09/06/2010
Veja a segunda parte dos problemas causados pela infecção de trato urinário.
Os sintomas mais tradicionais de Infecção de Trato Urinário - ITU - são febre, dor ou ardor para urinar, hematúria (sangue na urina) visível (macroscópica) ou invisível (microscópica). Mas, em crianças pequenas, isso não é tão claro assim. Por muitas vezes, apenas a perda de apetite, mudanças de humor, alteração de peso inadequada e febre sem causa aparente, podem apontar para a necessidade de uma investigação.
O exame laboratorial que dá o diagnóstico de ITU é o de urina, composto de duas partes. A urina tipo 1, colhida e analisada de forma mais rápida, que pode indicar a presença de leucócitos (glóbulos brancos) e/ou hemácias (glóbulos vermelhos) na urina. Esse é um exame de execução rápida e apenas indica a possibilidade de infecção. Mesmo assim, esse exame pode aparecer alterado em outros quadros como febre, vulvovaginite (corrimento), balanopostite (inflamação no prepúcio), virose (olha ela aí de novo), reação pós-vacinal, gastroenterocolite (diarréia), desidratação, entre outros.
Mas mesmo com esse exame alterado, não há certeza desse diagnóstico. Para a confirmação, é necessária a realização da urocultura, que indicará se existe uma infecção, qual a bactéria responsável e a que antibióticos ela é sensível (antibiograma). Para que esse diagnóstico seja confiável, a coleta deve seguir sérios critérios para que não haja uma contaminação.
Deve-se proceder a uma assepsia (higiene) adequada, no laboratório ou no hospital (nunca em casa). Se a criança não consegue ainda controlar a urina, a forma mais simples de colher esse exames é através da utilização do saco coletor plástico (SCP), com troca a cada 20 a 30 minutos e, caso não haja diurese, fazer nova assepsia. Essa técnica é pouco confiável, mesmo com técnica correta (85% dos casos são falsos positivos), mas o resultado negativo torna o ITU muito pouco provável. Assim nesses casos, utilizam-se outros dois possíveis métodos (coleta através de sondagem vesical ou de punção suprapúbica.
Em crianças que já controlam a urina, o método de escolha deve ser o jato intermediário ou jato médio (a não ser que haja corrimento ou inflamação do prepúcio). Após a assepsia, pede-se que o paciente elimine o jato inicial de urina e segure, por duas vezes. O jato final deve ser desprezado também, não sendo utilizado para o exame. Assim, se o resultado desse exame for positivo, considera-se confiável o diagnóstico de infecção do trato urinário e o tratamento a ser instituído.
E aí acabou? Ainda não. A importância do diagnóstico adequado reside no tratamento de forma criteriosa e pesquisa para elucidar se existe alguma causa que possa justificar a falha nos mecanismos de proteção. Por isso, existe a necessidade de investigação laboratorial e de imagem específicos. Alguns podem ser mais invasivos e incômodos, para dar continuidade ao tratamento clínico e até cirúrgico.
A ITU é uma das infecções mais comuns na pediatria e pode indicar a presença de alteração congênita (desde o nascimento) em 30-50% dos casos. Se não o diagnóstico e tratamento não forem feitos a tempo, essas crianças podem evoluir com perda progressiva da função renal, hipertensão arterial, insuficiência renal crônica, ou até necessidade de diálise e transplante renal.
Para finalizar, vale lembrar o básico: consulte sempre seu médico de confiança. Não automedique nem "autodesmedique" seus filhos. Um quadro que pode parecer inicialmente simples, se não for diagnosticado e tratado de forma adequada, pode trazer sérias consequências à saúde e comprometer o futuro da criança.
Esse artigo foi publicado no Guia da Semana em 29/05/2009.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545