12/03/2010
Ciúme entre irmãos
O dicionário explica: "ciúme" vem do latim e quer dizer "cuidado", "zelo", "medo de perder alguma coisa". O que ninguém explica é o que fazer com a ciumeira entre os irmãos – um problema que quase todos nós já sentimos na pele
Chegamos para a entrevista na casa da família Moura. Enquanto o Ricardo ajuda a colocar o microfone na mãe, Luís Otávio observa de longe.
Depois, Ricardo, de 4 anos, come e anuncia: "Vou ficar grande, muito grande!". O irmão mais velho, de 5 anos, não abre a boca. Resultado: o foco está sempre no caçula. "O irmão é muito elogiado porque é muito falante", conta a mãe, Regiane.
O ciúme é inevitável e a guerra, constante. E a disputa vem de longe, desde quando eles eram bem pequenos. "Eu me sentia dividida, triste de não poder dar para o segundo toda a atenção que dei para o primeiro. Por outro lado, eu procurava dar para o primeiro, para ele não se sentir roubado pelo segundo. Mãe sofre, viu?", desabafa Regiane.
O pediatra Moisés Chencinski reconhece que os pais sofrem, mas aconselha: quando o caçula chega, nada de mimar o mais velho. "As regras não mudam por causa disso. Ele continua não podendo dormir na cama com os pais, continua não podendo comer chocolate antes do almoço, continua não podendo agredir o irmãozinho", esclarece.
Amanda não batia em Arthur, mas quando ele nasceu escondeu a notícia na escola. "Era como se ela não quisesse dividir a atenção na escola. A escola era exclusiva para ela", teoriza a mãe, Claire dos Santos. Hoje, é o menino quem exige mais: "Ele é ciumento, é possessivo. Não posso elogiar Amanda sem elogiá-lo também", diz a mãe.
O elogio é mesmo uma boa tática. "Ao invés de apontar os defeitos de cada um, seria interessante enaltecer as qualidades de cada um deles e auxiliar onde eles estão menos desenvolvidos", ensina Chenciski.
Com o passar do tempo, as demonstrações de ciúme mudam. Os médicos explicam que, quando as crianças começam a crescer, os tapas, mordidas, e empurra-empurra diminuem. E aí tem início a fase do bate-boca.
Ana, de 9 anos, e Caio, de 11, disputam tudo – do celular ao caderno. É tanta ciumeira entre os dois, que a mãe, Rosângela Rossi, fica perdida. "Pergunto para as amigas e elas dizem que os filhos também brigam. Mas a gente nunca sabe a intensidade da briga dos filhos dos outros", ela conta.
Geralmente, a disputa é saudável – porque, no fundo, os irmãos ciumentos morrem de amor um pelo outro.
Para falar sobre essa relação, convidamos a psicopedagoga Geórgia Vassimon, especialista em orientação familiar. Veja como foi a conversa.
JH: Como os pais podem ajudar para que o ciúme não estrague a relação familiar?
Geórgia Vassimon: Tem uma questão básica: não enaltecer um filho em detrimento de outro. Os pais devem tentar deixar que cada um tenha o seu jeito, o seu ritmo, e garantir um pouco o espaço de cada um na casa.
JH: Tem alguém mais ciumento, o menino ou a menina? Ou é pior entre irmãos do mesmo sexo ou de sexos diferentes?
Geórgia Vassimon: O ciúme não é uma questão de gênero. É a perspectiva da família que complica: quando eles têm uma perspectiva maior em relação a um gênero do que em relação a outro, isso atrapalha e pode gerar um ciúme maior. É mais difícil quando são dois meninos ou duas meninas, porque o espaço que eles ocupam é bem parecido, então fica difícil garantir que é de um e o que é de outro. A comparação também é muito próxima.
JH: É bom chamar o irmão mais velho para ajudar com o bebezinho?
Geórgia Vassimon: É uma boa tática. Cria-se a relação fraternal desde o começo, e isso pode gerar um caminho melhor durante a vida.
JH: Quando o ciúme é considerado excessivo?
Geórgia Vassimon: Quando tem maus tratos. Quando a criança bate, belisca ou morde, a gente tem que tomar um certo cuidado.
Essa matéria foi veiculada no Jornal Hoje e no Portal Vanmix (20/03/2008)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545