25/09/2010
Médico especialista em crianças deve ser consultado até os 19 anos, recomenda Sociedade Brasileira de Pediatria
Luiz Beltramin
O término da infância não significa o fim das visitas ao médico pediatra. É o que defende a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). De acordo com especialistas filiados à entidade, o ideal é que o jovem continue sendo examinado regularmente até os 19 anos, afirmam.
As consultas rotineiras na infância, também conhecidas pelo termo puericultura, são fundamentais, afirmam os membros da SBP, para avaliar o estágio de desenvolvimento da criança e detectar ou prevenir possíveis distúrbios. E, também por isso, devem incluir exames para avaliar a saúde do paciente.
O maior diferencial na continuidade do atendimento de pessoas que já saíram da infância, afirmam os pediatras, é o diagnóstico mais fácil, pois geralmente esses especialistas já têm o mapeamento detalhado do paciente, acompanhados, em alguns casos, até mesmo desde antes do nascimento.
"Normalmente, o atendimento com maior regularidade ocorre até a faixa dos 13 anos", aponta o pediatra Helder Rodrigues Ferreira. "Mas atendo muitos adultos que vi crescer, mas continuam nos visitando", ressalva.
E apesar de recomendada até os 19 anos, a ida ao pediatra tem frequências diferenciadas conforme a idade. Até o primeiro ano de vida, as consultas devem ser mensais. Depois, passam a ser bimestrais ou trimestrais.
E, durante a adolescência, podem ser realizadas de forma mais espaçada, mas não esquecidas, independentemente se o paciente está bem de saúde, como defende o médico Jorge Huberman, pediatra e neonatologista do hospital Albert Einstein e Instituto Saúde Plena, em São Paulo.
"Notamos que as chamadas doenças adultas têm se tornada cada vez mais frequentes e próximas das crianças e jovens. Por isso é fundamental que o chamado check-up deixe de ser exclusividade dos adultos", frisa o especialista.
Entre essas doenças, Huberman cita a maior incidência de alterações na glândula tireoide e até problemas cardíacos antes da entrada na fase adulta. Das crianças com mais de 8 anos, por exemplo, 33% apresentam índice de colesterol mais alto que o normal na corrente sanguínea, segundo o médico.
Para Ferreira, a maior incidência de "doenças adultas" entre as crianças é atribuída à maior exposição dos pequenos a perigos muitas vezes invisíveis, entre eles os vírus e as bactérias. "As doenças estão por toda a parte e vejo as crianças cada vez mais expostas", observa. "Recém-nascidos com menos de 20 dias são levados para fora de casa, com as mães, no shopping, nas ruas", ilustra.
Outros especialistas
Apesar de não abandonar o pediatra, o adolescente não deixará de consultar outros especialistas. "Se observo que criança ou jovem tem um sopro, encaminho de pronto para o cardiologista", exemplifica o médico Helder Rodrigues Ferreira de Bauru. "Se é notada alteração na tireoide, vai direto para o endocrinologista", acentua o pediatra.
Entretanto, em algumas situações, o paciente, por iniciativa própria, busca diretamente auxílio de outros especialistas. "Uma menina que já menstruou, por exemplo, em primeiro lugar se sentirá acanhada. Em segundo que, para certos exames, nem temos estrutura adequada para atendê-la", pondera Ferreira.
Confiança
Em muitos casos, é a confiança estabelecida por anos de convivência que determina a manutenção do vínculo entre pacientes jovens e pediatras. Foi o que aconteceu com o estudante de publicidade Alexandre Ogata Sueishi, de 21 anos.
O rapaz, que sofre de bronquite e rinite, após diversos tratamentos, recorreu ao médico de infância na busca por solucionar, ou ao menos atenuar, os transtornos dos males respiratórios.
"Havia ficado oito anos sem ir ao médico que costumava visitar na infância", conta o universitário, atribuindo ao pediatra, no caso o próprio Helder Rodrigues Ferreira, auxilio na amenização dos problemas. "Mas avaliei que foi importante, pois o pediatra já tem muitos dados sobre nossa saúde, conhece o paciente muito bem", afirma.
Relação começa antes do nascimento
Se os limites para o convívio entre pediatra e paciente extrapolam a infância e avançam à adolescência e até mesmo fase adulta, como recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), essa relação também não tem limites para o começo, que, dizem alguns médicos, se dá antes mesmo do nascimento da criança.
Diferente de outras épocas, quando o pediatra tinha "prazo de validade" ou atuação limitada, hoje é fato entre os especialistas que a presença do médico é fundamental tanto antes da gestação quanto após a puberdade.
Se a ação pediátrica ocorre durante a gravidez, defende o médico Moisés Chencinski, especialista na área pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o médico tem a oportunidade de conhecer a formação genética da criança e, desta forma, ter uma visão ampliada de seu desenvolvimento.
"Não há como pensar em cuidar de uma criança desde a barriga da mãe até o final da adolescência sem que nos preocupemos com tudo o que envolve o seu desenvolvimento", argumenta o médico, por meio de sua assessoria de imprensa.
Esse mapeamento, acentua, auxilia na orientação dos diagnósticos e formas de tratamento, sendo fundamental na transição para a vida adulta. "A criança não é uma parte do desenvolvimento do adulto: ela é todo um ser humano", enfatiza. "Mas um ser humano, para se desenvolver, necessita dos cuidados inerentes à sua fase de vida", pondera o médico.
Essa matéria foi publicada no Jornal da Cidade de Bauru (22/08/2010).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545