27/09/2011
Momento-chave na especialidade médica criada por Hahnemann há 200 anos, a consulta médica homeopática é responsável por grande parte do eventual sucesso do tratamento. É hora de o médico "virar do avesso" o paciente para indicar o remédio com maior possibilidade de cura do doente – não da doença. Essa é toda a diferença e um dos grandes trunfos da Homeopatia. É quando o paciente deve serpaciente, mais do que nunca
Por Celso Arnaldo Araujo
Alguns precisam de pelo menos uma hora. Outros, mais experientes, ou com clientela mais numerosa, limitam a consulta inicial a meia hora. A consulta homeopática é nada menos que a hora da verdade.
"Além da formação em Medicina, o Homeopata se especializou em uma doutrina médica diferente que requer um conhecimento a mais para tratar de seu paciente. Assim sendo, partimos para a avaliação do paciente como um todo", resume o pediatra e homeopata Moises Chencinski, um dos mais requisitados especialistas de São Paulo e autor – entre outros – do livro Homeopatia – Mais simples do que parece.
"Vamos querer saber muita coisa da sua vida. Vamos perguntar sobre coisas que você nunca poderia imaginar que um médico precisasse ou quisesse saber. Por conta deste fato, quanto mais exatas e corretas e detalhadas forem suas respostas, mais você estará contribuindo paraa avaliação homeopática mais adequada, projetando uma maior chance de acerto do seu remédio."
Os quatro pilares da Homeopatia – Semelhança, Experimentação no homem são e sensível, Remédio Único e Doses Mínimas – são sustentados por esse momento nobre: a consulta. O que o médico precisa saber ao longo dessa conversa? Tudo o que vai permitir, ao final do processo, "individualizar" cada paciente. Aquele paciente será único – como único será o remédio que receberá, inicialmente.
O conjunto de sintomas, profusamente descritos por Hahnemann em sua Matéria Médica, e depois atualizados ao longo do tempo por outros grandes homeopatas em sucessivos repertórios, idealmente apontará para um simillimum – um remédio que melhor cubra o mix de sintomas. Sintomas e medicamentos são cruzados – e os homeopatas dispõem também do chamado Repertório, uma compilação de todos os sintomas produzidos e observados e os respectivos medicamentos responsáveis pelo seu surgimento e ou cura.
Alguns exemplos de sintomas investigados? Tudo o que puder individualizar o paciente – sintomas peculiares, específicos, não genéricos:
- Em relação ao seu sono: como você dorme,tem alguma posição de preferência, horário que você dorme melhor, quantas horas de sono são suficientes para você.
- Em relação ao seu apetite: o que você come, o que detesta comer, o que faz mal, o que não consegue comer de jeito nenhum, horário de fome, se come muito, pouco, se sacia com facilidade.
A lista de perguntas parece interminável – inclusive adentrando no campo profissional e psíquico. Os médicos, de propósito, fazem indagações que não permitam respostas na base do sim ou não, mas exijam alguma elaboração.
Uma pergunta, particularmente, pode desconcertar quem ainda não passou pela experiência homeopática:
"Quem é você?".
Pacientes de primeira viagem na Homeopatia se sentem entre fascinados e acolhidos – médicos "tradicionais" limitam-se, geralmente, a fazer perguntas sobre a doença que trouxe o paciente ali, não sobre o paciente em si. Pacientes mais fluentese articulados evidentemente terão mais facilidade de expressar tudo o que sentem, mas homeopatas têm instrumentos para lidar com pessoas que falam demais, falam pouco ou não falam – como crianças pequenas. Que, nesse caso, costumam falar pelasobservações da mãe:
Humor
Quieto ou loquaz, tranquilo ou agitado, calmo ou irritado, chorão, medos, sensibilidade aos ruídos e à luminosidade, distraído ou alerta, etc.
Temperamento
Carência, ciúme, agressividade, provocação, egoísmo, etc.
Situações de melhora ou piora
Colo, movimento, repouso, comendo, agradando e acariciando, repreensão, contrariedade, posição.
Os homeopatas gostam de destacar que a consulta não é a única forma de se conhecer o indivíduo. Exames clínicos, laboratoriais e por imagem serão requisitados, se necessário. Um paciente que se queixa de dificuldade miccional, por exemplo,será provavelmente encaminhado para uma dosagem de PSA e um ultrassom de próstata.
Mas, independentemente do que os exames revelarem, o homeopata vai querer saber muitos detalhes sobre o modo como esse paciente urina. Até se usa banheiros públicos? Nesse caso, a micção é ainda mais difícil? Que tipo de problemas lhe causa a sua dificuldade de urinar?
Segundo Moises, por mais abrangente que seja o menu de perguntas, o médico nunca deve perder de vista a queixa do paciente que o levou a procurá-lo. Depois dessevoo panorâmico pelo organismo "psiconeuroendocrinoimunológico" do paciente, a consulta deve pousar novamente nessa queixa fundamental, mas agora interpretada em todas as suas nuanças possíveis, através das reações orgânicas a ela. E uma consulta inicial jamais esgota esse inventário.
"A consulta mais importante é sempre a próxima", costuma dizer o Dr. Moises. Para as consultas seguintes, o paciente é orientado a observar tudo o que aconteceu com ele após iniciar o uso do remédio.
1) Tudo o que você tem que some.
2) Tudo o que você tem que se modifica.
3) Tudo o que você não tem que aparece.
4) Tudo o que você teve um dia que volta.
5) Alterações de humor, apetite, transpiração, sono, hábitos intestinais.
"Isso é fundamental para que o médico possa, na consulta seguinte, avaliar se o remédio que ele escolheu foi o mais adequado (simillimum) ou apenas adequado (similar) e, a partir destas informações, continuar o seu tratamento. Mas, como o médico gosta de frisar, na Homeopatia o paciente é coresponsável pelo tratamento – de seus relatos e de sua adesão ao tratamento, que, no caso de doenças agudas, às vezes exige tomadas de medicamento de hora em hora, depende o sucesso.
Em certas doenças crônicas que desafiavam os limites da medicina alopática, os sintomas primários podem ser rapidamente controlados, mas o tratamento é prolongado, se o que se busca é o equilíbrio orgânico. E necessariamente, como em qualquer forma de medicina, exige às vezes mudanças de estilo de vida no sentido de uma rotina mais saudável.
Nesse ponto, o paciente também é parceiro do homeopata.
Essa matéria foi publicada na Revista Doses Mínimas, Ano I - nº 1 - páginas 12 a 14 (novembro/2010)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545