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Como apresentar o namorado novo para o seu filho?

05/05/2010

Confira o que fazer – e o que não fazer – para não transformar a nova relação em um grande tormento dentro de casa
Glycia Emrich


Não tem jeito: o número de divórcios está cada vez maior e a ideia de príncipe encantado "para sempre" parece ficar apenas nos contos de fadas. De acordo com estatísticas do IBGE, entre 1996 e 2006 o divórcio atingiu a maior taxa dos últimos dez anos. De acordo com esses dados, 76% das separações concedidas foram consensuais, ou seja, de comum acordo entre o casal. E em 89,2% dos casos a guarda do filho ficou com a mulher.

O que antes era exceção agora requer uma nova abordagem da sociedade. "Como se relacionar nesse novo padrão de família em que surgem dois novos integrantes: o namorado da mamãe e a namorada do papai?", indaga o pediatra Moisés Chencinski.

É claro que nem sempre as crianças estão preparadas para lidar com a situação e entender a presença de um novo integrante dentro de casa. E antes de explicar o seu atual momento é importantíssimo deixar claro para o seu filho que ele não é responsável pela separação dos pais – nem por uma reconciliação dos pais.

A aceitação

Se o seu filho for pequeninho, a aceitação parece ser um pouco mais fácil. Crianças menores são menos armadas. "Os adolescentes são mais prevenidos e, além da própria fase de vida, têm uma vivência maior com mais arestas a serem aparadas", comenta Chencinski.

O legal é que o primeiro contato ocorra naturalmente e que a sua relação com o novo namorado esteja minimamente estável. É óbvio que não dá para apresentar para o seu filho um cara que você ficou ontem à noite no bar, enquanto tomava um chopp com as amigas. “As crianças podem se apegar e, no caso de um novo rompimento provocado por uma relação ainda não estabilizada, sofrerem mais uma decepção”, explica Moisés.

Conversar e compartilhar os sentimentos se torna fundamental nessas horas. É claro que é desnecessário contar todos os detalhes (e filho nenhum quer saber sobre certas coisas), mas o diálogo evita algumas surpresas desagradáveis. Ele vai odiar acordar de manhã e encontrar um cara de bermuda tomando o achocolatado que você compra especialmente pra ele.

E não esqueça que o seu filho não é tão bobinho e ingênuo como você pensa. Ele pode sim já notar mudanças no seu comportamento e desconfiar que coisas diferentes estejam acontecendo. "Como mudanças de rotina, nos seus horários,e de comportamentos, como quando você passa mais tempo ao telefone e usa formas diferenciadas de tons de voz e de diálogos",afirma o pediatra. Então,se ele já está ciente de que algo diferente está acontecendo,melhor explicar o que é.

As armadilhas

Não dá pra prever o que pode acontecer, mas o pediatra separou algumas situações que podem trazer repercussões indesejáveis e de difíceis recuperações ao relacionamento familiar. Evite as armadilhas:

- Apresentar o namorado muito precocemente
Antes de envolver a família nesse novo relacionamento, é importante que haja certa estabilidade para, pelo menos, possibilitar um pouco de segurança.

- Apresentar o namorado muito tardiamente
O seu novo parceiro já tem até pijama guardadinho na sua gaveta e você ainda acha que não é hora de explicar o que acontece para o seu filho? Esperar demais é arriscado e pode trazer surpresas desagradáveis. O fato de uma criança não fazer perguntas não significa desinteresse ou ausência de dúvidas. Muitas vezes, elas não conseguem lidar com o que está acontecendo ou alimentam fantasias com medo, até, de que o namorado roube a mamãe e sofrem com isso.

- Apresentar o namorado como amigo
O cara já viajou com vocês pra praia, está em todas as reuniões familiares e você insiste em dizer que ele é apenas um super amigo. Ser sempre sincero, na medida do interesse da criança, ajuda muito a evitar cair em contradições e a perder a confiança adquirida durante a vida familiar.

- Apresentar o namorado sem antes conversar com a criança
A chegada inesperada de um “talvez-futuro-membro-novo-dessa-família” pode desestabilizar emocionalmente essa criança e trazer consequências danosas ao vínculo mãe-filho.

- Chamar o novo namorado de pai
Existe ex-presidente, ex-namorado, mas não existe ex-pai ou ex-mãe. Esse vínculo é eterno e definitivo, mesmo quando as pessoas estão ausentes. A forma mais adequada para que seu filho chame seu novo namorado é pelo nome.

- Tentar ser o novo pai para essa criança
O filho não vai gostar de se sentir traidor do amor e da confiança do pai ausente. Assegure que o novo namorado não vai substituir o pai e que há espaço para que a criança goste também de outras pessoas.

- Criticar o ex-parceiro diante do seu novo namorado
O filho não pode ser o portador das dificuldades dos pais (ex-casal) e não deve, sob nenhuma hipótese, ser usado na tentativa de reconciliação ou de retaliação desse ex-casal.

- Afastar ou incluir demasiadamente outros membros da família em seu novo relacionamento
A família de origem (pais, irmãos, entre outros) são pilares importantes em situações de separação. É importante que eles saibam de suas novas intenções, quando for o momento adequado. Mas, isso não significa que você deva satisfações de todos os seus atos, sentimentos e até pensamentos. A aceitação é desejável, mas não pode ser imprescindível para a continuidade de seu novo relacionamento. Esse limite é muito tênue, porém de importância fundamental.

3 dicas para ajudar o novo namorado a enfrentar a situação

- Tente não interferir nos atritos
"Você não é meu pai" não é uma boa frase para se escutar do filho da sua namorada. Alguns conflitos só podem ser resolvidos entre pais e filhos.

- Entre na rotina da criança
É interessante que não se tire a criança de sua rotina para conhecer o namorado da mamãe. No primeiro encontro, é sempre saudável criar um ambiente de confiança e segurança para evitar fatores de atrito, ansiedade e eventual rejeição.

- Procure compartilhar – e não dividir ou substituir
Sempre é menos sofrido para a criança se ela se sentir acolhida e respeitada e não pressionada e questionada. Ser suave, ser simples e estar junto ajuda a ser melhor recebido.


Esse artigo foi publicado no IG - delas (08/12/2008), no site Net Designers & IH - Goiânia (11/12/2008), no site Te Vi - Vitória (18/12/2008).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545