29/08/2010
Quando é preciso impor limites aos pais (literalmente)
Tem coisas que precisam ser feitas. Tem coisas que não podem ser feitas. Tem coisas que tanto faz fazer ou não. Mas há coisas que precisam parar de ser feitas.
Parece conversa de louco, não parece? Deixem-me explicar isso melhor.
É muito comum no consultório as mães chegarem com seus filhos de 1 ano de idade ainda esterilizando as mamadeiras ou com 5 anos de idade e ainda usando mamadeiras e chupetas.
Por que isso acontece?
São várias as causas. Hábitos passados de geração em geração, pressão social de parentes, amigos, escolas, mas também, na minha percepção, porque ninguém orientou a hora adequada de parar.
Isso pode ser parte da ação do pediatra, facilitando o caminho dessa família em seu amadurecimento, permitindo que ela se importe mais com as questões da fase pela qual a criança está passando e não carregando preocupações que já poderiam estar superadas.
A gestação, por exemplo, é um período de aprendizado, de muitas novidades. Como dar o banho, fazer arrotar, cuidados com o umbigo, amamentar, alimentar são alguns dos "problemas" que essa família vai ter que transpor para assegurar uma boa evolução de seu bebê.
Mas depois que o bebê nasce, ninguém fala quando parar com tudo. E, muitas vezes, o excesso de preocupações e de atividades impede que os pais possam cuidar e curtir a fase pela qual seus filhos estão passando, provocando ou um excesso de apego, ou um desinteresse ou, algumas vezes, até um descuido pela não hierarquização adequada das situações.
Vamos iniciar um "manual de dicas" sobre quando vocês podem (ou devem) parar:
Quando parar de esterilizar tudo?
Mamadeiras e chupetas são, normalmente, abominadas por profissionais (pediatras, otorrinos, odontopediatras, fonoaudiólogos), mas são abençoados pela família (tios, avós, pais). O ideal seria que eles nunca fossem utilizados e que após a suspensão do leite materno, ou na impossibilidade da amamentação, a criança recebesse seu leite através de copos de transição ou colheres. A chupeta não tem nenhuma justificativa real para ser utilizada. Mas, todos nós sabemos que isso é o ideal, mas não é real.
Assim, já que não podemos lutar contra elas, vamos, ao menos, tornar esses hábitos seguros e minimamente adequados.
Não há germes no intestino do recém-nascido (o ambiente intra-uterino é estéril). Com a amamentação, a eliminação do mecônio, começa a colonização do organismo do bebê por vírus, bactérias que podem ser benéficos (fazendo parte da flora bucal, intestinal, vaginal) ou prejudiciais ao nosso organismo. Alguns desses microorganismos até estimulam a formação do sistema imunológico do bebê, que, nessa fase ainda está imaturo.
Muitas substâncias não poderiam ser utilizadas pelo organismo para crescer e desenvolver-se adequadamente se não fosse pela ação flora intestinal.
O aleitamento ao seio leva ao bebê uma grande quantidade de anticorpos que os protegem contra infecções. O aleitamento artificial, através de mamadeiras, pode causar infecções, quer seja pela contaminação do seu material como do próprio leite.
A limpeza remove resíduos e a esterilização elimina bactérias e outros germes (por meio da fervura), prevenindo doenças como sapinho (fungos), infecções do sistema digestivo e diarréias (vírus, bactérias e fungos) que podem ser provocadas pela má higienização e esterilização dos bicos artificiais.
Antes do primeiro uso de qualquer tipo de bico artificial devemos fervê-lo por pelo menos cinco minutos em fogão convencional ou em microondas. A mamadeira ou chupeta deve ser colocada em um recipiente onde fique coberta completamente pela água.
A troca dos bicos artificiais (mamadeiras e chupetas) deve acontecer a cada seis semanas, pois existem dobras que podem ser difíceis de serem limpas e acomodarem germes e bactérias e nunca aumente o tamanho do furo do bico da mamadeira. O bico tem aquele tamanho por alguma razão. Se o que você colocou na mamadeira (frutas, engrossantes) não passa por esse bico do jeito que está, é porque a o conteúdo está grosso demais e não deveria estar sendo oferecido dessa forma.
Converse com seu pediatra.
Até o mês que vem, com mais algumas dicas.
Até lá.
Esse artigo foi publicado no Guia da Semana - Crianças (28/08/2009).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545