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Como reverter a epidemia de obesidade na infância

25/09/2010

Os dados  do POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) divulgados pelo IBGE recentemente são assustadoramente previsíveis quando comparados aos números registrados em 1974 e 1989. Hoje, mais da metade da população adulta no Brasil está com sobrepeso ou obesa, assim como um terço das crianças de 5 a 9 anos de idade. A obesidade já é uma doença crônica no Brasil e avança a passos largos e pesados em todas as idades, sexo e classes sociais. Por que nossas crianças estão engordando e de quem é a responsabilidade por esse descontrole no peso?

“Nenhuma criança (pelo menos até seus 4 anos de idade) come o que não lhe é oferecido ou não está ao seu alcance. Assim, grande parte dos quilos a mais ganhos pela criança deveria ser direcionado a quem, de fato, é o facilitador para essa doença crônica que pode começar desde a época de recém-nascido”, afirma o Dr. Moises responsabilizando os pais ou responsáveis pela tutela da criança. ”O ambiente familiar é o primeiro nicho social que a criança faz parte. É a família a responsável pelo bem-estar e pela saúde dessa criança. É quem oferece o teto e determina a alimentação.”

O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês de vida. Depois disso vem a introdução de outros alimentos que deve seguir uma orientação adequada, fornecida nas consultas pediátricas de rotina e seguida por todos no ambiente familiar, escolar e social. A criança absorve os hábitos alimentares da casa e das pessoas próximas, por isso a alimentação saudável deve ser seguida por todos. “É muito difícil colocar na criança a obrigação de se alimentar de forma adequada, se as ofertas são praticamente constantes, quer seja através do apelo da mídia, quer seja pelos amigos, pela escola ou pela própria família”, afirma.

O Dr. Moises cita um estudo realizado em uma comunidade da  Austrália*. Entre 2004 e 2008, foram avaliadas e acompanhadas 12.000 crianças com idades de 0 a 5 anos. Foram instituídas alterações nessa comunidade (políticas, físicas e socioculturais) visando melhorar a qualidade da alimentação e da atividade física dessas crianças, com participação fundamental das escolas e creches. O programa contou com apoio financeiro, suporte de universidades (para treinamento e avaliação dos projetos), parceiros nas áreas psicológicas, dentais, entre outros, mobilizando a sociedade em prol dessa meta. Os resultados foram uma redução significativa no peso e IMC dessa população entre 3 a 5 anos e redução significativa do sobrepeso e obesidade em crianças entre 2 a 3 anos e meio, após redução significativa da oferta e consumo de sanduíches e refresco.

“Esse estudo só reforça o quanto é fundamental que haja uma conscientização nacional sobre a gravidade da situação das crianças e a relação disso com doenças na vida adulta (diabetes, hipertensão arterial, obesidade, entre outros), já presentes em fases cada vez mais precoces, inclusive na própria infância. O estudo mostra ainda que a união de esforços é a principal forma de combater essa quase epidemia que estamos enfrentando no Brasil”, conclui o Dr. Moises.
                                                      
 
*trabalho publicado no American Journal of Clinical Nutrition  (Volume 91, Number 4, April 2010, Pages 831-840).
 


Essa matéria foi publicada no site da Revista Vigor (09/09/2010), no site do Jornal Magazine - Minas Gerais (14/09/2010)

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545