05/02/2011
A pressa é inimiga da perfeição: o estresse na gravidez faz mal para você e para o bebê, que pode até nascer antes do tempo, com todas as consequências negativas. Entenda por que é fundamental manter a mente quieta e o coração tranquilo
Por Paula Montefusco, caçula, irmã de Filipe
Agora que você está grávida, tem uma ótima razão para NÃO se preocupar tanto: seu filho. Isso mesmo. Durante a gestação, episódios de estresse muito intensos podem trazer consequências negativas tanto para você quanto pra ele. Como sabe que vai ficar entre quatro e seis meses longe do emprego, você pode tentar mostrar agora que não deixou de ser produtiva porque está grávida. Pode pensar: o melhor é trabalhar até a véspera do parto e depois passar mais dias com o bebê em casa, já que dentro da barriga ele está protegido. Mas não é bem assim. O obstetra Alberto DAuria, pai de André e Alberto, acredita que o aumento da incidência de prematuros tem relação com toda essa agitação. "A adrenalina, hormônio ligado ao estresse pode apressar o parto", conta. Está em tramitação um projeto de lei do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) que reduz a jornada de trabalho de oito para seis horas no último trimestre de gravidez. Faz bastante sentido. A lista de problemas que podem vir com o estresse é alarmante: depressão, pressão alta, aborto espontâneo, parto prematuro e bebê com baixo peso. "Quanto mais tempo o feto ficar dentro do útero, melhores as perspectivas", destaca DAuria. A conta aproximada é essa: dois dias e meio no útero correspondem a uma semana na UTI Neonatal. Por isso, é fundamental manter a calma.
Quando a mãe é ou está hipertensa, uma das consequências do estresse, o bebê recebe menos sangue, e esta nutrição deficiente pode trazer problemas futuros para ele, como depressão, tendência à violência e até esquizofrenia. No caso de a criança nascer prematuramente, existe a possibilidade de que seu sistema nervoso não esteja totalmente desenvolvido: os recém-nascidos podem apresentar mais problemas de sono e alimentação e ser mais irritáveis. E isso vai influenciar, negativamente, a qualidade de vida da dupla mãe/bebê. De novo, estresse gerando mais estresse. Por isso, inspire, expire e relaxe.
Estresse gera estresse
É fácil falar. Por mais feliz que você esteja com a gravidez, a gestação implica uma revolução: mais responsabilidade, mais gastos, enfim, mais estresse. E, como a gente bem sabe, a vida da mãe não se resume ao bebê: ela tem uma casa para administrar, marido, às vezes já tem outros filhos, emprego. "Não é à toa que estudos indicam que o estresse feminino em relação à gravidez é três vezes maior que o do homem", diz a psicóloga Ana Maria Rossi, filha de Cecília e Luiz.
O estresse natural é necessário desde os tempos da caverna. Junto com o medo, era ele quem garantia o aumento da irrigação sanguínea nas pernas para que os homens (e mulheres) primitivos pudessem sair correndo daquele mamute invocado. No mundo moderno, a fórmula continua funcionando na hora de desviar de um motorista barbeiro, por exemplo. O problema é o excesso. "A grávida não tem um botão de liga/desliga; a vida dela continua normal e ela pode encontrar situações de tensão pelo caminho", lembra o obstetra José Bento de Souza, pai de Fernanda e Débora.
E aí é que pode ter início o círculo vicioso: você sente que vai ter de se virar em dez para dar conta de tudo. Quando tenta e não consegue (pudera, é humanamente impossível), pode se sentir frustrada. A partir desse momento, sente que perde o controle da situação e tudo começa a rolar ladeira abaixo: quanto menos controle, maior o desespero. Quanto maior o desespero, menos controle e por aí vai.
Não custa lembrar: você está grávida. Tem o direito e o dever de relaxar. De ser poupada. De não aceitar fazer aquela reunião na hora do almoço ou depois do horário do expediente. Claro que é preciso ter bom senso na hora de negociar com o chefe pra não parecer folgada. Mas lembre-se: você não é folgada. Você é uma ótima profissional e quer ser boa em tudo. E isso inclui seu novo papel: o de mãe. Para relaxar, busque todo o apoio que conseguir: do marido, das amigas, da sua mãe ou sogra, frequente grupos de gestantes. Conversando com outras grávidas, vai perceber que situações que você acha que só acontecem com você são comuns. E, se perceber que não dá conta sozinha, busque ajuda psicológica.
Depois do parto
Mães estressadas podem ter dificuldade para amamentar e se vincular ao bebê. O estresse pode afetar a síntese de hormônios como a prolactina, responsável pela produção do leite, e a ocitocina, que promove a "descida" do leite. Além disso, pode desencadear quadros mais graves como a depressão pós-parto e a síndrome do pânico. A depressão pós-parto atinge até 12% das mulheres que acabaram de dar à luz, enquanto a síndrome do pânico é verificada em 6% delas.
Nos quadros de depressão pós-parto, a mulher não sente conexão com o bebê. Não consegue se adaptar à realidade de mãe. Já a síndrome do pânico caracteriza-se por várias crises de ansiedade. Os sintomas são muito parecidos com os de uma fobia, com aumento da frequência cardíaca e respiratória, com a intenção de promover a melhor oxigenação muscular, aumento da frequência respiratória (hiperventilação), responsável pelo surgimento dos outros sintomas como sensação de morte iminente, músculos tensionados e menor fluxo de sangue nas extremidades. A pessoa fica ansiosa porque não consegue sair daquele estado de crise.
O estresse da mãe é transmitido pelo jeito com que ela lida com filho. Estabeleça contato visual, reserve a amamentação como um momento a dois. O segredo, de novo, é contar com todo apoio que conseguir, seja com o marido ou até uma consultora de amamentação, que vai ajudá-la com a "pega" do bebê, melhores posições para dar de mamar e vai diminuir, por tabela, um dos fatores de estresse no pós-parto, o choro de fome.
Bom acompanhamento pré-natal é essencial. Além do físico, o médico tem de ter sensibilidade para notar como está o estado emocional da grávida. Ele precisa estar atento às situações de instabilidade. "O pedido de socorro no caso de depressivos, muitas vezes, não aparece verbalmente", lembra José Bento. Quando a pessoa não está bem, não tem prazer no que faz, não dorme bem... E o nervosismo pode vir por conta da pausa no trabalho que vem com a licença-maternidade. Depois de toda correria para deixar tudo pronto pra chegada do bebê, o problema pode vir quando você para. O importante é parar antes. Bem antes. Comece já.
Consultoria:
Alberto DAuria, pai de André e Alberto, obstetra e diretor de relacionamento do Grupo Santa Joana, tel.: (11) 3251-4647 (11) 3251-4647 // Ana Maria Rossi, filha de Cecília e Luiz, psicóloga e presidente ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), tel.:(51) 3346-2568 (51) 3346-2568 // José Bento de Souza, pai de Fernanda e Débora, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, tel.: (11) 3027-1500 (11) 3027-1500 // Moises Chencinski, pai de Renato e Danilo, pediatra e homeopata, www.drmoises.com.br
Essa matéria foi publicada na Revista Pais e Filhos nº 491 (16/02/2011).
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545