Esse foi um artigo escrito pelo colunista Hélio Schwartsman do jornal Folha de São Paulo a respeito da demonstração realizada contra a homeopatia em algumas cidades no mundo, inclusive em São Paulo.
07/02/2011
Infelizmente não tive oportunidade de responder ao articulista no mesmo espaço, mas gostaria de colocar aqui texto sobre o assunto para que esse comentário não passe em branco.
"Tomei 60 bolinhas antes do protesto contra a homeopatia"
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA - 05/02/2011
Escrevo essa reportagem sob overdose. Acabo de ingerir 60 comprimidos... de um preparado homeopático. De acordo com a bula do complexo homeopático nº 35, da Farmácia Almeida Prado, destinado a tratar "nervosismo", eu deveria procurar meu médico. De acordo com a química, porém, não preciso me preocupar. As substâncias do complexo nº 35, preparadas segundo as regras da homeopatia, são tão diluídas que eu não absorvi mais do que uns poucos milhões (106) de moléculas dos ingredientes originais. E isso é insuficiente para produzir efeitos orgânicos.
Para dar termo de comparação, uma colher de chá de açúcar contém 7 sextilhões (7x1021) de moléculas de sacarose. Basicamente, o que eu consumi foram as bolinhas de lactose que servem de excipiente para os comprimidos. Elas bem que poderiam ser mais saborosas.
Fiz esse experimento antecipando-me ao protesto global contra a homeopatia, iniciativa de um grupo de céticos que ocorre em 79 cidades de 27 países neste fim de semana. Os manifestantes vão, como eu, tomar doses maciças de remédios homeopáticos para chamar a atenção da população para o fato de que eles são inertes, isto é, "são feitos de nada", no dizer da campanha. Mais detalhes no site do movimento: www.1023.org.uk.
No Brasil, estão previstas manifestações em São Paulo, Natal e Porto Alegre. Hoje, o braço paulistano vai se reunir na praça Benedito Calixto e precisamente às 10h23 cometerá a "overdose homeopática". Vá e leve seu complexo homeopático favorito, pois não haverá distribuição de drogas no local.
O 10:23 que dá nome ao movimento é uma referência à constante de Avogadro (6,02x1023), a garantia estequiométrica de que preparados em diluições superiores a 12C passam a ter mais chances de não conter nenhuma molécula do princípio ativo do que de conter.
A meta do movimento não é banir a homeopatia, mas levantar a discussão sobre seus fundamentos de modo que as pessoas possam fazer escolhas informadas sobre sua utilização. Outro objetivo é evitar que governos gastem preciosos recursos com tratamentos sem confirmação científica. Seria como financiar pesquisas astrológicas em vez de astronômicas.
PS - Passadas mais de 24 horas da minha overdose, ainda não senti nada, mas, depois de ler a nota da entidade dos homeopatas, fiquei com vontade de me entregar à polícia. Quem gosta de homeopatia poderá dizer que é um efeito colateral do complexo nº 35.
Articulista da Folha de São Paulo e bacharel em filosofia Sr. Hélio Schwartsman
A homeopatia é uma especialidade médica que tem 200 anos, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina no Brasil desde 1980.
Para ser homeopata, é necessário fazer um curso de graduação em 6 anos em Faculdade de Medicina (o meu eu fiz na Faculdade de Medicina da USP), alguns fazem especialização em regime de residência médica (eu fiz Pediatria na Santa Casa de São Paulo) para então fazer 3 anos de especialização em homeopatia.
Assim, para ser homeopata no Brasil é necessário ter formação em medicina, odontologia, veterinária e farmácia (que são as especialidades em homeopatia).
O Brasil é um país livre que permite qualquer tipo de manifestação, desde que não haja violência. O Brasil permite liberdade religiosa. E a Constituição do Brasil garante a todo cidadão a liberdade de escolha de terapêuticas oficiais.
Assim, o 10:23 é uma manifestação legítima (desde que seja conduzida sem violência e com respeito) que mostra a opinião de algumas pessoas a respeito da homeopatia.
Assim como o Sr., os responsáveis por essa campanha no Brasil não são da área médica e nem da área da saúde. Eles são céticos, ufologistas que têm grande representatividade com seus sites, mas não têm conhecimento da homeopatia.
Apesar de bem humorada (tentativa de suicídio com remédios homeopáticos) se vocês tentassem conhecer um pouco sobre homeopatia, sua filosofia e sua prática, vocês não fariam isso.
Dessa forma, vocês só vão conseguir demonstrar duas coisas:
1) O medicamento homeopático, mesmo tomado em grande quantidade, não tem efeitos colaterais indesejáveis.
2) O medicamento homeopático, mesmo tomado em grande quantidade, não é indicado para suicídios (não vai acontecer).
Posso fazer uma sugestão:
A "tentativa de suicídio" com vitamina C, nas mesmas quantidades, teria o mesmo efeito e pode ter gosto mais agradável para algumas pessoas. Mas também não vai ser eficaz para suicídio. Isso provaria que a vitamina C não funciona?
Tenho um livro sobre o assunto (HOMEOPATIA mais simples que parece) e sou editor de uma revista (DOSES MÍNIMAS) sobre homeopatia para o público leigo.
Coloco-me à disposição para esclarecer quem tiver interesse real sobre a homeopatia, quer seja profissional da área de saúde ou não.
Tenho absoluta certeza que pessoas tão interessadas e preocupadas em alertar a população sobre riscos à sua saúde não se privarão da oportunidade de conhecer a homeopatia, assim como devem ter se dedicado a conhecer a fundo outras formas terapêuticas também reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, como a acupuntura e a alopatia.
Dr. Moises Chencinski
Médico Pediatra e Homeopata
Professor do Curso de Especialização em Homeopatia com Ênfase em Saúde Pública e Estratégias em Saúde da Família da Prefeitura de São Paulo
P.S.: A empresa divulgada deve estar muito feliz pela propaganda gratuita.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545