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Novo mundo

28/04/2010

"Quem vai cuidar dos meus filhos enquanto eu estiver trabalhando?" Passado o período da licença-maternidade, essa é uma das questões mais difíceis de enfrentar - e que tira o sono de qualquer mãe enquanto ela ainda está amamentando. Há algumas décadas, a resposta certa para o dilema seria a avó. Hoje, nem todas contam com esse auxílio, já que a "segunda mãe" também tem seus afazeres. A solução mais comum é recorrer aos berçários, que estão cada vez mais aptos para abrigar os pimpolhos.

É preciso cautela na hora da escolha, afinal, alguns estudiosos garantem que o período entre zero e três anos é fundamental para a formação do intelecto e do físico do bebê. "As experiências que as crianças vivem e os relacionamentos que elas têm durante os três primeiros anos, cientificamente falando, constituem o padrão de relacionamento intelectual e emocional para o resto da vida delas", revela Christine Bruder, psicóloga, especialista em desenvolvimento infantil pela New York University e Harvard Graduate School of Education, em Boston, e diretora da Primetime.

Segundo a profissional, as pessoas costumam não lembrar dos fatos que aconteceram durante esse período, mas a forma de pensar, julgar e lidar com os problemas está relacionada aos fatos e experiências vividas durante essa fase. "O cérebro é o único órgão que não nasce pronto. Ele é formado pelas experiências vividas durante esses anos. A partir dos três anos, o cérebro começa a eliminar tudo o que não é necessário e, depois, passa a lidar com coisas novas. A base já está consolidada", garante.

Mãe de Pedro, 2 anos, e de Luana, 10 meses, Relze Fernandes, 32 anos - que trabalha em período integral como gerente de inteligência de mercado em uma seguradora - concorda com Christine. É por isso que ela não abriu mão de anotar uma extensa lista com tudo o que um berçário precisava ter para ser o ideal para os seus filhos. "Eu tinha uma listinha e toda vez que entrava em uma creche diferente, questionava item por item", diz.

Banho de sol diário, quantidade de berçaristas, professoras atenciosas e carinhosas e horário livre para amamentação eram alguns dos requisitos que a gerente procurava para que fosse mantida a qualidade do bem-estar que as crianças tinham em casa. "Desde que eles nasceram, gosto de tê-los pertinho de mim, grudadinhos. Por isso, pensei que não fossem se adaptar, mas me enganei. Eu me lembro que no terceiro dia de adaptação o Pedro já pulava do meu colo para o da professora feliz da vida, sem resmungar", revela.

Ao que tudo indica, a adaptação mais difícil não é a do bebê, mas sim a da família. De acordo com Regina Célia Rizzo, pedagoga e assistente de direção do berçário do Colégio Itatiaia há 26 anos, para que o trabalho dê certo é necessário, antes de tudo, que a mãe confie no trabalho dela. "Imagine uma mulher que deu à luz recentemente, após segurá-lo por nove meses dentro da barriga, deixou de lado a sua vida para cuidar exclusivamente de um bebê e o está amamentando. A princípio, ela não vai confiar em uma estranha."

E como é esse período de adaptação? "Após conversas diárias com os pais, o resultado começa a aparecer em casa. Uma família tranqüila gera uma criança tranqüila. Essa fórmula eu garanto que não tem erro", enfatiza Regina, que também revela que os pais buscam a internet para garantir que está tudo em ordem com a criança. "No começo, eles ligam e dizem: Tia, estou vendo meu filho pelo computador. Está tudo bem mesmo? Qualquer coisa passo aí para buscá-lo."

Para fazer mea-culpa, as mães confirmam que são inseguras, sim, mas que esse receio acaba em menos de um mês. São tantas as atividades propostas aos pequenos - e benefícios notórios - que fica difícil não acreditar na idoneidade do berçário. "Já fui um pouco neurótica, hoje não sou mais. Uma das coisas que me deixam segura e que, para mim, é o mais importante, é poder entrar e sair a qualquer momento da creche", conta a publicitária Eduarda Vasconcellos David, 33 anos, mãe de Bruno, 1 ano, e de Ana Carolina, de 5.

"Minha filha passou por um berçário onde eu tinha de marcar hora para amamentá-la e sempre a pegava no portão. Ficava desconfiada da situação, pois me sentia uma intrusa quando conseguia entrar", revela Eduarda. A aflição não durou mais do que um mês, já que ela a transferiu para outro local onde podia entrar a qualquer hora para ver a filha e também amamentá-la. É essa a fase que ela está passando com Bruno, que está no mesmo berçário da irmã. "A amamentação é uma coisa linda e séria. Gosto que seja do meu jeito. O pediatra e eu que iremos decidir a hora de parar de só dar leite e iniciar com outros alimentos."

A alimentação também é um dos fatores mais importantes e deve ser ministrada de acordo com as necessidades de cada bebê. Segundo o pediatra Yechiel Moises Chencinsk, autor do livro Homeopatia, mais simples do que parece (Pólen Editorial), em nada adianta forçar caso a criança não esteja preparada. "A alimentação adequada ajuda no desenvolvimento físico e intelectual da criança. Isso, é claro, sem estimular o consumo alimentar excessivo, que tem aumentado o índice de obesidade infantil a níveis alarmantes."

A maioria dos berçários costuma oferecer uma alimentação completa para seus alunos e, por isso, os valores das mensalidades não são dos mais baixos. A média para o período de seis horas é de R$ 600 e, para as mães que trabalham em período integral e têm de deixar os filhos de manhã e buscá-los somente à noite, o valor a ser desembolsado gira em torno de R$ 1.100. "Além da comida, a escola deve oferecer atividades sérias e eficientes para o desenvolvimento da criança (como aulas de música, educação física), com profissionais bem-preparados, higiene e espaço adequado, quer seja para dias frios e chuvosos, quer seja para dias mais quentes", completa o pediatra Chencinsk.

A tal da virose

Uma das dúvidas mais freqüentes entre as mães é o que fazer quando os filhos ou algum outro bebê do berçário fica doente. No caso da advogada Emanuele Mezzanotti, de 29 anos, mãe das gêmeas Clara e Luana, de 1 ano, essa dúvida pairou durante os primeiros meses de adaptação. Agora, ela já não se preocupa mais com isso. "Não tenho receio porque sei que as doenças acontecem e isso não me deixa sem dormir. Sei também que esses probleminhas acabam aumentando a imunidade das crianças", diz .

"O início da vida escolar das crianças de baixa idade pode trazer um aumento, temporário ou não, do aparecimento de algumas doenças infecto-contagiosas, respiratórias ou digestivas", alerta o pediatra Chencinsk. Para ele, esse aumento ocorre por conta da rotina distinta das famílias, sendo que nem todas têm os mesmos parâmetros nutricionais, vacinais e higiênicos. "Criar anticorpos é uma atividade constante do organismo. E isso ocorre não somente na escola, mas também no shopping, no clube, nas festinhas infantis, no parque."

Levar o filho ou não para a creche vai depender do que o médico receitar e da gravidade do problema, mesmo assim algumas famílias não respeitam essa recomendação. "Os pais confiam tanto na gente ao ponto de deixarem os filhos doentes para a gente cuidar. Além disso, há algumas mães que não podem faltar de jeito algum no trabalho e não podem deixar com a babá ou algum familiar", explica Eliana Nascimento, diretora do berçário Villa Cor.


Essa matéria foi publicada no site e no Caderno TV do Jornal da Tarde (05/10/2008) e no site Bem Paraná (21/10/2008)

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545