07/07/2010
Como seria viver em um mundo onde o sexo fosse sempre seguro e responsável?
Como seria viver em um mundo onde cada gravidez fosse planejada e desejada?
Como seria viver em um mundo onde os jovens (adolescentes) pudessem tomar decisões conscientes sobre sua saúde sexual e reprodutiva?
Sonhar, mais um sonho impossível?
Difícil? Sim. Impossível? Não.
Só depende de nós, de todos nós: governo, sociedade, mídia, escola, profissionais de saúde, família e do próprio adolescente.
Formar e informar.
Falando em números, você sabia que...
... enquanto a taxa de gravidez em mulheres adultas caiu de 6 filhos por mulher em 1940 para 2,3 por mulher em 2.000, desde 1980 até 2.006 o número de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas aumentou (700.000 mil meninas se tornando mães a cada ano no Brasil e 1,3% - 9.000 - são partos em garotas de 10 a 14 anos) – IBGE;
... em 2.006, a única faixa etária que apresentou aumento da fecundidade foi a de 15 a 17 anos (6,9% em 1996, para 7,6%, em 2006) e em 2007 mostrou queda na gravidez de adolescentes de 15 a 19 anos - de 20,5% em 2006 para 20,1% em 2007 (uma em cada cinco gestantes é menor de 20 anos – mais de 300.000 por ano) – IBGE;
... no Brasil, mais da metade (56%) dos jovens de 15 a 17 anos que abandonaram a escola são garotas e que um quarto delas (25%) parou de estudar por conta da gravidez precoce (a maior causa de abandono escolar entra as meninas no Brasil) – ONU;
... a gravidez ocorre geralmente entre a primeira e a quinta relação sendo o parto normal a principal causa de internação de brasileiras entre 10 e 14 anos – IBGE;
... 37% dos homens tiveram sua iniciação sexual antes dos 15 anos em contraposição a 17% entre as mulheres na mesma idade – Ministério da Saúde;
... 17% dos homens entre 15 e 24 anos já tinham engravidado alguma parceira, segundo uma pesquisa feita em alguns Estados brasileiros, em 1996.
Não confunda gravidez indesejada com não planejada
Para que se estabeleça o conceito, indesejada é a gravidez conseqüente a abuso sexual ou a falha do método anticoncepcional (desconhecimento total ou parcial de sua utilização).
A gestação na adolescência, na maioria das vezes, é não planejada, mas como se observa em avaliações em consultas médicas e psicológicas, podem refletir um desejo inconsciente de ser mãe, levando até a uma boa aceitação e adaptação a essa nova realidade.
Mas, se houvesse um projeto de educação sexual adequado já a partir do ensino fundamental, que contasse com o apoio do governo, da mídia, da comunidade, da escola e até da família, possivelmente, o planejamento acarretaria em uma melhor programação para a gestação, levando em conta fatores sociais, educacionais e de vida desse "casal adolescente".
Uma vez programada uma gestação para a época adequada, deve haver um acompanhamento também planejado contando com acesso facilitado ao pré-natal, importantíssimo para a saúde do binômio gestante-bebê, incluindo, nesse processo, o espaço fundamental para o adolescente-homem, porque nenhuma mulher engravida sozinha, não é mesmo?
Quando deve ser a primeira consulta ginecológica?
Essa é uma orientação que sempre passo no consultório e que encontra certa resistência entre as mães, as próprias adolescentes e, por incrível que pareça, até de muitos ginecologistas (talvez por não estarem preparados tecnicamente para essa avaliação).
Há 3 momentos em que essa consulta pode ser feita:
- Logo depois da primeira menstruação;
- Antes da primeira relação sexual;
- Imediatamente após a primeira relação sexual.
Com toda certeza, quanto antes melhor. Assim, a primeira menstruação (aquela que a gente nunca esquece) pode ser o ponto de transformação que leva aquela menina a iniciar sua passagem para assumir seu papel de mulher (ou, para os mais saudosistas – a menina-moça) na sociedade, já com capacidade de procriação.
Nessa primeira consulta, assuntos como cólicas, TPM, corrimentos, DST, métodos contraceptivos podem e devem ser abordados, estabelecendo uma relação de confiança com o médico, evoluindo do contato mãe-pediatra-criança para o de ginecologista-adolescente.
Dia Mundial de Prevenção da gravidez na Adolescência
26 de setembro é o dia dedicado à conscientização a respeito dessa situação, que é cada dia mais freqüente, não só no Brasil, mas no mundo todo. Em 2007, o tema dessa campanha foi "Viva a sua vida antes de iniciar outra" e em 2008 foi "Sua Vida, Sua Decisão".
Para 2.009, com muita propriedade, aborda-se a idéia de comunicação para o conhecimento, da informação para a formação com o tema "Sua Vida, Sua Voz: fale sobre contracepção" (Your Life, Your Voice: Talk Contraception).
As datas comemorativas devem ser usadas não só para celebração, mas, principalmente, para informação. A meta da campanha desse ano é o estímulo para encorajar os jovens a falarem sobre sexo e contracepção para que a semente da informação possa gerar frutos de prevenção de gestações não planejadas ou doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Essas informações podem ser obtidas na família, se essa for acolhedora e tiver o conhecimento para tanto. Caso isso não seja possível, o ideal é que se busque essa base, essa confiança, que deveria ser adquirida no atendimento médico profissional.
Não se deve temer e nem sentir vergonha de abordar a importância da proteção (contracepção) com seu namorado ou namorada, antes de iniciar sua vida sexual. Essa é uma responsabilidade que cabe ao casal, independente de idade e classe social.
Em 26 de setembro, não vamos nos calar:Sua Vida, Sua Voz ou, como eu prefiro, Nossa vida, Nossa voz - porque todos somos responsáveis.
Este artigo foi publicado no site da Revista Chic (18/09/2009), no site Guia da Semana - Teen (09/10/2009).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545