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Birra e agressividade merecem resposta sempre

09/11/2010

por Heloísa Noronha

Segundo a psicóloga Maria Regina Domingues de Azevedo, da Faculdade de Medicina do ABC, além do objetivo a ser alcançado, o comportamento é regido pela avaliação da probabilidade de se ter sucesso utilizando a persistência. “Quando se tem a certeza da impossibilidade, não há motivação, por conseguinte, não se deflagra a conduta. Porém, quando uma criança quer algo, alguém diz não e após alguma birra ela consegue o que queria, ensinou-se a ela que o mais eficaz método de se conseguir o que se quer é fazendo birra. Tal ensinamento se enraizará profundamente e terá consequências bastante negativas no futuro”, afirma.

A birra é uma das formas que a criança tem de experimentar os limites, testar a autoridade dos pais. Quando uma criança faz birra é porque os pais foram indisciplinados: proibiram, cederam, proibiram, cederam. Desrespeitaram as próprias proibições, ensinando a criança a fazer o mesmo, ou seja, desrespeitá-los. Para reverter este comportamento, os pais nunca devem ceder ao que a criança deseja no momento da birra.

Criança que bate é inaceitável em qualquer idade, mas as famílias muitas vezes só se dão conta disso quando ela completa 4 ou 5 anos e já convive com mais pessoas. Antes, tapas e chutes parecem engraçadinhos para alguns pais. Eles esquecem que o filho crescerá, e os tapinhas podem virar tapões ou algo pior.

Seu filho tem o direito de usar o corpo para expressar o que está sentindo. Mas isso não quer dizer que ele possa machucar os outros. Mesmo que você seja uma mãe calma, ou um pai bonzinho, que normalmente deixa outros tipos de mau comportamento passarem em branco, bater em você tem de ser absolutamente proibido.

Desde cedo, a agressividade é sinal de que o diálogo faliu. Como o tempo sozinho não vai resolver a situação, o quanto antes forem identificadas as causas desse comportamento, mais fácil será mudá-lo. Se nada for feito, provavelmente a criança passará a acreditar que a agressão física é uma alternativa válida nos relacionamentos.

O jogo agressivo também pode ter origem na impulsividade infantil. Por exemplo, a criança pede um brinquedo e, diante de uma recusa, começa a fazer birra, fica tensa e logo está aos chutes. O desafio para os pais é controlá-la e acalmá-la sem criar um jogo de forças. Segurá-la com delicadeza e explicar em tom baixo o motivo da recusa ajuda a restabelecer o clima amoroso.

Existem ainda aquelas crianças que não são impulsivas, não têm um modelo em casa de agressão física, são gentis socialmente e, apesar disso, batem nos pais. A causa pode estar em uma tensão familiar que elas captam e não compreendem, como uma crise entre os pais, um problema financeiro ou de saúde. “Não importa a idade do seu filho, é fundamental que você o tranquilize. Sem entrar em detalhes, explique que a situação está complicada, mas que ele não tem nada a ver com aquilo, e ofereça alternativas relaxantes, como brincar no quarto ou visitar a avó”, aconselha Maria Regina.

O importante é que o bater nunca fique sem resposta. Os pais precisam aprender a se impor pela sabedoria, preservando-se em uma posição de respeito e autoridade diante dos filhos. Quando a família não consegue fazer isso com os próprios recursos, é hora de buscar ajuda.

Existem outras causas que podem desenvolver essa atitude na criança, como ficar esquecida pelas pessoas da família, brincar sempre sozinha, não receber carinho dos adultos de sua convivência, o que a leva a tomar atitudes que chamem atenção.

O ciúme também é uma forma de deixar a criança agressiva. Ao ver seus pais mantendo troca de carinhos, ela se sente insegura, como se eles não a amassem. Quando isso acontece o melhor é rever o tempo gasto com a criança, se estão dando atenção, carinho e se tem o compromisso de distrair e brincar com ela.

“O ideal é conversar com o pequeno, manter muita calma e paciência, e pedir para que não repita o gesto. E quando acontecerem os tapas, é interessante ensinar a trocá-los por um beijo, que é mais gostoso”, diz Maria Regina.


Essa matéria foi publicada no site da UOL - Estilo - Comportamento (09/11/2010)

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545