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Educação sexual para os pequenos

16/07/2010

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, toda pessoinha até 12 anos incompletos é criança! Dessa idade até os 18, já é considerada adolescente.

Logo antes da primeira fase acabar, entre 8 e 10 anos, a puberdade mostra às caras, com características que indicam comportamento sexual. E em 95% das mulheres, o desenvolvimento desse comportamento ocorre entre 8 e 13 anos.

Essa antecipação exige preparo, por parte de pais e escola, no sentido de preparar as crianças, ainda que precocemente, para o mundo real. Isso porque a sexualidade se apresenta de diferentes formas, não necessariamente vinculadas aos genitais ou a uma relação, propriamente dita. "Outras necessidades, como aceitação, carinho e contato fazem parte desse processo com a mesma importância, formando valores que podem direcionar uma adolescência segura. A informação adequada e honesta, elucidando os mitos e tabus, propiciam a possibilidade de escolhas melhores e mais preventivas", afirma o Yechiel Moises Chencinski, médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, especialista em pediatria pela Santa Casa de São Paulo.

Hoje, além do desenvolvimento hormonal e físico mais acelerado e antecipado, as informações chegam às crianças com muito mais velocidade e muito menos filtradas. O que Yechiel afirma é que a informação chega às crianças do ensino fundamental de qualquer forma, pelos amiguinhos ou pela mídia, com ajuda da televisão, revistas ou internet. "Não há necessidade de esperar que uma criança ou um adolescente precise falar sobre sexo. Em alguns casos, pode já ser tarde demais", defende.

Segundo ele, uma vez adequadamente orientadas, as crianças podem se proteger, por exemplo, contra a pedofilia e o abuso sexual, reconhecendo atitudes e situações de risco, e relatando caso tenham presenciado ou vivenciado algo diferente. "Pais e professores preparados podem ser aliados, reforçando os laços de amizade e confiança, assumindo os papéis de orientadores e formadores de valores, como fontes seguras de informação".

E quem ainda assim pensa que é cedo demais para falar sobre o assunto com os filhos, pode prestar atenção aos dados, que assustam. Segundo o IBGE, a única faixa etária que apresentou aumento da fecundidade foi a de 15 a 17 anos. Hoje, a cada cinco gestantes, uma é menor de 20 anos. Dados da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Nacional do Câncer, revelam que 30% das mulheres sexualmente ativas carregam o vírus de HPV. Entre as adolescentes, esse número sobe para 50%.

Decidida a conversar com os filhos sobre o assunto, é preciso escolher e melhor abordagem. "A princípio, o melhor momento para se falar sobre sexo com as crianças é quando elas perguntarem e mostrarem curiosidade. É importante não deixar a criança sem resposta ou com uma ideia enganosa. Perguntar o que você quer saber sobre isso? pode ser um ótimo começo" indica o médico.

Essa pergunta, além de dar tempo para que pais ou professores respirem e pensem um pouco (e às vezes até se refaçam do susto), permite estabelecer qual o real interesse por trás da dúvida e qual o verdadeiro nível de informação que a criança já tem. "O que adultos chamam de masturbação, por exemplo, com uma visão erótica, para as crianças é apenas parte de uma fase de descobertas, onde o prazer em se tocar precisa apenas de um direcionamento adequado para o onde e o quando fazer".Yechiel lembra que o pênis e a vagina fazem parte do corpo humano tanto quanto o nariz, o coração e o cérebro. Punir, repreender e intimidar pode, no máximo, fazer com que a criança sinta culpa e vergonha, sentimentos que, mais tarde, poderão gerar dificuldades de relacionamento sexual e até social. "Informar não incita ao sexo precoce e, em muitos casos, até retardam a iniciação sexual".

Não é cedo demais? Segundo o médico, não há problema em se falar sobre sexo cedo demais. "Todos os estudos sobre o assunto demonstram que a sexualidade está presente na vida do ser humano, de uma forma ou de outra, desde o nascimento até a morte", defende. Dessa maneira, a educação sexual acontece constantemente, mesmo que não se ofereçam os conceitos ou não se fale direta e abertamente sobre o assunto. "Cada reação a uma pergunta, cada comentário diante de um programa na TV ou uma foto nos jornais ou revistas transmite conteúdo sexual para a criança".

Mas essa educação sexual não intencional não tem qualidade. Por isso, é preciso tratar de outra maneira, basear a conversa nos conceitos de respeito, que começa pelos cuidados com corpo (higiene, alimentação, atividades físicas), passando pela atenção com o outro (educação, ética, moral), para então cuidar do relacionamento (afetivo, religioso, social e sexual). "A educação sexual intencional deve ser instituída de forma mais precoce não para estimular, mas sim para que possamos tratar desse assunto com a naturalidade que ele merece".


Essa matéria foi publicada no site Vila Filhos (28/10/2009), no site Mammys Blogs (10/11/2009), no site RIUS - Rede de INformação Universal (26/04/2012).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545