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Cesariana não é normal?

12/05/2010

O parto é um momento muito esperado e idealizado, mas ele é apenas parte de um processo que se inicia com um casal, uma decisão de ter filhos (que deveria ser bem pensada e programada). Depois disso, vivencia-se uma gestação de 40 semanas, em média, passa pelo parto, continua através do aleitamento materno exclusivo por seis meses e segue, pela vida toda, através da evolução de uma nova família, agora um casal e filhos (ou filhos).

O vínculo dessa família merece ser criado desde a resolução de se engravidar para que não dependa do tipo de parto ou do tipo de alimentação a ser oferecida ao bebê. Sem dúvida, o parto via vaginal, através da participação mais ativa da mãe no parto, traz uma sensação de proximidade muito maior, assim como o aleitamento materno beneficia mãe e bebê, tanto do ponto de vista emocional quanto físico.

É muito importante que se mantenha uma coerência durante esse período, dentro de expectativas reais para que não se perca a beleza e a emoção de cada momento por frustrações que poderiam ser evitadas.

Todos imaginam uma gravidez programada, sem problemas, um parto "normal", sem problemas, e amamentar, pelo menos, até o sexto mês, sem problemas. Uma vida sem problemas... Acho que nem em sonho, não é mesmo?

O importante não é não ter problemas, mas sim termos as condições de reconhecê-los e superá-los.

Partindo desse princípio, sempre acho melhor dar o nome mais adequado às situações, chamando, por exemplo, os tipos de partos de via vaginal (o parto "normal") e de via abdominal (o parto "cesariana"). Assim, evita-se a idéia de que, se um parto é "normal" o outro será "anormal". O parto deve ser, sempre, o melhor possível, sem sofrimento para a mãe nem para o recém-nascido. E só o médico, acompanhando essa gestante e esse casal, saberá determinar o que será o mais adequado para o momento.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o ideal é que haja um índice de 15% de cesarianas entre o total de partos. Em maio de 2.008, foi divulgada pesquisa do Ministério da Saúde com um índice de 43% de cesarianas sendo que, desse total, 80% são mulheres de classe média, com planos de saúde e 26% no SUS (Norte e Nordeste com 22% e Sudeste, Sul e Centro-Oeste com 32%).

Em média, o trabalho de parto na primeira gestação dura cerca de 12 horas, caindo para 8 horas no segundo, diminuindo com o maior número de gestações. Muito se fala a respeito das indicações exageradas de intervenções (cesarianas) e algumas causas são apontadas como responsáveis para essa situação:

- Duração maior do trabalho de parto "normal";
- Menos tempo para acompanhar o trabalho de parto do médico particular ou dos médicos que têm mais de um emprego, com "necessidade de resolver a situação mais rapidamente";
- Mães que optam, pela resolução mais rápida ou por comodidade da data, ou por medo das dores do trabalho de parto, ou de interferir na sua vida sexual posterior (após a episiotomia – corte na região vaginal, muito utilizada para ampliar um pouco o canal de saída do bebê para evitar o trauma obstétrico).

No parto normal, fisiologicamente, o bebê segue seu caminho através das contrações do útero materno, quando ambos estão preparados para esse momento, com seus órgãos sendo "massageados" e preparados para o parto (por exemplo, os pulmões, que eliminam o líquido amniótico para promover a respiração mais adequada após o parto). A mãe não sente as dores do corte no abdômen, como acontece na cesárea, sem cicatriz aparente, com recuperação pós-parto mais rápida. Assim, o recém-nascido pode ser amamentado já na sala de parto (campanha mundial de 2.007 sobre a importância do aleitamento materno logo após o nascimento), favorecendo o vínculo e o aleitamento materno mais duradouro.

Se o parto via vaginal evolui de forma tranqüila, sem complicações, esse vínculo se consolida de forma mais fácil, e a transição útero à braços da mãe é encarado como uma transição natural, uma continuidade entre a vida intra e extra-uterina. O bebê colocado no colo da mamãe após o parto reconhece os batimentos cardíacos e a voz materna, sente seu calor, seu cheiro mantendo-o seguro e mais calmo.

A questão é quando, por alguma razão, a vivência desse momento for traumática ou com dor (para a mamãe, o bebê ou ambos) podendo gerar um ressentimento ou culpa na mãe por ter "provocado" essa situação (mesmo que involuntariamente). É importante a observação e o acompanhamento da família e do médico para garantir a boa evolução desse binômio mãe-bebê.

Outro fator que garante essa segurança é a anestesia que, com a evolução atingida nos dias de hoje, é um recurso que permite que a mulher dê á luz com conforto, sem dor, sem sofrimento, inclusive permitindo que ela caminhe durante as contrações e o trabalho de parto, fato que favorece a evolução para o parto via vaginal. A anestesia pode ser utilizada desde os primeiros sinais de desconforto ou dor, sem que isso interfira nas contrações.

Em fevereiro, a continuação desse tema tão discutido e tão importante para a vida da família do século XXI.


Esse artigo foi publicado no site Meu Bebezinho (19/01/2009), no site Bloguinho do Lucas e Biel (25/06/2009).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545