27/09/2011
Frio, queda das defesas, predisposição alérgica, mais tempo em lugares fechados, intercâmbio de vírus e bactérias. Para os pronto-socorros, nesta época do ano, com o círculo vicioso desencadeado pela queda da temperatura, inverno é quase sinônimo de inferno. Uma legião de pacientes com crises e infecções respiratórias, sobretudo crianças e idosos, lota os setores de emergência. Como a Homeopatia lida com essa ameaça de todos os anos?
Por Celso Arnaldo Araujo
Frio, clima seco, poluição. A conseqüência do “kit inverno” são alergias respiratórias e infecções de vias aéreas superiores, como sinusite, rinite, bronquite, amigdalite, otites. A lista de "ites" registradas nesta época do ano, nas regiões do país em que essa estação é bem pronunciada, como Sul e São Paulo, é bastante extensa. Setores de emergência ficam superlotados e clínicas pediátricas esgotam suas consultas.
O pediatra homeopata Moises Chencinski conhece bem essa rotina ainda mais nestes tempos em que as oscilações malucas de clima desafiam a lógica orgânica. “Em setembro do ano passado, em plena primavera, vivemos o clima mais seco da história recente do Brasil, com umidade de deserto”, lembra ele.
Entre junho e agosto, os vilões são o frio, o confinamento, a concentração de poluentes. O frio, ao contrário do calor excessivo, que produz efeitos orgânicos bem demonstrados e padronizados, ainda agasalha alguns mitos desde o tempo em que nossas avós nos alertavam contra os males do vento encanado.
A real ação do frio sobre o sistema respiratório ainda é cercado de conceitos enviesados. Afinal, o frio, em si, causa gripes, resfriados e outras infecções? Não diretamente, esclarece o Dr. Moises. Na verdade, o frio reduz as defesas mecânicas do organismo contra a entrada dos vírus respiratórios causadores dessas moléstias, paralisando os cílios do nariz que normalmente funcionam como barreira, sobretudo nas crianças.
O médico aproveita para recomendar uma técnica não-medicamentosa, e sem custo, para minorar a queda do sistema de defesa pela inativação dos cílios nasais: umidificar o quarto da criança com uma solução caseira do tempo da vovó – estender uma toalha úmida entre duas cadeiras. Uma bacia de água no meio do quarto faria o mesmo efeito – mas esse procedimento, em tempos de dengue, é organicamente incorreto.
Ok, prosaicas medidas podem ajudar na prevenção. Mas e a Homeopatia, onde entra no capítulo doenças do frio?
No fundo, uma crise
Poucos grupos de doença têm tanto a ver com os modos de ação da Homeopatia como as doenças respiratórias de fundo alérgico que são um “must” em todo inverno – seja na forma de rinites, amidgalites, bronquite ou sinusite. Muitas mães já sabem: esfriou, a criança começa a "engripar".
As menorzinhas são as maiores vítimas. O sistema imunológico só está integralmente formado após os três anos de idade e essa imaturidade se alia a eventuais predisposições pessoais.
“Uma das maiores buscas da Homeopatia tem sido por quadros alérgicos”, diz o Dr. Moises. E boa parte dos clientes de pediatras homeopatas, nesta época do ano, são crianças com manifestações alérgicas – pelo menos na primeira consulta, quando o pequeno paciente, embora já tratado sem sucesso com vacinas e outros medicamentos alopatas, ainda está “virgem” de tratamento homeopático.
O terapeuta homeopata pesa muito a chamada diátese – a tendência, a predisposição. Há muitas pessoas com diátese alérgica. Explica Moises: "Não são alérgicas a alguma coisa. Mas simplesmente alérgicas. Se eu estiver com meu eixo psiconeuroendocrinoimunológico, isto é, o meu fundo equilibrado, pode mudar o clima, pode esfriar, pode aumentar a poluição, isso não deve me afetar. A busca maior da Homeopatia é, portanto, equilibrar o eixo do paciente para que ele fique menos exposto às tendências alérgicas. Quando esse eixo não está em harmonia, alguns fatores alteram, patologicamente, a reatividade aos agentes externos como bactérias e friagem."
Para isso, o arsenal homeopático tem um sortimento dos chamados medicamentos de fundo, que escoram e reforçam os alicerces orgânicos do indivíduo. No caso das doenças de inverno, cada paciente tem seu remédio de fundo identificado após a minuciosa investigação homeopática.
Porém, se o paciente chegar em crise, o médico não ficará de braços cruzados aguardando a passagem do furacão para equilibrar os ventos: lançará mão dos remédios de crise. Sim: a Homeopatia também os tem. Os especialistas citam alguns: Antimonium tartaricum, Ipeca, Blatta orientalis, Arsenicum album.
E às vezes ocorre uma interação curiosa e muito bem-vinda: um medicamento de crise pode reequilibrar o paciente definitivamente. Há inclusive muitos pesquisadores que defendem o uso de medicamentos de crise quando não descobrem o de fundo para determinado paciente. E tratam o paciente com o remédio de crise, mesmo se ele não estiver em crise. Para isso, é preciso fazer a radiografia completa da crise: há secreção, tosse intensa, dores pelo corpo, sinusite, falta de ar, em que período do dia, o que alivia esses sintomas? "Fazemos isso com frequência", confirma o Dr. Moises.
Paciente regular, raras crises
Mães de crianças que frequentam regularmente o homeopata costumam relatar que, nas primeiras férias após o tratamento de fundo, situações que antigamente pareciam de risco para o surgimento de doenças respiratórias, como entrar e sair de piscinas ou tomar friagem, não resultaram em sintomas.
"Não foi o remédio que preveniu", ressalva Moises. "Quem controlou a crise foi o próprio paciente, através do equilíbrio obtido". A Homeopatia, que trabalha muito com a sensibilidade às doenças, se dá bem com o frio.
Moises acha que a busca de equilíbrio é especialmente importante no início da vida escolar da criança. Ao nascer, e nos primeiros meses de vida, o bebê depende das defesas herdadas da gestação e do leite materno. O sistema imunológico vai evoluindo aos poucos. Na escolinha, há um outro ecossistema micro-orgânico. Os medicamentos de fundo reduzem a reatividade aos estímulos, alterando a relação vírus-hospedeiro, e minimizam o curso da doença.
Jogo rápido com o Dr. Moises Chencinski
Essa matéria foi publicada na Revista Doses Mínimas, Ano I - nº 3 - páginas 31 a 34 (julho/2011)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545