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Educação dos filhos deve valer para fora de casa também

12/09/2011

Essa é mais uma daquelas matérias das quais eu participei e que foram publicadas (e já estão no site). Mas as perguntas que respondi foram tão interessantes e me permitiram abordar o tema de uma forma ampla e bem explicativa que eu acho que vale a pena transcrever a seguir.
E é o que eu vou fazer... rsrsrsr.


Cedo ou tarde, toda mãe se depara com uma situação, no mínimo, constrangedora: um parente ou, pior, colega decide dar palpites na alimentação, na rotina ou na educação do seu filho.
- "Você precisa organizar os horários dele";
- "O bebê está muito magro. Você está cuidando direito da alimentação?";
- "Com essa roupa fininha, ele vai morrer de frio".

Como a mãe deve lidar com a interferência?
Todos nós temos atitudes motivadas principalmente pela razão e outras predominantemente pela emoção.
Frente a determinados tipos de situação, cada um de nós reage de forma muito particular. Quando alguém cai na rua, perto de nós, alguns seguem sua vida como se nada tivesse acontecido, outros se compadecem, mas ficam apenas olhando e outros se prontificam a ajudar.

E mesmo para cada tipo de reação dessas, podemos identificar diferentes motivações que norteiam nossas atitudes: medo, pânico, altruísmo, insegurança, indiferença, prazer, entre outras.

Assim, antes de agir, seria interessante entender o que está movendo essa pessoa para esse tipo de atitude e comentário em relação ao seu filho.

- "Por quê você acha isso ou está dizendo isso"?
Muitas vezes, essa simples pergunta, feita sem preconceitos, não levando tanto em consideração, pelo menos inicialmente, quem fez o comentário, pode trazer até surpresas agradáveis, dicas interessantes ou, até mesmo, situações desagradáveis, porém controláveis.

Se estivermos com nosso espírito desarmado, podemos sempre tirar algo de bom, de positivo de qualquer situação, por mais incômoda que ela possa ser ou paracer.

Normalmente, não estamos habituados a receber bem críticas, independente de quem seja, de onde elas venham e mesmo da forma que ela tenha sido feita.

Por trás de um comentário que pode parecer maldoso, agressivo, é possível encontrar um alerta para uma situação que não foi levado em conta.
Até que ponto esses conselhos podem acrescentar e, a partir de que ponto, se tornam invasivos? Como responder ao "intrometido", sem ser indelicada?
Ouvir, acolher as informações, analisá-las e definir qual será a utilização dos resultados é uma opção muitas vezes difícil, porém menos desgastante.

"Dialogar" é um exercício que precisa ser treinado diariamente para que tenha bons resultados. Nós não estamos habituados ao diálogo. Conversamos, discutimos, argumentamos, mas, em grande parte das vezes, chegamos e saímos com a nossa mesma opinião, nossa mesma certeza e, corremos o risco de experimentar outras possibilidades.

Assim, para que haja um diálogo produtivo, mesmo que o resultado final seja chegarmos e saírmos com a nossa mesma opinião, são necessários alguns passos que podemos dividir em 2 partes (isso é só para ser mais didático):

EU TE ESCUTO – entender sem julgar, buscar empatia
- Temos que mostrar ao outro que estamos dispostos a ouví-lo, sem demonstrar menosprezo, desconforto, agressividade e atitudes ou até mesmo nas palavras, em resumo "desarmados";
- Precisamos mostrar ao outro que entendemos de verdade, sem preconceitos, o que ele nos disse ou quis nos dizer, ou seja "se interessar pelo outro, sem julgar";
- Podemos fazer um elo com nosso interlocutor, sem julgamentos ainda e demonstrarmos "empatia", entendendo a legitimidade dos sentimentos e do pensamento do outro;

AGORA VOCÊ ME ESCUTA – expondo um ponto de vista, sem ser dono da verdade, sem agrssividade.
- Podemos compartilhar nosso problema, mostrando que podemos pensar de froma divergente, mostrando nosso ponto de vista, com nossas limitações, nossa dificuldade para fazer as coisas deuma outra forma ou até nossa opinião sobre o assunto;
- Para concluir de forma tranqüila, podemos convidar o interessado para criar uma solução conjunta, se possivel, aceitando ou não uma outra idéia, uma outra forma de agir.

Uma vez concluído o diálogo, uma vez que tenha se chegado a uma definição, que, no final da situação será a da mãe, esse pode ter sido um exercício que, com a repetição tem tudo para trazer ótimos frutos.

Esse pode ter sido até um papo entre o papai e a mamãe a respeito de qualquer assunto referente à vida de seus filhos.

Mas, porém, contudo, todavia os pais devem se lembrar que a decisão final é a deles e que eles são os responsáveis pela criação e educação de seus filhos, que deve começar desde cedo, de acordo com a capacidade de compreensão de cada idade dele.

Assim, aqui está o limite.

Quando a decisão passa a ser questionada, quando há mais insistência do que a necessária, quando o desconforto se instala no diálogo é preferível uma saída do tipo:
- "Obrigado, vou levar em conta essa nossa conversa. Agradeço seu interesse".

Só isso, na maior parte da vezes, é suficiente para que todos saiam íntegros, sem risco de desrespeito, de mal entendidos.

Se mesmo assim houver a insistência, a persistência no tema ou na atitude, os limites devem ser estabelecidos de forma clara, firme, mas ainda educada e com respeito.

Pode-se pedir licença alegando um compromisso, cansaço ou até esclarecendo mais uma vez que vocês já entenderam o ponto de vista (após toda a "técnica do diálogo").
E quando a criança vai à casa de alguém e mexe nos enfeites, suja a parede e o dono da casa chama sua atenção? O que fazer? Como evitar que a situação chegue a esse extremo?
Há um ditado que diz: "Não adianta chorar pelo leite derramado". Encontram-se várias explicações para essa expressão:
- Lastimar por ter perdido algo que não consegue mais recuperar.
- Arrepender-se por não haver tomado alguma decisão importante.
- Lamentar-se por haver perdido alguma oportunidade.

Em todas essas (e outras), a conclusão é que é mais fácil prevenir uma situação do que tentar solucioná-la.
A educação é um processo que deve ser iniciado desde muito cedo, "desde o berço", de acordo com as ferramentas que cada idade disponibiliza para a criança e sua compreensão.

Respeito pelo outro é um dos principais pré-requisitos para viver em grupo, em sociedade. Cada grupo tem suas regras. Ninguém é obrigado a concordar com as regras. Nesse caso, posso lembrar de algumas poucas possibilidades:
- Seguir as regras;
- Tentar mudar as regras;
- Mudar de grupo buscando algum cujas regras sejam mais compatíveis que as atuais;
- Criar um novo grupo com essas novas regras.

O que não é possível é viver em um grupo e desrespeitar as suas regras.
Isso mesmo, no final das contas estamos falando de um assunto cada vez mais presente em nossos dias, já há algum tempo: OS LIMITES.

Limites são importantes na vida de todos nós e cedo ou tarde nos encontraremos diante deles. Poderíamos passar horas, dias, anos dialogando sobre o assunto (agora já sabemos dialogar, não é mesmo?). Há cursos para pais, para profissionais sobre o assunto.

Quando uma criança se comporta dessa forma na casa de outra pessoa, extrapolando qualquer limite do aceitável, isso pode ser ou o reflexo da sua educação, ou da sua situação familiaratual, e depende da sua idade e da real compreensão de suas atitudes.

Uma criança que tem esse tipo de atitudes em sua casa já não está "jogando de acordo com as regras do jogo", a não ser que essas sejam as regras, ou seja, a falta de regras.

Mas, uma criança que assume esse comportamento fora de sua casa e não é repreendida ou contida pelos seus pais, transpondo os limites e transgredindo dessa forma fica sujeita às "sanções" do grupo.

Pais que presenciam esse tipo de atitude de seus filhos devem tomar alguma atitude relacionada aos limites, se desculpando com os donos da casa, orientando a criança a fazer o mesmo e providenciando o conserto do erro, eventualmente até se oferecendo a ressarcir os prejuízos causados.

Se não houver uma chance de conter essa criança, o melhor é se desculpar e sair desse ambiente, indo para casa para que lá as atitudes adequadas possam ser tomadas.
Dependendo da idade, qual deve ser o procedimento com as crianças?
Independente da idade da criança, é fundamental que ela entenda que suas atitudes não foram adequadas.

Mas, para isso, é necessário que a orientação educacional já tenha sido trabalhada desde cedo.

Uma criança que não tem a informação, que não tem consciência da gravidade da sua atitude, não terá condições de compreensão e poderá ter necessidade de repreensão.

Broncas, castigos precisam ser pensados e não usados de forma impulsiva e despreparada. Desabafos (não agüento mais isso, é sempre a mesma coisa...), crises histéricas (você vai ver quando chegarmos em casa, po que você faz isso... smepre aos gritos), agressões não são educativos. Essas atitudes demonstram e confirmam o descontrole da situação.

Se os pais percebem essas dificuldades, seria interessante a procura por especialistas (pediatras, psicólogos) para orientação e ajuda.

Muitas vezes, os pais estão tão envolvidos com os afazeres de seu dia-a-dia que não se dão conta de que o convívio com seus filhos se resume às horas das refeições, banhos, levar e buscar da escola e à hora de dormir. E esses não são momentos de paz e tranqüilidade em que tenhamos tempo para trocar, dialogar, amar nossos filhos. Normalmente essas são situações entre... almoçar entre a lição de manhã e levar à escola, banho antes de jantar, antes de dormir...

A educação é um processo constante que deve ter começo desde cedo com rotinas e rituais (hora para comer, hora para dormir, etc) e seguir, de acordo com a idade e a capacidade de compreensão da criança para que ela possa curtir a infãncia, se transformando em um adolescente sadio, sem as características desagradáveis que se associam a essa idade e chegando a um adulto íntegro, feliz e capaz de criar filhos assim também.
E com o parente ou amigo?
Se a situação chegou ao ponto de esse parente ou amigo ter que tomar a atitude de impor esses limites, sem agressão física de qualquer tipo, talvez esteja na hora de esses pais reverem seus conceitos.

O ideal seria até agradecer pelo "alerta", pelo "sinal de alarme". Não estamos nos referindo a crianças ativas, mas, por essa descrição, estamos falando de crianças realmente sem limites e pais que ou não estão tentando ou não estçao conseguindo educar seus filhos de forma adequada, para o convívio social aceitável.

Colocar em outros a responsabilidade em educar é um erro comum. A escola, por exemplo, não tem a função de educar e sim de ensinar e, na melhor das hipóteses, co-educar. Os limites devem ser estabelecidos pelos pais.

Se os pais não estabelecerem esses limites, com carinho, amor e respeito a sociedade o fará da forma que puder, através das leis e regras, e forma impessoal. A lei vale para todos (ou, pelo menos, deveria).


Essas perguntas foram a base para a matéria As pessoas se intrometem na criação do seu filho?, que está em meu site também.

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545