27/09/2011
O calor – e mudanças climáticas em geral – pode transformar o estado de saúde em estado de doença. O que a Homeopatia pode fazer contra essas intempéries patológicas? O Dr. Moises Chencinski traz mais luz às doenças de verão de acordo com a visão homeopática
Por Celso Arnaldo Araujo
Talvez a mais exuberante "vantagem competitiva" da Homeopatia em relação à medicina alopática é a relação de fidelidade que geralmente se estabelece entre paciente e médico – essa relação pode atravessar gerações, como atesta o Dr. Moises: "Sou pediatra por especialização, mas hoje atendo pais que tratei ainda crianças, agora através da homeopatia. Poucos médicos costumam acompanhar pacientes hoje adultos desde a primeira infância. Para os homeopatas, esse acompanhamento, ano após ano, permite antecipar situações de risco e tratá-las preventivamente – evitando-as ou minimizando suas consequências."
É o caso típico das "doenças de verão". Algumas pessoas têm uma psora, um terroir, uma predisposição constitucional, que favorece doenças associadas ao sol e ao calor. "Qualquer mudança climática pode transformar o estado de saúde em doença em algumas pessoas -- e não ter nenhuma repercussão em outras."
Entre os quadros mais comuns no verão estão as afecções da pele, começando pelas prosaicas, perfeitamente evitáveis mas ainda muito frequentes queimaduras solares da estação. Há algum remédio homeopático capaz de proteger a pele das queimaduras solares? Claro que não. "É preciso lembrar que a Homeopatia sozinha, em algumas situações, não dá conta de um atendimento completo, mas mesmo assim é quase sempre um ótimo auxiliar", diz Moises, que lembra a necessidade absoluta de protetor solar com um FPS mínimo de 15, já em crianças a partir de seis meses. Antes disso, nada de protetor solar. Nada de exposição direta ao sol, portanto.
E como usar o protetor?
"Meia hora antes e repetido a cada duas horas até sair da praia."
Quem?
"Qualquer pessoa que se exponha ao sol, incluindo pessoas de raça negra, que, ao contrário do que se possa pensar, não estão protegidas dos efeitos mais deletérios do sol – dos quais se destaca, por sua malignidade, o melanoma, cujo diagnóstico, nesse tipo de pele, pode ser mais difícil de fazer".
De modo geral, porém, a Homeopatia tem um arsenal de medicamentos que, sobretudo em pessoas com maior predisposição a lesões causadas pelo sol, podem tratar esse fator constitucional, preventivamente. Nesse caso, usam-se os remédios "de fundo". "O homeopata consegue mexer com o tipo de reatividade que o paciente geralmente apresenta em contato com o sol, através do tratamento do seu terreno. O mais importante é chegar à estação preparado. Se você já vem sendo acompanhado pelo homeopata, ele pode reduzir a intensidade das agressões".
Já no tratamento de lesões já estabelecidas, os medicamentos são outros, mais específicos. Exemplos?
*Queimadura pela interação, na pele, de limão ou outra fruta cítrica, e até perfumes cítricos, com radiação solar , a chamada fitofotodermatose.
*Micoses, dermatites por umidade. Esses quadros podem ser tratados por medicamentos como Apis mellifica, Arsenicum album, Cantharis vesicatoria e outras substâncias que têm um tropismo maior pela pele e pela ação do sol na sua patogenesia .
Conselho útil: a pele tem uma camada protetora natural de gordura, o que contraindica mais de dois banhos ao dia, sobretudo em crianças, mesmo no verão.
Problemas digestivos: verão é alta temporada de diarreia, vômito e desidratação, normalmente provocados por alimentos sem conservação adequada. Há também um grupamento de medicamentos muito interessantes para essa condição – Arsenicum album, Antimonium crudum, Nux vomica, Ipeca, Podophyllum peltatum e China officinalis.
Um parêntesis: a China é o remédio de onde surgiu a Homeopatia. O amaríssimo quinino, quando ingerido em grande quantidade provocava vômitos. Os sintomas da intoxicação pelo quinino e os da malária eram semelhantes, logo.....
Nos Estados Unidos, aliás, quase todas as famílias têm em casa um vidrinho de xarope de Ipeca vomitivo não-homeopático, para dar a uma criança que engoliu algo que não devia. Se a Ipeca provoca o vômito, pode também curar o vômito, pelos dogmas homeopáticos.
Picadas de insetoInsetos picam em áreas expostas. Picadas em humanos são portanto muito mais comuns no verão. E esse ataque pode produzir três tipos de reação: uma pequena lesão local, alergia regional à picada e alergia sistêmica ou generalizada à picada, com quadros importantes de urticária, para os quais a Homeopatia tem medicamentos eficientes, tanto na prevenção como na terapêutica. Pacientes contumazes de médicos homeopatas, que têm maior sensibilidade a picadas de inseto, geralmente dão uma passada no consultório, antes das férias na praia ou no campo, para renovar sua prescrição preventiva e curativa.
"É sempre possível tratar homeopaticamente esse paciente mais sensível para que, na próxima picada, ele esteja parcialmente dessensibilizado. A Homeopatia pode mudar sua reatividade ao estímulo da picada, em termos de intensidade, duração e alastramento. Pacientes altamente sensíveis ao ferrão de insetos deixam de ir ao pronto-socorro depois de uma picada, limitando-se ao uso de uma pomadinha local – que pode ser um Apis mellifica ou um Ledum, ou pela tomada de medicamentos como, entre outros, o próprio Apis mellifica, Urtica urens, Formica rufa, Histaminum."
FRIO OU CALOR? O QUE MEXE MAIS CONOSCO
Metabolismos variam de pessoa a pessoa – aliás, essa é uma das bases da Homeopatia, a medicina personalizada. Há pessoas que se sentem mal no calor, outras não suportam o frio. Há metabolismos que funcionam melhor no frio ou calor ou mais de noite do que de dia. "Esses dados o homeopata valoriza. Isso pode ser o diferencial entre um medicamento e outro. É uma questão de coeficiente de energia. A criança precisa de muita energia para crescer e combater infecções. O adulto jovem só usa energia canalizada para manter calor. Por isso, uma criança pode morrer de frio com 15 graus de temperatura, bem como um idoso. O coeficiente de energia muda com a idade".
O frio, ao produzir quadros respiratórios potencialmente graves, é um elemento mais patogênico – e, diga-se de passagem, alergias do aparelho respiratório são possivelmente a maior causa para a busca de uma consulta homepática.
MITOS DO FRIO
Nossas avós costumavam nos alertar para o terrível "vento encanado", que podia matar num golpe de ar. Nesse mito está certamente envolvido um componente afetivo – o amor que protege exageradamente. Mas o Dr. Moises observa que há pelo menos uma situação em que um "golpe de ar" pode fazer estragos.
"Há uma doença, a paralisia a frigori, que afeta nervos faciais e podem entortar a boca, que ocorre de repente, sobretudo em crianças que acabaram de jogar futebol ou fazer algum exercício sob o sol, entram no carro e abrem a janela, põem o rosto para fora e tomam vento frio no rosto. O mesmo pode acontecer com uma lufada de ar-condicionado. O choque térmico é inevitável – e pode atingir o nervo facial com mais intensidade, exigindo, no tratamento, até algumas sessões de fisioterapia."
E, segundo Moises, há um grupo de medicamentos homeopáticos que podem tratar com eficiência esse tipo de quadro: Aconitum napellus, Causticum, Gelsemium sempervirens, remédios indicados tanto em quadros de exposição aguda ao frio, como no caso dessas paralisias "térmicas" em ambiente pequeno e fechado. Em ambiente com ar-condicionado, convém umidificar o local. O ressecamento costuma produzir quadros respiratórios em quem tem essa predisposição.
Farmacinha básica de férias
Cada médico homeopata tem seu medicamento de preferência, cada paciente tem medicamentos mais adequados à sua constituição pessoal. Uma consulta, tetê à tetê, é sempre indispensável para o êxito do tratamento homeopático. Mas os homeopatas admitem que o paciente possa levar para as férias um kit básico, porque a maioria das pessoas vai para localidades que não têm uma farmácia homeopática – com a ressalva de que, antes de tomar, ligue para seu médico homeopata, que não está de férias ou as interromperá por sua causa...
O que pode ser levado: um protetor solar com FPS de 15 pra cima. Pomadas Apis e Ledum. Medicação: Arsenicum album, Cantharis vesicatoria, Antimonium crudum, Ipeca, Podophyllum, para as situações específicas do verão citadas nesta reportagem.
Atenção: uma urticária gigante, sem resposta ao medicamento em meia hora, é caso de pronto atendimento. Vá procurar um serviço médico. Uma urticária pode evoluir para um edema de glote, com risco de morte. Mas são casos excepcionais. Como regra geral, relaxe e aproveite as férias, homeopaticamente protegido.
Essa matéria foi publicada na Revista Doses Mínimas, Ano I - nº 2- páginas 36 a 38 (fevereiro/2011)
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545