09/07/2010
Pequenas noções de responsabilidade no dia a dia das crianças podem contribuir para a formação de adultos proativos
Letícia Moreli
Que o perfil da família mudou, ou pelo menos está em franca transformação, é notável. Os filhos estão saindo de casa mais tarde, já sem aquela urgência de viverem suas vidas longe dos pais. As mulheres avançaram no mercado profissional sem deixar para trás a educação secular de desempenhar suas funções domésticas. E os homens já se aventuram nos cuidados com a casa, graças a Deus! Mas ainda assim, muitos deles continuam sendo criados desde pequenos para conquistar o mundo, muitas vezes sem nem examinar o funcionamento do seu próprio território. É hora de mudar.
De maneira leve e lúdica, conceitos básicos de cooperação podem ser apresentados na infância. "Desde que o João nasceu, ele me acompanha. Começou a me ajudar a arrumar as camas. Mesmo que ele mais bagunçasse do que arrumasse, eu gostava da ajuda dele porque sabia que estava ensinando algo que se tornaria um hábito, uma atividade diária, como escovar os dentes", conta Janaína Santoro, mãe do pequeno João, de quatro anos.
Tarefas de todo dia, como arrumar a cama ou tirar o prato da mesa após as refeições, fazem com que a criançada participe da rotina da casa, conscientizando-se de que são peças importantes não apenas no seu uso, mas na sua manutenção. "Se a criança for educada, respeitada, se sentir acolhida e incluída na rotina da família, certamente ela conseguirá cooperar e levar para o futuro os valores recebidos na infância", explica o especialista em pediatria Yechiel Moises Chencinski.
Rotina doméstica
Integrar o seu filhote na logística do lar também pode ser um jeito divertido de contornar a correria do dia a dia e passar mais tempo perto dele. "Gostamos de varrer juntos as folhas que caem na calçada. Essa experiência trouxe muitas coisas bacanas. Outro dia ele viu um gari varrendo a rua e foi falar com ele, bateram o maior papo", brinca Janaína.
É na família e da família que podem ser criados estilos de vida saudáveis, desde que os pais se lembrem que são os exemplos, muito mais do que as palavras, a base desse futuro. "Tudo que faço em casa ele participa: me ajuda a arrumar o quarto; lava sua cuequinha no chuveiro – lógico que depois lavo novamente, sem ele ver; me ajuda a lavar a roupa, a dobrar. Tudo dentro do possível na sua idade. Ele se sente muito importante e útil", garante Ana Carolina Valverde, mãe de Gabriel, de três anos.
"Não posso esquecer que brincamos muito juntos, de tudo: carrinho, bola, desenhar. Eles precisam aprender, desde cedo, que existe um mundo lá fora e não só o mundinho de casa, o papai e a mamãe", pontua.
Nem tudo é trabalho
Lembre-se de que nesse contexto, as crianças ainda precisam ser tratadas como crianças e não como adultos em miniatura. Estamos passando por uma realidade onde os pequenos adquirem responsabilidades muito precocemente, em agendas concorridas para, na maioria das vezes, satisfazer os anseios e desejos dos pais. Há de se ter o tempo do descompromisso, é preciso brincar.
"Os filhos se sentirão importantes à medida que nós nos consideremos importantes e presentes como pais. Para que o papel deles seja desempenhado de forma positiva, é fundamental que cada membro da família cumpra, de forma prazerosa e divertida, o seu papel", salienta o pediatra Yechiel Moises.
Dicas para estimular seu filho a ser independente
- Estimule, nas meninas, valores como a coragem, a curiosidade e a inteligência. Nos meninos, a afetividade, o respeito, a organização
- Intervenha em situações em que estejam sendo preconceituosos
- Faça as mesmas perguntas e use o mesmo tom de voz para se dirigir tanto aos meninos quanto às meninas
- Incentive ambos os sexos às práticas esportivas e atividades de ciências, matemática, arte e música
- Desencoraje a competição entre os gêneros e estimule a cooperação.
Esse artigo foi publicado no IG - Delas - Família e Filhos (19/09/2009), no site ExpressoMT - Mato Grosso (30/09/2009).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545