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Coqueluche

22/10/2011

Altamente transmissível, a doença ataca o sistema respiratório e se confunde com gripes ou resfriados comuns nos primeiros 14 dias. Crianças e bebês são as maiores vítimas.
Madson Moraes


Ela é altamente transmissível, ataca o sistema respiratório e, em alguns casos, é confundida como uma simples gripe ou com resfriados. Os principais alvos são crianças e bebês. Você já ouviu falar da coqueluche? Pelas características respiratórias e de desenvolvimento, normalmente o quadro é mais intenso e com mais complicações entre as crianças, especialmente lactentes, abaixo de 1 ano de idade.

O número de casos confirmados de coqueluche no Brasil dobrou no primeiro semestre de 2011 em comparação a todo o ano de 2010. De acordo com o Ministério da Saúde, até agosto desse ano foram registrados 583 casos contra 291 no ano passado. Só na América Latina, o número de infectados pela bactéria cresceu quase cinco vezes entre 2003 e 2008, segundo a Organização Panamericana de Saúde. No mundo, são 50 milhões de casos por ano com 300 mil mortes segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O que é?

A coqueluche é causada pelo contato com a bactéria conhecida como Bordetella pertussis ou a Bordetella para-pertussis. Ela é endêmica, ou seja, existe mesmo fora dos picos de epidemia e tem surtos a cada 3 a 7 anos. É uma doença que, após o contágio, tem de 7 a 10 dias de incubação. Segundo Moises Chencinski, médico pediatra, homeopata e autor do livro "Gerar e Nascer, um canto de amor e aconchego", raramente podem ocorrer a transmissão da coqueluche por objetos contaminados, pois a bactéria não sobrevive muito tempo fora do homem, que é o único hospedeiro natural.

A doença evolui em três fases sucessivas. A fase Catarral, que dura de sete a 14 dias, ou uma a duas semanas, e apresenta os sintomas de febre baixa, mal estar, irritabilidade, espirros, coriza, falta de apetite, lacrimejamento, tosse seca e discreta que aumenta de intensidade e de frequência mais à noite.

Nos sintomas da fase Paroxística, que dura quatro semanas, a tosse piora muito, em surtos, principalmente à noite. "Essa fase chama paroxística pela maior intensidade do acesso de tosse, conhecida como tosse quintosa. São algumas “tossidas” na sequência, seguidas de uma parada de respiração e um guincho e sensação de asfixia, normalmente com vômitos no final da crise", explica o médico. Outros sintomas são o rosto vermelho, lacrimejamento, distensão das veias do pescoço, sangramento nasal e nas conjuntivas. A crise é dramática, podendo ter até cianose e apneia.

Por fim, a fase de Convalescença, que leva de três a quatro semanas. Nesta, explica Moises, os paroxismos vão ficando mais raros e mais leves e, se após alguns meses, o paciente tiver outro quadro respiratório (resfriado, gripe), esse quadro de sintomas pode voltar, mas sem significar a volta da doença. Feita as contas, o total do tempo afetado somado a incubação e a doença é de aproximadamente 11 a 12 semanas (até três meses).

Diagnóstico e prevenção

Uma vez feito o diagnóstico pelo médico, deve-se iniciar a medicação antibiótica imediatamente. "É necessário manter um isolamento respiratório até cinco dias após o início do tratamento com o antibiótico adequado ou, se não houver tratamento antibiótico, por três semanas. Esse isolamento visa proteger outras pessoas de entrarem em contato com o agente infeccioso", explica o médico.

O diagnóstico é principalmente clínico e pelo quadro característico. O exame que detectaria a doença com certeza seria o isolamento da Bordetella através de material colhido diretamente da orofaringe (boca e garganta) do paciente, antes da introdução de qualquer antibiótico. Outros exames, explica Moises, podem até ajudar na confirmação da suspeita como um hemograma, um Raio-X de tórax, mas dependem da fase da doença para sua validação.

Tipos de tratamento

O tratamento da coqueluche é feito basicamente com antibioticoterapia adequada, receitada pelo médico. Normalmente, pela gravidade do quadro em crianças abaixo de 1 ano de idade, o médico pode optar pela internação, ficando mais controláveis as possíveis complicações. "Outras medidas de apoio como hidratação, oxigenação, alimentação adequada são importantes nessa fase", ressalta Moises.

Quais as complicações decorrentes em não tratar a doença? "A coqueluche já é, por si só, uma doença grave. Mas se ela não for diagnosticada e tratada a tempo e, dependendo da imunidade do paciente, pode haver sérias complicações com risco de morte. Quanto mais nova a criança, mais grave a doença e maior o risco", explica o pediatra.

As principais complicações são as respiratórias. A coqueluche pode evoluir com uma otite, pneumonia, queda de imunidade após a doença. Dessas, a pneumonia não costuma ser causada pela Bordetella e sim secundária, ou seja, facilitada por ela e pela inflamação que causa nos pulmões. Convulsões também podem acontecer. O esforço da tosse pode causar hemorragia nos olhos e até no cérebro (caso mais raro).

Vacina para as idades

A melhor forma de prevenção sempre é a vacina. A criança deve receber essa vacina aos 2, 4 e 6 meses de vida com um reforço aos 15 meses e outro aos 5 anos. A vacina contra a coqueluche faz parte da vacina tríplice (difteria, tétano e coqueluche). "Acontece que a vacina perde sua validade 10 anos após sua aplicação e, assim como no caso da vacina antitetânica, deveria ser reaplicada a cada 10 anos para garantir, com esse reforço, a imunidade contra a doença", explica o pediatra.

O ideal é que, após a vacinação dos 5 anos, a cada no máximo 10 anos essa vacinação fosse repetida. Mas, para jovens e adultos, por enquanto, essa vacina está só nas clínicas particulares (perto de R$ 100). O pediatra faz um alerta até para a vacinação à clásse médica. "O pessoal que trabalha na área de saúde deveria sempre se vacinar. Nós somos também foco de transmissão por atendermos crianças e adultos doentes", ressalta Moises.

As mulheres devem ser vacinadas, se possível, antes de engravidarem. Mas mesmo as grávidas podem ser vacinadas no pré-natal. As vacinas que têm vírus mortos ou bactérias mortas podem ser aplicadas nas gestantes (H1N1, hepatites A e B, por exemplo). Entre as que a gestante não pode receber estão as de sarampo, caxumba, catapora, rubéola, febre amarela, BCG que, por possuírem na sua preparação componentes vivos e que simulam a infecção no organismo, podem atingir o feto.

Rede Pública

"A coqueluche é uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional e sua investigação laboratorial é obrigatória nos surtos e mesmo em casos isolados, quando diagnosticados com certeza", afirma. Isso quer dizer que deve-se contatar o Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública locais com o objetivo de notificar o caso e iniciar busca de contactantes, ou seja, outras pessoas que possam ter sido contagiadas.

Normalmente, pela gravidade do quadro em crianças abaixo de 1 ano de idade, o médico pode optar pela internação, o que torna mais controláveis as possíveis complicações. "São considerados suspeitos e merecem pesquisa todos os que, independente da idade, apresentem tosse seca por um período de 14 dias, que pode ser de difícil controle, súbita, com dez a 20 episódios de tosse curta em uma única respirada, um guincho ou vômito após essa tosse ou que tenha tido contato com um caso confirmado de coqueluche", assegura Moises.


Essa matéria foi publicada no site Tempo de Mulher (21/10/2011).

Dr. Moises Chencinski - CRM-SP 36.349 - PEDIATRIA - RQE Nº 37546 / HOMEOPATIA - RQE Nº 37545