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A volta da coqueluche em adultos
12/10/2011
Os dados preocupam. Para uma doença que se considerava erradicada, são 50 milhões de casos por ano, com 300 mil mortes, espalhadas pelo mundo segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), o número de casos da infecção pela bactéria Bordetella pertussis (coqueluche) cresceu quase cinco vezes entre 2003 e 2008, na América Latina.
No Brasil, o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) registrou 427 casos em 2.010, 80% deles em bebês menores de um ano.
No estado de São Paulo houve um aumento de 83%, entre 2006 e 2010.
Em 2010, na Califórnia, houve um surto com quase 9.800 casos, sendo que mais de 70% eram bebês com menos de seis meses.
Na Austrália a coqueluche atacou 35 mil pessoas, de julho de 2010 ao mesmo período deste ano, e 40% foram internadas.
No dia 10 de outubro de 2.011, fui convidado para uma matéria no programa Manhã Maior da Rede TV, onde pude esclarecer algumas dúvidas a respeito dessa questão, em entrevista concedida à apresentadora, a jornalista Regina Volpato.
A seguir, algumas perguntas que me fizeram para uma pré-pauta e que baseou a entrevista.
O que é a coqueluche?A coqueluche, que é também conhecida como tosse comprida, é uma doença infecto-contagiosa aguda causada por uma bactéria chamada Bordetella pertussis, de distribuição universal, que predomina nos meses quentes do ano. Ela é endêmica, ou seja, existe mesmo fora dos picos de epidemia, e tem surtos a cada 3 a 7 anos. Segundo alguns autores, não existe transmissão de anticorpos da mãe para o recém-nascido. Assim, até recém-nascidos podem ter a coqueluche, em forma grave, pela falta dessa imunidade.
- Quais os principais sintomas? Quais os estágios da doença?
- Ela é uma doença que após o contágio tem de 7 a 10 dias de incubação.
Daí, aparecem 3 fases:
- Catarral – 7 a 14 dias (1 a 2 semanas)
- Paroxística – 4 semanas
- Convalescença – 3 a 4 semanas
Assim, o total do tempo afetado se somarmos incubação e a doença é de aproximadamente 11 a 12 semanas (até 3 meses).
Fase catarral: febre baixa, mal estar, irritabilidade, espirros, coriza, falta de apetite, lacrimejamento, tosse seca e discreta que aumenta de intensidade e de freqüência mais à noite.
Fase paroxística: tosse piora muito, em surtos, pior à noite. Essa fase chama paroxística pela maior intensidade do acesso de tosse, conhecida como tosse quintosa. São algumas (20 a 30) "tossidas" na seqüência, seguidas de uma parada de respiração e um "guincho" e sensação de asfixia, normalmente com vômitos no final da crise.
Rosto vermelho, lacrimejamento, distensão das veias do pescoço, sangramento nasal e nas conjuntivas. A crise é dramática, podendo ter até cianose e apnéia.
Fase de convalescença: Os paroxismos vão ficando mais raros e mais leves e, se após alguns meses, o paciente tiver um outro quadro respiratório (resfriado, gripe) esse quadro de sintomas pode voltar, mas sem significar a volta da doença. - Como é feito o contágio?
- Através da via respiratória. A Bordetella é passada e sua ação se faz pela liberação de uma toxina. Outra forma de contágio possível é pela placenta na hora do parto, se a gestante estiver doente.
- Qual o motivo desse aumento considerável? Os pais são os principais transmissores?
- A imunidade que a vacina dá é transitória e cai após cerca de 5 anos a 10 anos da vacinação. Veja o exemplo da vacina de tétano que após a vacinação inicial (junto com a coqueluche) até os 5 anos de idade tem que ser repetida a cada 10 anos.
Só está imune definitivamente quem já teve a doença.
Assim, adolescentes e adultos jovens por terem sintomas menos graves que as crianças e por não terem imunidade ativa contra a coqueluche são fontes importantes de contágio das crianças (recém-nascidos ou crianças não vacinadas). Como os pais são os adultos mais próximos a seus filhos, certamente apresentam maior risco de contágio. Mas isso vale para qualquer adulto que, por exemplo, cuide de uma criança (babá, professoras em berçários, etc). - Uma gripe mal curada pode se tornar coqueluche?
- Vamos diferenciar alguns conceitos?
1º) Gripe não é resfriado - Gripe e resfriado são doenças virais, que afetam as vias aéreas superiores (nariz, laringe, faringe), ocasionalmente acometendo as vias aéreas inferiores (brônquios e pulmões). Porém gripe e resfriado são doenças distintas. No resfriado a febre é rara, e a doença dura cerca de cinco a sete dias. Já na gripe, em geral, um dos sintomas é febre alta, durando três a quatro dias e a doença dura cerca de uma a duas semanas. Para evitar o contágio de gripe é sempre aconselhável lavar as mãos freqüentemente.
2º) Gripe e resfriado são provocados por vírus - O resfriado é causado por mais de 200 vírus diferentes, já a gripe é causada pelos vírus influenza e parainfluenza.
3º) Vírus não vira bactéria e bactéria não vira vírus - Assim, não adianta dar antibióticos para tratar doenças provocadas por vírus. - Quais os riscos da coqueluche? Qual a relação da coqueluche com a pneumonia?
- A coqueluche já é, por si só, uma doença grave. Mas se ela não for diagnosticada e tratada a tempo, e, dependendo da imunidade do paciente, pode haver sérias complicações com risco de morte.
Quanto mais nova a criança, mais grave a doença e maior o risco.
As principais complicações são as respiratórias. A coqueluche pode evoluir com uma otite, pneumonia, queda de imunidade após a doença.
Dessas, a pneumonia não costuma ser causada pela Bordetella e sim secundária, ou seja, facilitada por ela, pela inflamação que ela causa nos pulmões.
Convulsões também podem acontecer.
O esforço da tosse pode causra hemorragia nos olhos e até no cérebro (mais raro). - Como é feito o tratamento?
- Depois de confirmado o diagnóstico, se não for nada muito grave o tratamento pode ser feito em casa. Em casos mais importantes, interna-se o paciente para cuidados respiratórios no hospital. Medicação como antibióticos, corticóides, específicos para convulsão (se elas acontecerem) são utilizados.
Além disso, quando internados, oxigenação, hidratação, fisioterapia respiratória ajudam. - Como prevenir? Todos os bebês já são vacinados?
- A principal forma de prevenção é a vacinação. Ela é dada na vacina tríplice (difteria / tétano / coqueluche) aos 2, 4 e 6 meses com 2 reforços (um com 1 ano e 3 meses e entre 4 a 6 anos).
Essa vacina está disponível nos postos de saúde e em clínicas particulares. Mas há uma diferença entre elas, exatamente no componente Pertussis da coqueluche. Nas clínicas ela tem uma característica que dá menos reações.
Os bebês devem ser vacinados. Nas consultas pediátricas, a orientação vacinal tem sempre um espaço reservado. Nas campanhas de vacina, a avaliação da carteirinha acaba sendo voltada para todas elas e não só para a da campanha.A vacina é contra-indicada em caso de febre alta, de reação alérgica recente ou de efeitos colaterais na primeira dose.. - Adultos devem tomar dose extra da vacina?
- O ideal seria que após a vacinação dos 5 anos, a cada no máximo 10 anos essa vacinação fosse repetida. Mas para jovens e adultos, por enquanto, essa vacina está só nas clínicas particulares (perto de R$ 100,00).Pessoal que trabalha na área de saúde deveria sempre se vacinar. Nós somos também foco de transmissão por atendermos crianças e adultos doentes.
As mulheres devem ser vacinadas, se possível antes de engravidarem. Mas mesmo as grávidas podem ser vacinadas, no pré-natal. As vacinas que têm vírus mortos ou bactérias mortas podem ser aplicadas nas gestantes (H1N1, hepatites A e B, por exemplo). Entre as que a gestante não pode receber estão as de sarampo, caxumba, catapora, rubéola, febre amarela, BCG que, por possuírem na sua preparação componentes vivos e que simulam a infecção no organismo, podem atingir o feto. Essa matéria foi apresentada no Programa Manhã Maior da Rede TV, no dia 10 de outubro. Você pode assistir a entrevista clicando nesse link.
Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545