, mas com responsabilidade;
- Os direitos devem vir acompanhados de deveres e obrigações;
- Não se preocupe em nenhum momento de cobrar e checar: para onde ele vai? Com quem vai? Quem vai estar lá?
- Peça endereço e telefone do local onde ele estiver;
- Não comece essa conversa quando ele estiver saindo ou na frente dos amigos (ou namorado/a);
- Telefonar quando chegar ao local ou se houver alguma mudança de planos é um trato que pode e deve ser estabelecido entre pais e filhos;
- Lembre-se que algumas escorregadinhas são naturais e compreensivas (você também já se esqueceu de ligar ou perdeu o horário quando era criança). Converse, explique e ouça o que ele tem a dizer. Essa troca de aprendizado é sempre muito importante para a relação entre pais e filhos.
Essa matéria foi publicada no site Ig - Delas (16/05/2009), no site Destaque no Brasil e no mundo (17/05/2009).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545